Lideranças do varejo (entre elas Luiza Trajano, Michael Klein e Carlos Jereissati), nomes de destaque no setor financeiro (caso de Guilherme Benchimol, da XP), e celebridades do mundo da moda (como Gloria Kalil, Paulo Borges e Isabella Fiorentino) marcaram presença na noite de autógrafos do livro A Cada Passo (Citadel), biografia do empresário Anderson Birman, na sexta-feira (10). O lançamento, na Livraria Travessa do Shopping Iguatemi, em São Paulo, coincidiu com a São Paulo Fashion Week, que este ano alternou desfiles no mesmo shopping Center e no Komplexo Tempo, no bairro da Mooca, também em São Paulo.

Mas a presença de tantas personalidades para prestigiar Birman não se deve apenas à escolha certeira da data e do local para lançar a obra. A trajetória do fundador da Arezzo é um exemplo para empresários de todos os setores. E o livro revela os momentos marcantes de sua trajetória até a construção do que hoje é a Arezzo&Co, holding que engloba 14 marcas:
• Arezzo,
• Anacapri,
• Schutz,
• Alexandre Birman,
• Alme,
• Brizza,
• Carol Bassi,
• Reserva,
• Oficina,
• Simples,
• BAW,
• Vicenza,
• Paris Texas
• TROC.

A obra narra ainda sua saída da empresa em 2013 e a doação das ações da companhia para os filhos. Aos 69 anos e com Parkinson, Birman anunciou que doará todo o valor das vendas à Casa Transitória, uma instituição espírita que ele frequenta e à qual oferece consultoria estratégica voluntária.

Seu livro se chama A Cada Passo, mas existe um em especial que você considera decisivo na sua caminhada?
Não apenas um. Alguns passos foram fundamentais para eu estar onde estou hoje. O primeiro passo foi quando aprendi o ofício de sapateiro, que se tornaria a semente de tudo o que veio depois. Outro foi quando deixamos de fabricar sapatos masculinos e passamos a produzir femininos. Outro ainda quando construímos a primeira fábrica. Depois, quando a transformamos numa fábrica de protótipos e nos associamos a parceiros que cuidavam da maior parte da produção. Quando fomos para o varejo. Quando abrimos capital na Bolsa de Valores. E finalmente quando passei o comando da empresa para meu filho Alexandre.

O que despertou sua vocação para o mundo dos sapatos?
A insistência do meu pai para que encontrássemos um ofício. Depois a prática, que despertou minha paixão pelo produto.

Qual aspecto do sapato é mais importante: design, conforto ou segurança?
Os três. Nenhum desses aspectos é dispensável. Não há um mais importante que o outro. É o equilíbrio deste tripé que faz um produto de qualidade.

Que tipo de sapato você gosta mais de fazer? E de vestir?
Gosto de criar produtos que antecipam o que as clientes vão querer. Não tem um tipo específico. É preciso aprender com as consumidoras, escutar a intuição e inovar sempre. E é esse tipo de produto que também gosto de vestir.

Alguma grife de calçados em especial o encanta? Por qual motivo?
Gucci e Tom Ford são as minhas marcas prediletas, principalmente pela qualidade dos calçados. Eles são extremamente bem feitos, fabricados pelos melhores sapateiros do mundo e duram muitos anos.

“A única coisa que sei fazer na vida é sapato. E isso tem sido bastante coisa nas últimas cinco décadas. O suficiente para construir, modernizar e vislumbrar planos de longuíssimo prazo para a empresa que se tornou a líder do setor no Brasil.”
Trecho do livro A Cada Passo

Sua história como empreendedor extrapolou o segmento de sapatos para uma consolidação no setor da moda. O que o levou a ampliar seus horizontes?
Como estou fora da operação, minha maior contribuição é com minha intuição — claro, respaldada por análises objetivas dos negócios. Vi, junto com meu filho Alexandre, oportunidades de estarmos em mais momentos da vida da nossa cliente.

Quais qualidades você considera mais importantes para um gestor ter sucesso no mundo da moda?
A intuição, que é algo impossível de se medir, mas fundamental em um negócio que precisa de criatividade para antecipar o que as clientes vão querer no futuro. A capacidade de não complicar o negócio desnecessariamente, para manter as análises e controles simples e claros. E a habilidade de se adaptar a diferentes cenários pelos quais um negócio passa ao longo do tempo.

De que forma um brechó (no caso, TROC) se encaixa na estratégia da Arezzo&Co?
A TROC é um modelo de negócio que acreditamos muito e que faz todo sentido para o grupo. Dar vida ao que está parado no guarda roupa, fazer a moda circular passou a ser parte do comportamento contemporâneo e o second hand ganhou força, alinhado à mudança de comportamento e à inovação com foco na sustentabilidade.

A sustentabilidade é um tema central no mundo contemporâneo. O que você aprendeu com o ESG a ponto de modificar suas práticas empresariais?
Quando ainda nem se falava em ESG, nós já tínhamos algumas práticas que hoje consideramos sustentáveis. Por exemplo, fabricávamos saltos a base de material reciclado. O que é sustentável geralmente é também o que faz mais sentido para a eficiência do negócio. Acredito que o mundo contemporâneo só reforçou e deu mais oportunidades para agirmos de acordo com o que já faz parte da essência da Arezzo.

O que o setor calçadista brasileiro pode oferecer ao consumidor que nem Europa e nem a China conseguem?
Talvez a criatividade. A empatia dos brasileiros se reflete numa maior sensibilidade para antecipar os modelos
que vão agradar a cliente.