Conhecido pelas estratégias de sucesso que lhe renderam um patrimônio de mais de US$ 24 bilhões, o megainvestidor George Soros cometeu um erro ao longo do terceiro trimestre de 2014. De olho em uma pechincha, o magnata de 84 anos, nascido em Budapeste e naturalizado americano, comprou grandes quantidades de American Depositary Receipts (ADR, na sigla em inglês) da Petrobras. No momento de maior exposição, ele chegou a ter cinco milhões de ADRs. No entanto, as quedas nas cotações provocadas pela Operação Lava Jato e pela reeleição da presidente Dilma Rousseff fizeram Soros desfazer-se de sua posição com a mesma rapidez com que encontra uma pechincha.

Nos três meses seguintes, ele vendeu 60% dos ADRs que havia comprado e encerrou o ano com dois milhões de ADRs, segundo um documento enviado por sua empresa de gestão à Securities and Exchange Commission (SEC), na quarta-feira 18. Ele não foi o único a vender. Gestores brasileiros de 66 fundos de ações livres, que juntos somam um patrimônio líquido de R$ 17,23 bilhões, também reduziram sua exposição na estatal e atualmente detêm fatia menor do que há 12 meses. Um levantamento da empresa de inteligência financeira Risk Office, de São Paulo, realizado com exclusividade para a DINHEIRO mostra que os gestores estão bastante pessimistas com as ações de empresas estatais neste início de 2015, em linha com o sentimento do fim de 2014.

Com a escalada da candidatura do tucano Aécio Neves à presidência da República, a partir do segundo semestre, os fundos ampliaram a exposição à Petrobras, principalmente a partir de agosto. “Foi uma alta de 800%, motivada pelo que se convencionou chamar de kit eleição”, diz economista Alberto Jacobsen, presidente da Risk Office. Porém, como o resultado nas urnas decepcionou o mercado, os gestores venderam as ações. “O resultado de se ter um governo intervencionista é que o mercado passa a operar também as expectativas governamentais”, diz ele.

Com o dinheiro fluindo para fora do pregão, os especialistas indicam que o melhor para o pequeno investidor é não tentar nadar contra a maré. Tanto é que, na semana passada, analistas do Credit Suisse alteraram a recomendação para os ADRs da Petrobras de manutenção para venda, em relatório distribuído a clientes. Entre os motivos estão a forte oscilação diária, as incertezas sobre o preço do petróleo e do dólar, além da possível suspensão do pagamento de dividendos devido à Operação Lava Jato. O banco também reduziu o preço alvo dos ADRs de US$ 7,30 para US$ 5.

Na quarta-feira 18, os recibos de ações encerraram o pregão em Nova York a US$ 6,97. As ações da Petrobras não foram as únicas a sair do portfólio dos fundos. Em fevereiro de 2014, muitos gestores apostaram nas estatais elétricas devido aos rumores de reajuste nas tarifas de energia. Porém, quando o aumento não se confirmou, as vendas foram pesadas. E quem não tem ainda não deve comprar, dizem os analistas. Segundo Lucas Marins, da Ativa Investimentos, o investidor deve esperar, pois o racionamento pode causar impactos imprevisíveis nos resultados das empresas.

Para Martins, o problema vai além da esfera de influência de São Pedro. “O cenário ruim não decorre apenas da falta de chuva, mas também da decisão do governo de cortar os preços da energia, em 2014, em vez de estimular a redução do consumo”, diz. Além disso, há questões pontuais de cada empresa. No caso da Cemig, há dúvidas sobre os novos rumos da estatal mineira, devido à vitória do PT nas eleições estaduais, após 12 anos do PSDB. A paulista Cesp, por sua vez, vive um imbróglio por conta da concessão de suas usinas. No caso da Eletrobras, o mercado vem especulando há tempos se ela terá ou não de vender algumas de suas seis distribuidoras de energia para fazer caixa.

Além das elétricas, uma estatal que foi colocada para escanteio pelos fundos de ações livres é o Banco do Brasil. O motivo, segundo Jacobsen, não são os números apresentados em 2014. Ao contrário. “A aversão começou quando o governo passou a usar o banco como fomentador de crédito e, conseqüentemente, da economia”, afirma. No ano até quinta-feira 19, as ações ordinárias do BB subiram 2,4% para R$ 24,35. Já o Ibovespa avançou 2,6%. Com tantos contratempos na bolsa brasileira, tem sido difícil para os fundos de ações livres conseguirem uma boa rentabilidade para seus cotistas. 

O levantamento da Risk Office mostra que, na média, o retorno dos 66 fundos analisados foi negativo em 6,48%, em janeiro, enquanto o principal índice da BM&FBovespa recuou 6,20%. Já em 12 meses os prognósticos foram melhores. Os fundos rendem 0,13% ante uma queda de 1,53% do Ibovespa. Isso, no entanto, não foi suficiente para deixar os investidores animados. O patrimônio líquido dos fundos é o menor desde janeiro de 2013, tanto pelos resgates quanto pela desvalorização dos papéis. Por isso, o investidor que quiser trafegar na contramão do mercado, a fim de encontrar uma boa oportunidade de investimento, deve ter cuidado. É bom lembrar que, do outro lado do balcão, existem muitos bilhões de dólares jogando contra as estatais.