DESDE QUE O FRANCHISING ganhou força no País, na década de 80, havia uma espécie de regra não escrita: o franqueado deveria “pôr a barriga no balcão” e se concentrar em apenas um negócio. Agora, surge um novo modelo nesse mercado: o Franqueado S.A. Grupos empresariais estão adquirindo franquias, muitas vezes de redes distintas, e formando conglomerados especializados na gestão desses negócios. O caso mais visível é o da GRSA, subsidiária do Compass, um colosso mundial no fornecimento de refeições. Em 2003, a GRSA comprou uma franquia do Bob’s para instalar no Terminal Rodoviário do Tietê, em São Paulo. A loja bateu recorde de venda e foi o embrião de uma rede de franquias multimarcas. Hoje, são 41 unidades franqueadas de sete marcas, como Bob’s, Casa do Pão de Queijo e Vivenda do Camarão. Em outubro deste ano, esse número chegará a 60, com um faturamento de R$ 44 milhões por ano. As franquias da GRSA espalham-se por terminais rodoviários e aeroportos, cujas praças de alimentação estão sob sua responsabilidade. Trata-se do maior franqueado do País. “As franquias surgiram como a melhor solução para alguns de nossos pontos comerciais. São marcas consagradas, já reconhecidas pelo consumidor”, diz Simone Galante, diretora da GRSA. Os exemplos surgem em várias regiões do País. A RP Alimentos, de Sorocaba (SP), é franqueada da Casa do Pão de Queijo, do Rei do Mate e do Quiosque Chopp Brahma. Em 2007, a Aptus Software House, especializada em sistemas de computação, adquiriu quatro franquias da Prepara Curso, que oferece cursos de informática. “A experiência é positiva, mas colocamos no contrato que eventual mudança societária na Aptus precisará contar com a nossa anuência”, diz Rogério Gabriel, franqueador da Prepara Curso.

Os especialistas não conseguem identificar com clareza o que gerou esse movimento no mercado. Mas arriscam explicações. A consultora Ana Vecchi vê uma reação à concentração entre os franqueadores. Hoje, por exemplo, China in Box, Gendai e Brevitta pertencem ao mesmo grupo, o Kassai, de Robinson Shiba. A Brasil Franchising, comandada por Sergio Milano, abriga marcas como Café Donuts, Livraria Nobel e Sapataria do Futuro, entre outras. Na semana passada, a BFFC, controladora do Bob’s e da KFC, anunciou a incorporação de outra bandeira, a Pizza Hut. “Eles ganharam escala e poder de barganha”, afirma Ana. “É natural que o mesmo ocorra do lado dos franqueados.” Com isso, a relação entre o franqueado e o franqueador toma outras feições. A linguagem utilizada nas conversas entre as duas partes se torna mais homogênea – afinal, são dois grupos empresariais se falando. No caso dos franqueados pessoas físicas, o atendimento é feito, em geral, por consultores da franqueadora. A GRSA, por exemplo, reúne-se diretamente com o diretor de desenvolvimento e franquias do Bob’s, Flávio Maia. O presidente da Casa do Pão de Queijo, Alberto Carneiro Neto, age da mesma forma. “Como são empresas do mesmo ramo, isso nos tranqüiliza”, diz ele. Há outro forte motivo para colocar diversas franquias debaixo do mesmo guardachuva. “Como a rentabilidade é menor numa franquia do que num negócio próprio, por causa da remuneração destinada ao franqueador, ganhamos escala gerindo várias unidades de marcas líderes”, diz o goiano Rodrigo Gobbo. Aos 33 anos, ele se uniu a Marco Antônio Melo de Oliveira, 30 anos, para fundar a MR Comercial de Alimentos, que detém duas franquias Quiosque Chopp Brahma e uma Chopp Brahma Express. “A figura do franqueado corporativo já é uma realidade no Brasil e todas as redes terão que aprender a se relacionar com ele”, diz André Friedhein, diretor da Associação Brasileira de Franchising (ABF). “A perda do parceiro operador da loja é compensada por uma gestão mais sofisticada.”

Esses grupos empresariais também possuem fôlego financeiro maior do que o pequeno empreendedor. Prova disso é que marcas consagradas que desembarcaram recentemente no País já adotaram esse modelo desde o início. A Burger King chegou aqui em 2004 e entregou a empresas o direito de explorar a marca em Estados ou regiões do País. No Estado de São Paulo o franqueado é a BGK do Brasil, dona de 27 unidades. A BGK tem entre os sócios o empresário Luiz Eduardo Batalha e o locutor esportivo da Rede Globo Galvão Bueno. “Como somos uma corporação, utilizamos técnicas modernas de gestão”, diz Guilherme Batalha, sócio da BGK e filho do fundador da empresa. A BGK mantém, por exemplo, um programa de participação nos resultados para os funcionários. “Nesse modelo não há canibalismo nos territórios nem conflito entre unidades franqueadas”, acrescenta ele. “Não temos também problemas de comunicação. Falamos direto com a turma de Miami.” Tudo indica que os franqueados S.A. vieram para ficar.