O mercado de chips para inteligência artificial (IA) generativa, como é o caso das Unidades de Processamento Gráfico (GPUs), deve movimentar volume superior a US$ 50 bilhões em 2024, representando 11% do mercado geral de chips. Há dois anos esse percentual era quase traço. Os valores, levantados pela Deloitte, sugerem um cenário animador, mas há um potencial obstáculo: a escassez de chips. Remando contra o fluxo, a Fujitsu, gigante japonesa com valor de mercado de US$ 29 bilhões, acaba de anunciar o desenvolvimento de tecnologia para otimizar o uso de CPUs e GPUs.

A solução tem como principal objetivo responder à alta demanda de GPUs para rodar tecnologias em evidência, como é o caso da IA generativa e do deep learning. “Hoje, temos visto prazos de entrega mais alargados e pressões sobre preços, sinais que mostram que a escassez já é uma realidade”, disse Alex Takaoka, Head of Customer Engagement da Fujitsu do Brasil.

50 bilhões de dólares
é o valor que deve ser movimentado pelos chips para ia
em 2024

Segundo o executivo, a solução, baseada em software e já em fase de testes, consegue distinguir entre programas que requerem uma GPU e aqueles que podem ser processados por uma CPU, mesmo quando vários programas estão rodando simultaneamente. Com isso, permite que aplicações que exigem desempenho em tempo real para gêmeos digitais, IA generativa e descoberta de materiais e medicamentos sejam executadas mais rapidamente.

Outro benefício, segundo Takaoka, é a redução de custos. “Quando você consegue processar mais carga com a mesma infraestrutura, o treinamento se torna mais leve e mais barato”, disse ele.

O efeito sob o custo, na opinião do executivo, é o meio ideal para disseminar o uso da tecnologia. Vislumbrando possíveis cenários, Takaoka cita o surgimento de modelos de linguagem natural cada vez maiores e processos de análise de vídeo com cada vez mais receptividade em tempo real. “Além da disseminação, estamos falando de democratização.”

No estágio atual, os principais desafios técnicos estão relacionados a incorporação da tecnologia em uma plataforma multiaplicações. “Nós sabemos que a IA está sendo desenvolvida em diversos braços. Para dar certo, deve haver uma grande compatibilidade para proporcionar larga escala de adoção.”

Quando se trata dos desafios comerciais, o executivo diz que eles podem surgir à medida que a tecnologia começar a ser integrada nos modelos já existentes. Isso implica em estruturar plataformas que já incorporam tecnologias avançadas, como computação quântica e computação de alto desempenho, juntamente dos modelos de treinamento de IA como serviço.

Embora essas plataformas já estejam disponíveis em locais como o Japão, expandi-las para outras regiões, como as Américas, Europa e especialmente América Latina, onde a base de desenvolvimento tecnológico ainda não é tão robusta, é considerado um obstáculo adicional. “Democratizar o acesso também inclui pensar em como a gente consegue criar polos para que todas as regiões possam fazer uso”.

(Divulgação)

“Os alargamentos de prazo de entrega e as pressòes sobre os preços sào sinais de que a escassez de chips para IA já é uma realidade.”
Alex Takaoka Head of Consumer Engagement da Fujitsu no Brasil

ESCASSEZ

Esse pensamento de sempre ganhar escala é próprio do DNA da companhia. Das fazendas com irrigação por drones às fábricas que dispensam a colaboração de funcionários humanos, o emprego da tecnologia no Japão quase sempre tem um objetivo: contornar a escassez de recursos naturais no país.

Segundo Takaoka, a empresa seguirá as diretrizes estabelecidas pelo governo japonês em relação ao controle de exportação e distribuição tecnológica.

Contudo, a expectativa é que a nova solução desenvolvida pela gigante do leste asiático seja adotada massivamente, principalmente se for disponibilizada com os preços e a compatibilidade adequados. “Por ser uma tecnologia de base, que otimiza os processos com IA, acredito que deve ultrapassar qualquer barreira geográfica”, disse Takaoka.

11%

do mercado global de chips deve ser movimentado pelos específicos para inteligência artificial

O desenvolvimento desse tipo de mercado para tecnologias de vanguarda extrapola relações meramente comerciais. Aí entra em cena o controle rigoroso exercido por Tóquio sobre exportações, especialmente de tecnologias sensíveis.

“O Japão é signatário de tratados e acordos, por exemplo, contra a proliferação de armas de destruição em massa e ele sabe que esse tipo de plataforma também é usada para essa finalidade”, afirmou o executivo.

Nesse universo geopolítico, ele diz que a aliança com mercados estratégicos – leia-se de ‘alinhamento ocidental’ –, como Estados Unidos, Europa e Austrália, deve impedir qualquer tipo de impasse relacionado à distribuição ou comercialização, nessas regiões.

Quando o assunto é o Brasil, Takaoka acredita que não haverá grandes dificuldades para ajustar a nova tecnologia ao mercado. Inclusive, ele identifica potenciais clientes brasileiros, incluindo empresas de data center, grandes corporações e setores como petróleo & gás, financeiro e de segurança pública.

A grande questão, segundo o executivo, tem relação com uma perspectiva econômica. “O mercado brasileiro é extremamente sensível à faixa de preço. Toda vez que você importa alguma coisa, é preciso estar atento ao valor da moeda e à taxa de câmbio.”

Outro fator agravante são os impostos. De acordo com ele, é preciso classificar corretamente, para que a nova tecnologia desenvolvida, por ser inovadora e única, seja passível de incentivo fiscal.

A expectativa de Takaoka é que a estratégia da Fujitsu, de estar cada vez mais imersa dentro do segmento de serviços, software e soluções de impacto global, ganhe mais força. Tudo isso alinhada à conservação energética, ao uso inteligente de recursos e à inclusão de mais pessoas no impacto tecnológico. “Espero que nós, aqui no Brasil, possamos começar a usufruir também desses desenvolvimentos que a Fujitsu tem feito ao redor do mundo, para levar o mercado brasileiro para esse ideal.”