23/02/2025 - 15:25
Escanteado por Merkel, atual líder da CDU recuou no palco político durante anos. Agora Merz volta com uma plataforma que prevê retorno à energia nuclear e política de imigração mais dura.O presidente da conservadora União Democrata Cristã (CDU) e líder da bancada parlamentar da CDU/CSU, Friedrich Merz, era o principal adversário do atual chefe de governo da Alemanha nas eleições legislativas antecipadas de 23 de fevereiro. Seu favoritismo nas pesquisas de intenção de voto se confirmou nas urnas.
Tanto ele como o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, são juristas, porém tipos totalmente diversos. Com quase dois metros de altura, Merz chama a atenção já ao subir no palco. Num encontro pessoal, o conservador de 69 anos parece acessível e até bem-humorado. Porém ao se inclinar para o interlocutor, como costuma acontecer, a impressão é menos positiva.
No fundo, ele teve duas vidas políticas: uma antes de Angela Merkel e outra depois. Quando a política crescida na República Democrática Alemã (RDA), sob regime comunista, assumiu em 2002 a liderança da bancada cristã e, três anos depois, a Chancelaria Federal, Merz, bem mais conservador, se retraiu, mantendo-se longe da política durante anos, para voltar a se dedicar às atividades jurídicas.
Um pé na política, outro na economia
O católico Merz é natural da Sauerland, uma região montanhosa no oeste alemão, e até hoje vive não muito longe de seu local de nascença. Em 1989, aos 33 anos, entrou para o Parlamento Europeu como representante da CDU, cinco anos mais tarde passou para o Bundestag (câmara baixa do parlamento alemão). Orador ágil e incisivo, ele logo se destacou: o que ele dizia, tinha peso na bancada.
Sua escalada na política se traduziu numa ascensão no livre comércio. De 2005, Merz integrou um consultório de advocacia internacional e assumiu postos altos em conselhos de empresa e administrativos. De 2016 a 2020, foi presidente do conselho na Alemanha da maior companhia de investimentos do mundo, a Blackrock.
Após o anúncio de Merkel de que se aposentaria da política em 2021, Merz retornou e foi gradualmente ganhando terreno. Em 2022, após duas tentativas fracassadas, foi eleito líder partidário da CDU, sustentado por uma reputação de representante econômico-liberal da ala mais conservadora do partido.
Já na década de 1990, ele votara no Bundestag contra a liberalização da lei do aborto e o diagnóstico genético pré-implantação, usado na reprodução medicamente assistida. Em 1997, opôs-se à lei que tornava o estupro no casamento passível de pena, como qualquer outra forma de violência sexual.
Por uma CDU muito mais conservadora
Como deputado, Merz foi sempre a favor da energia nuclear, pressionando por uma política econômica mais liberal e pela redução da burocracia. Quase 25 atrás, condenava os efeitos da política de migração, falava de “problemas com estrangeiros” e defendia uma “cultura condutora” (Leitkultur).
Alguns desses pontos temáticos, ele está trazendo de volta, dentro de um outro contexto político e social. Num programa da TV ZDF, no começo de 2023, criticou a má integração na sociedade alemã.
“Gente que, na verdade, não tem nada a ver com a Alemanha, que há muito tempo nós toleramos, que não repatriamos, não deportamos, e depois nos espantamos que tenha tais excessos aqui.” Um exemplo seriam os pais (estrangeiros) que recusariam aos professores – e sobretudo às professoras – qualquer autoridade sobre cujas crianças, as quais seriam, no fim das contas, verdadeiros “paxazinhos”.
Não se escutam mais objeções a esse tipo de assertiva partindo da liderança ou da bancada parlamentar da CDU: após a despedida de Merkel, foram-se muitos dos seus seguidores que defendiam um curso mais progressista. Quem oferece resistência é antes Markus Söder, líder do partido irmão União Social Cristã (CSU), da Baviera, que algumas vezes forçou Merz a se retratar publicamente.
Tais reveses não impedem o candidato a chanceler federal de gabar-se de que a sua bancada parlamentar teria, em grande parte, redefinido o curso da política alemã. Além disso, o mesmo processo teria ocorrido paralelamente no âmbito interno, afirma, graças à nova plataforma política do partido.
No geral, Merz representa uma CDU bem mais conservadora. Ele cogita o retorno da energia nuclear e exige uma política migratória mais restritiva. E uma coalizão ampla – como a recém-dissolvida, entre os partidos Social-Democrata (SPD), Verde e Liberal Democrático (FDP) – ele descarta como “fracassada desde o início, devido à falta de bases comuns para uma aliança governamental”.