29/01/2016 - 12:21
A França, a Agence France-Presse,o jornal Le Monde e a organização Repórteres Sem Fronteiras exigiram nesta sexta-feira que as autoridades do Burundi libertem os jornalistas francês Jean-Philippe Rémy e britânico Philip Moore, detidos no dia anterior em Bujumbura.
“Recebemos com preocupação a notícia da prisão” dos dois jornalistas. “Exorto as autoridades do Burundi a proceder com sua libertação imediata. Iniciativas diplomáticas estão em curso”, declarou em um breve comunicado o chefe da diplomacia francesa, Laurent Fabius.
“Estamos extremamente preocupados com a detenção dos jornalistas” no Burundi, afirmou, por sua vez, uma porta-voz da União Europeia para as Relações Exteriores, Catherine Ray.
A delegação da UE em Bujumbura “está acompanhando o caso com o embaixador da França e já tratou do assunto como uma uma questão urgente com o ministro das Relações Exteriores do Burundi”, acrescentou.
O jornal Le Monde também pediu nesta sexta-feira a libertação de seus dois enviados especiais para o Burundi, Jean-Philippe Rémy, de 49 anos, e Philip Edward Moore, um fotógrafo de 34 anos.
“De acordo com nossas informações, eles foram presos em Bujumbura, na tarde de quinta-feira pelos serviços de segurança do Burundi quando se encontravam com opositores”, informa Le Monde em seu site.
“Phil Moore e Jean-Philippe Rémy foram presos quando exerciam sua missão de informar”, declarou o CEO da AFP, Emmanuel Hoog.
“Eles devem ser libertados o quanto antes. Este novo incidente grave, após o vivenciado pelo nosso correspondente Esdras Ndikumana, testemunha a extrema dificuldade de informar sobre a situação no Burundi”, acrescentou.
Os jornalista foram detidos na quinta-feira em Bujumbura, capital do Burundi, “na companhia de 15 criminosos armados”, anunciaram as autoridades do país africano.
“Na quinta-feira, a polícia recebeu informações sobre uma reunião de criminosos em uma casa de Nyakabiga, bairro no centro da capital”, disse o porta-voz oficial.
“Ao chegar ao local, o grupo fugiu. A polícia os perseguiu e deteve cinco: quatro burundineses armados com duas pistolas e um britânico”.
“A polícia ficou surpresa ao ver um jornalista, autorizado a trabalhar no Burundi e que, portanto, não tinha nada a temer, correr e fugir”, completou, em referência a Moore.
Rémy foi detido pouco depois, quando compareceu à delegacia para obter notícias do colega.
“Estão sendo interrogados. No momento não foram indiciados, continuamos na etapa dos interrogatórios. Se não encontrarmos nada contra eles, serão liberados”, disse, antes de garantir que ambos estão sendo bem tratados.
Os jornalistas estão detidos em um local secreto.
Durante a operação, a polícia apreendeu um morteiro, um fuzil kalashnikov e pistolas, segundo um comunicado oficial
Burundi enfrenta um cenário de violência desde a repressão brutal em abril de 2015 das manifestações contra um terceiro mandato do presidente Pierre Nkurunziza, reeleito em julho, em uma votação boicotada pela oposição.
Desde então, as manifestações, um golpe de Estado frustrado e uma rebelião armada deixaram mais de 400 mortos e obrigaram 230.000 pessoas a fugir para o exílio, segundo a ONU. Analistas temem a propagação da violência aos países vizinhos e um novo massacre étnico entre hutus e tutsis.
Vários meios de comunicação independentes fecharam e os jornalistas vítimas de ameaças ou ataques que não fugiram do país vivem na clandestinidade.
O correspondente da AFP e da rádio RFI no Burundi, Esdras Ndikumana, de 54 anos, se viu obrigado a obter refúgio no Quênia em agosto, depois de ter sido detido em Bujumbura e torturado pelo serviço de inteligência.
Jean-Philippe Rémy trabalha na África desde 1998, primeiro com Nairóbi como base e depois em Johannesburgo, a partir de 2009. Recebeu em 2013 o prestigioso Prêmio Bayeux para correspondentes de guerra por uma reportagem sobre a Síria.
Phil Moore já fez diversas reportagens em todo o continente africano, mas também no Paquistão e na Bolívia.