obsessão pelos lucros a qualquer custo, seja ele qual for, ficou para trás. Pelo menos para quem pretende triunfar na competitiva globalização. As empresas e o mercado financeiro acordaram para um tema que está na mente da população: lucro sim, sobretudo com responsabilidade. Afinal, os consumidores não dão mais confiança para as corporações que agem fora dos padrões éticos e os investidores fogem das companhias poluidoras. Seguindo essa cartilha, os bancos criaram fundos de investimentos voltados para empresas responsáveis e a Bovespa começou a listá-las. Eis os Investimentos Socialmente Responsáveis (ISR), nos quais boa parte da taxa administrativa é dedicada à preservação do meio ambiente e ao suporte de crianças carentes. A iniciativa começou no final da década de 80, nos Estados Unidos, e de lá para cá tomou projeção mundial. Atualmente, há vários bancos no Brasil que estão priorizando a governança corporativa e a responsabilidade social.

O pioneiro nessa área foi o banco holandês ABN AMRO. A instituição criou o fundo Ethical, composto exclusivamente com ações de empresas socialmente responsáveis. Com o apoio do Instituto Ethos, da Associação Amigos da Terra e do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), parte da taxa de administração do fundo Ethical tem sido destinada a doações ou manutenções de entidades beneficentes ou ambientais. O valor mínimo de aplicação é de R$ 100 e a taxa de administração é de 3%. Nos últimos 36 meses, a rentabilidade desse produto alcançou 118%. Um outro bom exemplo é o do HSBC. Desde dezembro de 2001, o banco inglês tem o HSBC DI Ação Social. Trata-se de um fundo DI que repassa metade da taxa de administração de 1%, paga pelos cotistas, ao Instituto HSBC de solidariedade. ?Os fundos não podem ter apenas o selo da responsabilidade social?, diz Pedro Bastos, diretor do HSBC Investments. ?Precisam ser bem geridos para dar retorno aos cotistas?, explica. Com um patrimônio líquido de R$ 117 milhões e valor mínimo de aplicação inicial de R$ 200 mil, o HSBC DI já rendeu quase 132% desde a sua criação.

Além dos bancos, as companhias de capital aberto também estão investindo em sustentabilidade. Só na Bovespa, 34 empresas compõem o Índice de Sustentabilidade Empresarial, o ISE Bovespa, criado em 2005. Para entrar neste seleto grupo, as exigências são rigorosas. É necessário apresentar um alto grau de comprometimento com a sustentabilidade e a responsabilidade social. ?O fundamental é a empresa ter bom relacionamento com os seus funcionários, seus clientes e não pode ter reclamações expressivas no Procon?, diz Ricardo Pinto Nogueira, presidente do conselho do ISE. Na ponta do lápis, o resultado aparece. Prova disso é que, nos últimos 12 meses, enquanto o Índice Bovespa apresentou uma rentabilidade de 26,7%, o ISE alcançou 27,2%. O poder do ISE é comprovado também pela sua representatividade.

Ele reúne empresas de 14 setores da economia que promovem políticas responsáveis em quatro áreas: econômico-financeira, social, ambiental e governança corporativa. Juntas, as companhias totalizam mais de R$ 700 bilhões em valor de mercado e representam 48,5% da capitalização da Bovespa. Os investimentos em fundos sociais mostram, portanto, que vieram para ficar. ?É uma tendência mundial?, diz Daniel Lemos, analista-chefe da Corretora Socopa. ?Os investidores já estão buscando produtos com foco na sustentabilidade?, comenta. É preciso, contudo, cautela. ?O investidor deve estar atento ao método de seleção dos projetos de cada fundo e saber o quanto da taxa de administração é destinado para eles?, diz Gustavo Barbeito, analista da Proper Gestão.

R$ 700 bilhões é o valor de mercado de todas as empresas do ISE Bovespa