30/10/2002 - 7:00
Não é raro encontrar Carlos Alberto Libânio Christo pilotando o fogão da família Lula da Silva. Filho de uma famosa banqueteira mineira, ele tem talento com as panelas e, principalmente, acesso ilimitado à cozinha do futuro primeiro casal da República, a quem conquistou não pelo estômago, mas pelo coração. Frei Betto, como é conhecido muito além das fronteiras de São Bernardo, conhece como poucos a alma do presidente eleito, de quem é confidente e amigo de todas as horas nos últimos 22 anos. Nesse período, viveu ao lado de Lula alguns dos momentos mais difíceis de sua vida e teve importância fundamental na formação espiritual e política do presidente eleito. No episódio da sua prisão, em 1980, Frei Betto foi uma espécie de anjo da guarda. Ele estava na casa de Lula ? onde morou durante os 31 dias em que o então líder sindical ficou encarcerado no Dops, em São Paulo, para confortar Marisa e as crianças ? no momento em que o então sindicalista foi levado por agentes do Dops. Assim que partiram com Lula, Frei Betto ligou para o cardeal de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, que tratou de avisar a imprensa. Ainda no carro da polícia, Lula ouviu a notícia de sua prisão. ?Foi um grande alívio para ele. Isso tornava mais difícil a possibilidade de sumirem com ele do mapa?, recorda Frei Betto.
Vocação. Com 40 livros escritos, entre eles, Fidel e a Religião (1985), que vendeu mais de três milhões de cópias no Brasil e no exterior, o frade dominicano de 58 anos trafega com desenvoltura nos meios intelectuais e sindicais. Sereno, dono de um humor inteligente e uma das vozes mais progressistas da Igreja Católica, Frei Betto foi ativo militante da Juventude Estudantil Católica no início da década de 60. Festeiro e galanteador, trocou o curso de Jornalismo e as noitadas com os amigos pela Ordem Dominicana e o celibato. Nunca abandonou, no entanto, a vocação política. Por conta dela, também ele amargou quatro anos de prisão, entre 1969 e 1973. O engajamento o levou às portas de fábricas no ABC, onde conheceu Lula no final dos anos 70. E dali, para a cozinha, às dores e alegrias de Lula e Marisa.