04/12/2024 - 15:12
Investidores estrangeiros retiraram R$ 25,9 bilhões da bolsa de valores brasileira em 2024. Os dados foram reunidos em um levantamento da consultoria Elos Ayta, que aponta esta como a maior fuga de capital desde pelo menos 2016, ano em que a B3 começa a disponibilizar os dados consolidados utilizados no estudo.
Segundo o levantamento, o saldo negativo de investimentos estrangeiros no país — ou seja, a retirada de capital maior do que entrada — só foi registrado anteriormente em dois anos antes de 2024: em 2019, com R$ 6,5 bilhões negativos, e em 2018, com R$ 4,83 bilhões.
Confira os dados no gráfico abaixo:
“Investidores estrangeiros têm um papel crucial na B3, não só pela liquidez que oferecem, mas também como um termômetro de confiança no país”, explica Einar Rivero, CEO da Elos Ayta e responsável pelo estudo. “Quando o dinheiro internacional começa a sair, o sinal é claro: há mais dúvidas do que certezas no horizonte.”
O maior saldo negativo em 2024 foi registrado no mês de abril, quando estrangeiros retiraram R$ 11,1 bilhões da B3. No ano, os únicos meses com saldo positivo foram julho e agosto, conforme demonstra o gráfico a seguir:
Quais os impactos?
Einar Rivero explica que a retirada de recursos estrangeiros está diretamente associada à alta do câmbio. “Com menos dólares no mercado, o real se enfraquece, encarecendo importações e gerando um efeito cascata na inflação”, diz.
Outro impacto diz respeito ao próprio Ibovespa, índice que mede o desempenho das ações mais negociadas na bolsa de valores brasileira. “Saídas consecutivas criam um ciclo de pressão de venda que afeta os principais papéis do índice, comprometendo o desempenho do mercado como um todo”, explica Rivero.
“No final das contas, a B3 reflete, de forma brutal e direta, o que o capital pensa do país. E o saldo de 2024, até agora, não deixa margem para interpretações otimistas”, conclui.
Por que a funda de capital está acontecendo?
Head de renda variável da Faz Capital, Alexandre Pletes aponta dois fatores como responsáveis pela fuga de capital: os riscos fiscais avistados pelo investidor no Brasil e, em paralelo, a alta dos juros pagos pelos títulos de renda fixa nos Estados Unidos.
Pletes afirma que a situação fiscal “tem pesado no nosso juros e automaticamente na fuga de capital estrangeiro pelos riscos aumentados de não pagamento da dívida”. O especialista destaca que o pacote anunciado pelo governo em novembro causou uma sensação para os investidores de pouca “proatividade” para resolver a questão.
Já sobre os altos juros nos Estados Unidos, Pletes explica que as “Treasuries” — os títulos de dívida dos Estados Unidos — são vistas como “referência de ativo livre de risco”. Assim, quando elas remuneram um juros maior, aumenta sua atratividade para os investidores. “A curva de juros lá subiu, automaticamente os títulos pagando melhor por lá contribuíram que a gente tivesse essa fuga também do capital.”