Com a suspensão da operação da ITA, menos de seis meses depois de começar a voar, mais uma tentativa de o mercado brasileiro sair da dependência da “tríade” Latam, Gol e Azul não decolou. Ela não foi a primeira a testar essa barreira: vale lembrar que, no ano passado, a Avianca Brasil foi à falência – os bens da companhia foram a leilão há alguns meses.

Segundo o economista Juan Ferres, especializado em regulação, o problema do mercado brasileiro não é, necessariamente, de concentração. Segundo ele, o problema são os altos custos de operação. “O sistema brasileiro funciona, mas é muito mais caro do que no resto do mundo, é ineficiente, é custoso”, diz Ferres.

A concentração em três companhias, como no Brasil, não é incomum em outros países, pois o segmento exige capital intensivo, o que implica mais riscos. Só que o Brasil, em especial, traz mais dificuldades a quem quiser se estabelecer. Cerca de 50% dos custos de uma companhia aérea são atrelados ao dólar, cuja cotação explodiu por aqui.

Paralelamente, o País tem o combustível mais caro do mundo, uma das tributações mais complexas e altas do planeta, além de ser marcado por um índice enorme de judicialização. “O Brasil não tem um mercado mais concentrado do que o resto do mundo. Há três grandes companhias aéreas no País. Poderia ter mais? Certamente, sim. Mas, no mundo, quando se olha por rotas e aeroportos, há concentração, faz parte do negócio”, ressalta Ferres.

Dificuldades

E foi nesse mercado complexo que chegou a ITA, inexperiente no setor. A empresa não tinha um diferencial, um modelo de negócio competitivo em relação às outras. Por exemplo, a Gol chegou ao mercado com a estratégia do “low cost” (baixo custo), e a Azul entrou para explorar determinadas rotas com aeronaves menores, lembra André Castellini, sócio da Bain & Company.

A ITA iniciou suas operações no meio da pandemia, e logo após uma acirrada disputa entre Azul, Latam e Gol pelo “espólio” da Avianca. A aérea de origem colombiana tinha musculatura para operar no mercado nacional, mas, segundo analistas, errou ao entrar no mercado internacional, onde a concorrência é agressiva.

“A ITA chegou sem explorar um nicho de mercado ou algum diferencial do ponto de vista de racionalidade econômica”, avalia Felipe Bonsenso, sócio da Bonsenso Advogados e especializado em aviação. Segundo ele, havia um diferencial focado no passageiro, como gratuidade para despacho de bagagem, indo na contramão do que a aviação é hoje, cobrando tudo separadamente, justamente para fazer frente aos custos.

“É um cara novo no mercado, num momento desafiador, e está apanhando. O que tem de fazer é botar muito mais capital se quiser manter essa operação. Não se tem uma consolidação num setor como este em apenas três meses”, afirma Ferres. “Aviação é para quem tem fôlego e tem porte.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.