20/06/2012 - 21:00
Walter Oliveira, presidente do Instituto de Previdência dos Servidores Públicos do Estado de Rondônia (Iperon), tem um problema milionário para resolver. O Instituto investiu pouco mais de R$ 24 milhões, cerca de 5% de seu patrimônio, em Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) geridos pelo Banco Cruzeiro do Sul, do ex-banqueiro Luís Octavio Indio da Costa. O motivo da preocupação é simples: boa parte do patrimônio dos FIDCs do banco está sob suspeita. Segundo Anthero Meirelles, diretor de fiscalização do Banco Central (BC), há fortes indícios de que os fundos estão lastreados em créditos falsos.
Uma conta preliminar estima o buraco em R$ 1,3 bilhão e parte dele pode acabar no colo dos aposentados de Rondônia, pois o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que está administrando o banco durante a intervenção, não cobre esse tipo de operação. “A possibilidade de o investidor perder dinheiro é elevada”, diz Ricardo Torres, professor da Brazilian Business School (BBS). Procurado, o Iperon não comentou o caso. Barbeiragem? A decisão do Iperon de investir, tomada em 2009, é defensável. Na época, a classificação de risco dos fundos do Cruzeiro do Sul era boa e eles rendiam 120% dos juros de mercado. O investimento foi analisado pela consultoria catarinense Soma.
Segundo Ricardo Giovenardi, diretor comercial da Soma, o fundo não dava sinais de problemas. Ele deveria remunerar seus cotistas a cada 60 dias, e costumava pagar antes do prazo. “Se o fundo fosse ruim, não pagaria com tanta rapidez”, diz Giovenardi. Mesmo assim, alguns investidores desconfiaram. Fábio Sobral, diretor de investimentos do Fundo de Aposentarias e Pensões dos Servidores do Estado de Pernambuco (Funape), ficou alerta em julho passado ao notar que o banco vinha perdendo mercado nos consignados em Pernambuco. Sua preocupação cresceu quando começaram a surgir rumores sobre o Cruzeiro do Sul. Sobral se desfez da posição aos poucos. “Chegamos a ter R$ 10 milhões aplicados, mas fomos reduzindo a partir de outubro”, diz.
Indio da Costa: créditos podres podem comprometer rentabilidade
das cotas dos investidores de FIDCs do Banco Cruzeiro do Sul.
A cautela de Sobral é uma lição para os investidores que têm migrado para os FIDC. Segundo Torres, da BBS, esses fundos podem oferecer riscos elevados dependendo de sua estrutura. “FIDCs lastreados em créditos de uma única empresa são ruins, pois qualquer problema com o emissor afeta diretamente o investidor”, diz. Ele lembra do caso do grupo goiano Coral, que entrou em recuperação judicial em abril passado. O Coral, que prestava serviços de limpeza e segurança para escritórios e indústrias, geria um FIDC lastreado por seus títulos a receber. A recuperação judicial cortou a emissão de novos títulos e o fundo não conseguiu mais se sustentar. O valor das cotas caiu cerca de 60% em pouco mais de dois meses. Há casos mais antigos, como o da Parmalat, em 2001, e o do Banco Santos, em 2004.
No caso da Parmalat, o fundo estava bem estruturado e os cotistas conseguiram recuperar seu dinheiro, algo que não ocorreu no do banco de Edemar Cid Ferreira. “Qualquer semelhança do Cruzeiro do Sul com o Santos não é mera coincidência”, diz Torres. Como evitar esses problemas? Marco Antonio Valim, gerente comercial da Petra Capital, avalia que o investidor precisa ficar atento à estrutura do fundo. “Os FIDCs de consignado foram vendidos por muito tempo como um investimento seguro, mas não é bem assim”, diz Valim. Quanto mais longo o prazo dos empréstimos, maior o risco de inadimplência. Outro risco é o crescimento acelerado do patrimônio. Nesses casos, a qualidade dos créditos pode piorar. O prognóstico para os investidores nos fundos do Cruzeiro do Sul não é bom.
Poucos dias após a intervenção, a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou as notas dos fundos do banco, devido à incerteza com relação à qualidade dos ativos e à possível venda do banco. Essa decisão incluiu as cotas seniores do FIDC Crédito Consignado II, no qual o fundo de pensão de Rondônia investe, o que vai reduzir ainda mais o interesse do mercado pelo papel. Por falta de liquidez e de novos ativos, os fundos do banco devem ser encerrados. O FIDC Crédito Consignado II será um dos primeiros a ser fechado, pois não há mais recebíveis do Banco Cruzeiro do Sul para alimentar a carteira do fundo, que comprava crédito consignado gerado pelo banco a um valor entre R$ 300 e R$ 300 mil. Prejuízos à vista.