16/02/2005 - 8:00
Um lote de pedidos para o pagamento de contas atrasadas de telefone, água, luz, serviços de segurança e despesas com diligências no valor total de R$ 23,5 milhões está na mesa do presidente do Ibama, Marcus Barros, em Brasília. Foi emitido pelas gerências executivas do órgão nos Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Espírito Santo e Sergipe, onde há forte demanda por fiscalização contra ações ilegais de desmatamento e queimadas. Essas dívidas poderiam ter sido saldadas com facilidade no ano passado, mas o presidente Barros, quando dispunha de verba suficiente para os pagamentos, preferiu transferir R$ 28 milhões do Ibama para fornir o Programa das Nações Unido Ibama para fornir o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Extratos do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), obtidos com exclusividade pela DINHEIRO, mostram que, a partir do Pnud, o dinheiro foi parar nas mãos de consultorias ligadas a ONGs e funcionários graduados da estrutura do próprio Ibama.
O caso mais aparente é do ex-diretor de Gestão Estratégica do órgão, Leonardo Tinoco. Por trás dele está a Stratégia Consultores. Com sede em Natal, no Rio Grande do Norte, a empresa recebeu do Ibama quase R$ 2 milhões para fazer a reforma organizacional da autarquia. Nos termos do contrato, um ?estudo para aumento de cargos comissionados do Ibama?. No cargo de mando, Tinoco foi o responsável pela indicação da Stratégia. Soube-se, depois, que a consultoria pertence a Aristogiton Moura e a Sílvia Guz, ex-concunhado e irmã da ex-mulher de Tinoco. ?Eu disse que a Stratégia era a única consultoria capaz de realizar o serviço porque se tratava de uma empresa que eu conhecia?, justifica o ex-diretor do Ibama. ?Sei que não poderia indicar, mas o Conselho Gestor disse que achava interessante fechar com ela o mais rápido possível.? Quem pagou a conta? O pagamento à Stratégia foi feito pelo Pnud, com dinheiro do Ibama. Após o caso chegar à comissão de sindicância do Ibama, Tinoco foi afastado do cargo. Ele retruca atacando. Diz que houve represália por ele próprio ter divulgado indícios de superfaturamento num plano de manejo na Amazônia em reservas extrativistas feito pelo Conselho Nacional de Seringueiros ? ONG com a qual o ambientalista Fábio Vaz de Lima, marido da ministra Marina Silva, tem ligações estreitas. No projeto dessa ONG, um plano de manejo de terras no Acre iria custar R$ 819,5 mil. Tinoco sustentou que o preço justo seria R$ 111 mil.
Representantes de ONGs as mais diversas têm, hoje, cargos no setor de meio ambiente do governo. ?Fomos atrás dos melhores quadros e vários deles estavam em ONGs?, justifica Carlos Langone, secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente. Realmente. Há pelo menos nove ongueiros em posições privilegiadas ali. Os mais poderosos são os secretários de Biodiversidade e Florestas, João Paulo Capobianco (ex-dirigente da SOS Mata Atlântica), e o de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável, Gilney Viana (ligado à Coalizão Rios Vivos, que congrega várias ONGs do Pantanal mato-grossense). No Ibama, quase toda a diretoria vem de ONGs. Destacam-se Flávio Montiel, diretor de Proteção Ambiental e ex-dirigente do WWF e do Greenpeace; Cecília Ferraz, diretora de Ecossistemas e membro da Amigos da Terra; e até o diretor de Administração e Finanças, Edmundo Taveira (ONG Mamiraua). Com eles, o Ibama está em dia. Nos Estados, há contas espetadas.