21/09/2011 - 21:00
Em 2007, as perspectivas eram as piores possíveis para a comissária de bordo Un Ae Hong. Ela se viu sem emprego quando a Varig quebrou. Em busca de um plano B, ela lembrou-se de um produto que conheceu na Califórnia, onde havia passado algum tempo: o frozen yogurt. Se ele fazia sucesso em Miami, com certeza, seria bemrecebido nas areias cariocas. O que ela não poderia imaginar ao abrir a primeira loja da Yogoberry em Ipanema, ao lado da irmã Jong e do primo Marcelo Bae, era que, menos de cinco anos depois, a rede teria mais de 100 lojas pelo País. “Abrimos nossa segunda loja em 2008 e aí começaram a aparecer pessoas interessadas em ter uma loja como a nossa”, diz Bae. Em 2009, os sócios deixaram de ser apenas empresários e tornaram-se franqueadores.
Como eles, cada vez mais empreendedores têm acelerado a expansão de seus negócios transformando-os em franquias. No fim de 2010, 1.855 empresas brasileiras haviam captado fran-queados, 212 mais que em 2009. No ano passado, a indústria de franquias faturou R$ 76 bilhões no Brasil, alta de 20% ante 2009. Para 2011, a expectativa é a de que esse crescimento seja da ordem de 15%.“Há setores pouco explorados que podem impulsionar esse crescimento”, diz o consultor José Castro Schwartz, diretor da Associação Brasileira de Franchising (ABF). Vale a pena colocar a sua empresa nessa rota? Transformar-se em franqueador tem várias vantagens. Uma delas é que franquear é muito mais barato que criar novas unidades do zero. O caso da Yogoberry evidencia bem isso. A primeira loja em Ipanema custou R$ 500 mil.
“Não tínhamos capital para crescer, por isso, optamos pela franquia”
Carlos Augusto, proprietário da rede de locadoras 100% Vídeo
As novas unidades não custam nada – quem arca com as despesas é o franqueado. “Tranformar-se em franquia é uma maneira de expandir sua empresa usando capital de terceiros”, diz o consultor Marcelo Cherto. Para a Yogoberry, os maiores custos foram com a contratação de uma consultoria para cuidar da papelada. O investimento foi de R$ 70 mil, mas esse gasto não é obrigatório. Os passos necessários para tornar sua empresa uma franquia são poucos e baratos. O primeiro deles é registrar a marca. “O grande negócio de uma franquia é vender a marca”, diz Schwartz. Embora não seja caro, o registro no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) pode demorar até dois anos. O outro ponto obrigatório é a elaboração da “Circular de Oferta de Franquia”, o documento que vai determinar as regras da rede.
O volume de detalhes operacionais a ser cumpridos pelo franqueado é grande, por isso, muitos fran-queadores contratam consultorias. O serviço custa em média R$ 60 mil. Nesse documento, o empreendedor define o que vai oferecer ao franqueado (fundo de publicidade e descontos com fornecedores, por exemplo), e quanto vai cobrar em taxa de franquia e royalties. A média do mercado é que cada franqueado envie 6% do faturamento ao franqueador. O ideal é que o franqueador funcione pelo menos por um ano. “Uma das vantagens da franquia é a segurança oferecida ao franqueado”, diz Cherto. “O empreendedor deve conhecer todas as interferências sazonais antes de franquear uma rede.” O segmento que mais cresce é o de serviços. É o caso dos dentistas Carla Renata Sarni e Cleber Soares, casados e sócios da Sorridents, rede de franquias de consultórios odontológicos.
“Começamos ajudando os amigos até notarmos que tínhamos uma franquia”
Cleber Soares, fundador da Sorridents
A empresa começou como um consultório na zona leste de São Paulo em 1995 e hoje tem 173 unidades, 45 delas próprias. “À medida que íamos crescendo, amigos pediam ajuda para abrir consultórios”, diz Soares. “Fazíamos parcerias e colocávamos nossa marca, até percebermos que na prática estávamos montando uma rede de franquias.” A ideia rendeu um faturamento de R$ 120 milhões em 2010, e as projeções para este ano oscilam entre R$ 160 e R$ 180 milhões. O faturamento médio de cada unidade é de R$ 90 mil por mês. Cada franqueado destina 6% da receita para a Sorridents, o que somou R$ 7,2 milhões em 2010, sem contar a receita das unidades próprias. Outro sistema de franqueamento é a conversão, em que o futuro franqueado monta seu negócio sozinho e, mais tarde, o transforma em uma unidade da franquia.
Esse modelo permitiu a construção da rede de locadoras 100% Vídeo. “Queríamos crescer, mas não tínhamos recursos suficientes, por isso optamos pela conversão dos empresários interessados”, diz Carlos Augusto, proprietário da rede que tem mais de 70 unidades próprias e convertidas.Há algumas dificuldades adicionais para quem quer franquear. Em 2010, o crescimento ficou abaixo das expectativas da ABF. A razão foi a alta dos preços dos imóveis, visto que a escolha do ponto é um dos passos mais importantes na abertura de franquias. O empreendedor tem também de driblar a escassez de mão de obra – a maioria das franquias contrata muita gente. Outra dificuldade é que, ao tornar-se um franqueador, o empresário vai partir em busca de sócios e dependerá cada vez mais do desempenho de terceiros. Mas a ideia de crescer investindo pouco é o maior atrativo. Está pronto para franquear?