18/04/2023 - 21:17
Por Helen Coster e Jack Queen
WILMINGTON, Delaware (Reuters) – A Fox Corp e a Fox News fecharam nesta terça-feira um acordo para encerrar um processo de difamação movido pela empresa Dominion Voting Systems por 787,5 milhões de dólares, evitando um julgamento de alta visibilidade que colocaria uma das principais empresas de mídia do mundo na berlinda em relação a sua cobertura sobre as falsas alegações de fraude eleitoral nas eleições norte-americanas de 2020.
O acordo foi anunciado pelos dois lados e pelo juiz do caso, com um júri selecionado poucas horas antes no Estado de Delaware e o julgamento marcado para começar com as declarações iniciais. A Dominion havia solicitado 1,6 bilhão de dólares em indenizações no processo aberto em 2021.
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O CEO da Dominion, John Poulos, chamou o acordo de “histórico”.
“A Fox admitiu ter contado mentiras sobre a Dominion que causaram enormes danos à minha empresa, aos nossos funcionários e clientes”, disse Poulos em um comunicado. “Nada pode compensar isso. Ao longo deste processo, buscamos responsabilização e acreditamos que as evidências trazidas à luz neste caso ressaltam as consequências de espalhar e endossar mentiras.”
O que estava em questão no processo era se a Fox era passível de culpa por divulgar as falsas alegações de que as máquinas de contagem de votos da Dominion, empresa sediada na cidade de Denver, teriam sido usadas para manipular a eleição de 2020 nos EUA em favor do democrata Joe Biden sobre o então presidente republicano Donald Trump. A Dominion argumentou que essas alegações levadas ao ar causaram à empresa “danos econômicos enormes e irreparáveis”.
“Reconhecemos as decisões do tribunal que consideram falsas certas alegações sobre a Dominion. Este acordo reflete o compromisso contínuo da Fox com os mais altos padrões jornalísticos. Esperamos que nossa decisão de resolver esta disputa com a Dominion amigavelmente, em vez da amargura de um julgamento divisivo, permita que o país avance com essas questões”, disse a Fox em um comunicado lido no ar pela Fox News.
As ações da Fox Corp fecharam ligeiramente em alta a 34 dólares por ação, mas caíram 1% nas negociações após o fechamento do pregão, depois da divulgação do valor do acordo. A Fox tem muito dinheiro em mãos para pagar pelo acordo. Ela comprometeu outros 3 bilhões de dólares para recomprar ações no primeiro trimestre, depois que suas receitas superaram as estimativas. O CEO da Fox Corp, Lachlan Murdoch, disse a analistas de Wall Street em fevereiro que a empresa tinha cerca de 4 bilhões de dólares em caixa.
Os advogados do Dominion se recusaram a responder a perguntas sobre se a Fox News faria um pedido de desculpas público ou se faria reformas.
A Fox News é a emissora de notícias a cabo mais assistida dos Estados Unidos, de acordo com a Nielsen.
“Reportar a verdade na mídia é essencial para a nossa democracia”, disse Poulos, da Dominion.
O juiz da Corte Superior de Delaware, Eric Davis, que preside o caso em Wilmington, ordenou um adiamento do julgamento por um dia na segunda-feira, antes de outro adiamento na terça-feira, enquanto os dois lados fechavam um acordo em particular.
O acordo poupou a Fox do perigo de ter algumas de suas figuras mais conhecidas chamadas para testemunhar e submetidas a questionamentos potencialmente devastadores, incluindo executivos como Rupert Murdoch, o magnata de mídia de 92 anos que atua como presidente da Fox Corp, e a CEO da Fox, Suzanne Scott, assim como apresentadores famosos como Tucker Carlson, Sean Hannity e Jeanine Pirro.
A questão principal para os jurados era se a Fox espalhou informações falsas conscientemente ou se desconsiderou a verdade de forma imprudente, um padrão de “má-fé” que a Dominion precisaria mostrar para prevalecer em um caso de difamação.
Em documentos judiciais de fevereiro, a Dominion citou uma série de comunicações internas nas quais Murdoch e outras figuras da Fox reconheceram em privado que as alegações de fraude eleitoral feitas sobre a Dominion no ar eram falsas.
A Dominion disse que a Fox ampliou as alegações falsas para aumentar sua audiência e impedir que seus telespectadores migrassem para outros concorrentes de mídia à direita, incluindo a One America News Network, que a Dominion está processando separadamente.
(Reportagem de Helen Coster em Wilmington e Jack Queen em Nova York)