15/03/2019 - 18:18
Um dia após o Ministério Público Federal (MPF) do Distrito Federal apresentar denúncia contra 11 pessoas por supostas irregularidades em operações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com o frigorífico JBS, funcionários da instituição de fomento se reuniram na tarde desta sexta-feira, 15, num ato de protesto. Segundo a AFBNDES, associação que representa os funcionários e convocou o protesto, cerca de 600 pessoas participaram do ato, no pátio da sede do banco, no Centro do Rio.
A denúncia apresentada na quinta-feira pelo MPF é resultado da Operação Bullish, deflagrada em maio de 2017. Os ex-ministros Guido Mantega e Antônio Palocci e o ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho estão entre os denunciados. Dos 11, cinco são funcionários de carreira do BNDES. O Estadão/Broadcast apurou com uma fonte de dentro da instituição que, dos cinco funcionários denunciados, três já estão aposentados, um está licenciado e apenas um trabalha atualmente no corpo técnico.
Na denúncia, os procuradores acusam os citados pela prática de crimes como formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva, gestão fraudulenta, prevaricação financeira e lavagem de dinheiro. No documento, o MPF cobra um total de R$ 5,5 bilhões dos denunciados, sendo R$ 1,8 bilhão por causa do suposto prejuízo causado ao banco público e outros R$ 3,7 bilhões como reparação de danos.
Na noite de quinta-feira, após a apresentação da denúncia em Brasília, o BNDES informou, em nota, que “colabora com as autoridades e continuará prestando todas as informações necessárias para as investigações no âmbito da Operação Bullish”. “A instituição tem todo o interesse de que quaisquer dúvidas acerca de suas operações sejam devidamente esclarecidas”, diz o texto.
A AFBNDES criticou a denúncia por parte do MPF. “AFBNDES reitera sua confiança em todos os funcionários que atuaram nas operações relacionadas à empresa JBS. A denúncia apresentada nesta quinta-feira (14) pelo Ministério Público Federal não contém qualquer evidência de qualquer pagamento ou transferência de recursos em benefício do ex-presidente Luciano Coutinho ou dos técnicos do Banco. Contra os técnicos do BNDES a denúncia utiliza apontamentos feitos pelo Tribunal de Contas da União (TCU) de maneira acrítica, definindo como crime acusações vazias”, diz uma nota divulgada pela entidade.
Em evento público nesta sexta-feira, o presidente do BNDES, Joaquim Levy, evitou a imprensa e não comentou diretamente a apresentação da denúncia pelo MPF. Ainda assim, em palestra durante seminário na Fundação Getulio Vargas (FGV), o executivo mencionou a falta de controle nas operações do banco. Segundo Levy, a instituição criou uma “área de compliance” apenas em 2016, na gestão da ex-presidente Maria Silvia Bastos Marques, já no governo Michel Temer. “Até 2016 não tinha área de compliance. Que surpresa que aconteceram coisas esquisitas”, afirmou Levy, sem detalhar o que seriam as “coisas esquisitas”.
Sob condição do anonimato, funcionários do BNDES disseram ao Estadão/Broadcast que as funções de controle e gestão de riscos já eram cumpridas antes disso, porém. Esse trabalho ficaria com a antiga Área de Gestão de Riscos, criada em 2007. A gestão de Maria Silvia teria feito uma reorganização das áreas.