Na cidade turca de Gaziantep, atingida pelo terremoto, as temperaturas caíram para -5 ºC na manhã desta quinta-feira (9). Apesar do frio, milhares de famílias, que perderam suas casas, não podem retornar a elas ou, temendo novas réplicas, vivem em veículos ou barracas improvisadas.

Para mitigar o frio nas barracas, os pais caminham com os filhos nos braços e cobertos com mantas pelas ruas desta cidade do sudeste, perto do epicentro do terremoto de segunda-feira (6), que causou mais de 17.500 mortes na Turquia e na Síria.

“Quando nos sentamos, dói. Me assusta pensar nas pessoas presas sob os escombros”, diz Melek Halici, enquanto segura sua filha de dois anos nos braços e observa as equipes de resgate trabalharem durante a noite.

“Vamos acabar indo para a barraca, mas eu não quero”, acrescenta a mulher. “Não aguento o frio, mas aguento mais do que a ideia de voltar para o nosso apartamento”, explica.

As autoridades da cidade proibiram milhares de moradores de voltarem para suas casas, ainda consideradas muito perigosas pelos tremores secundários que abalam diariamente a região.

– “Não podemos voltar para casa” –

Ao redor da família Halici, a fumaça de dezenas de fogueiras preenche o ar noturno. Supermercados e outros comércios entregam paletes de madeira para as famílias queimarem.

Entre os sobreviventes, alguns se refugiaram nas casas de vizinhos ou parentes. Outros deixaram a região. Mas muitos não têm para onde ir.

Academias, mesquitas, escolas e outros estabelecimentos os recebem à noite. Porém, há poucas camas e milhares de pessoas passam as noites enfiadas dentro de carros, com o motor ligado para dar um pouco mais de calor.

“Não tenho escolha”, admite Suleyman Yanik, sentado em seu carro ao lado de uma criança que brinca com o volante. Sua esposa e o outro filho dormem no banco de trás.

“O cheiro é terrível, mas não podemos ir para casa”, afirma.

Burhan Cagdas dorme em seu carro desde segunda-feira porque sua família não está “psicologicamente” preparada para voltar para casa.

Quantas noites mais passarão assim? Este gerente de restaurante ainda não sabe, mas acha que a família não vai aguentar muito.

Muitos reclamam da gestão das tarefas de resgate por parte do governo.

Em visita à região na quarta-feira, o presidente Recep Tayyip Erdogan admitiu “deficiências”, mas insistiu que “é impossível estar preparado” para uma catástrofe dessa magnitude.

– “Nossos filhos estão congelados” –

Perto de um castelo do século VI, muito danificado pelo terremoto, famílias desamparadas denunciam que as autoridades não fizeram nada por elas.

Abrigos improvisados foram construídos com lonas e madeiras fornecidas por terceiros. “Elas poderiam pelo menos ter nos dado barracas”, lamenta Ahmet Huseyin, de 40 anos.

“Nossos filhos estão congelados”, acrescenta este pai de cinco crianças. “Tivemos que queimar os bancos do parque e até algumas roupas das crianças. Não havia mais nada”, diz ele.

Para Emel Osman, um jovem de 14 anos cuja família fugiu da Síria para a Turquia há sete anos, as autoridades deveriam ter montado barracas, “pelo menos para as crianças”.

Embora as pedras do castelo ameacem cair sobre seus abrigos, as famílias dizem que não têm escolha, porque não possuem um carro ou outro abrigo para recorrer.