27/11/2025 - 18:10
Soldados voluntários poderão chegar a 50 mil em 2035, diz presidente. Chefe do Estado-Maior causou polêmica ao sugerir que país deverá “aceitar perder filhos” para Rússia.O presidente da França , Emmanuel Macron, anunciou nesta quinta-feira (27/11) a criação de um serviço militar voluntário de 10 meses, a partir do próximo verão no hemisfério norte, para jovens entre 18 e 19 anos que atuarão apenas em missões no território nacional.
Num primeiro momento, três mil membros serão incorporados. O número deverá subir para 10 mil em 2030 e poderá chegar a 50 mil em 2035, afirmou o chefe de Estado em um discurso no quartel de Varces, nos Alpes franceses.
O crescimento dependerá do nível de ameaça a que o país estiver sujeito na próxima década, segundo ele. O serviço militar não é obrigatório na França.
“A juventude aspira à liberdade e tem sede de compromisso”, declarou Macron, argumentando que a decisão integra um movimento regional mais amplo em direção à militarização. “Num momento em que todos os nossos aliados europeus avançam diante de uma ameaça que paira sobre todos nós, a França não pode permanecer imóvel.”
Polêmica sobre “perder filhos”
O presidente não citou inimigo específico, limitando-se a dizer que a nação deve estar “preparada” e ser “respeitada”. O chefe do Estado-Maior do Exército, Fabien Mandon, gerou controvérsia nos últimos dias ao afirmar que, diante da ameaça da Rússia, a França precisava estar disposta a “aceitar perder seus filhos”.
O fato de os soldados voluntários servirem apenas em solo francês é interpretado como uma sinalização contrária ao desconforto provocado pela declaração de Mandon.
Segundo o presidente, o Exército francês escolherá futuros recrutas entre os voluntários mais motivados e que melhor atendam às necessidades da corporação.
Dos dez meses totais do serviço militar, o primeiro mês será de formação geral, no qual aprenderão os rudimentos militares, a marchar e o manejo básico de armas.
Nos nove meses seguintes, eles estarão em uma unidade militar, onde compartilharão a vida e as atividades com o restante dos militares profissionais — com a única exceção de que não serão enviados para missões no exterior.
Os voluntários receberão um salário cujo valor Macron não detalhou. Existem relatos, entretanto, de que o pagamento deverá girar em torno de 1 mil euros por mês (R$ 6,2 mil) — ou seja, menos do que o salário-mínimo atual na França, que é de aproximados 1,8 mil euros para um trabalho de período integral.
Fortalecimento da reserva
O programa terá um custo estimado de mais de 2 bilhões de euros, financiados graças ao aumento dos recursos do Ministério da Defesa previsto na lei de programação militar de 2026 a 2030. Entre 2017 e 2027, o orçamento de Defesa será duplicado na França, passando de 32 bilhões para 64 bilhões de euros.
O presidente descartou, entretanto, o retorno do serviço militar obrigatório — abolido na França em 1996, após o fim da Guerra Fria —, afirmando que a medida “não corresponde às necessidades do nosso Exército nem às ameaças atuais”.
No entanto, deixou aberta a possibilidade de obrigar uma geração inteira de jovens a ingressar nas Forças Armadas caso o Parlamento assim decida “em uma situação excepcional”.
Depois que os jovens voluntários concluírem o serviço militar temporário, poderão retomar seus estudos ou iniciar a vida profissional. Os que não entrarem profissionalmente no Exército integrarão a reserva.
Um dos objetivos do presidente é justamente fortalecer a reserva, que atualmente conta com cerca de 45 mil pessoas, e deve chegar a 80 mil em 2030. Dessa forma, a França pretende constituir “um modelo híbrido” de Exército, que, segundo Macron, é o modelo a ser priorizado diante de “um mundo incerto”.
Neste mês, os partidos da coalizão governista da Alemanha chegaram a um acordo para estabelecer um novo processo de serviço militar que exige alistamento militar obrigatório a todos os homens com mais de 18 anos.
ht/ra (EFE, AFP)