28/05/2003 - 7:00
Quem visita o site da empresa de fundos de investimentos Claritas leva um susto. Logo que abre a página na internet, um aviso salta na tela. Sob o título ?comunicado importante?, os sócios contam que a companhia está crescendo rápido demais e, para evitar problemas, vai limitar as aplicações no fundo Claritas Hedge 30 FIF. Na mesma carta, eles fazem uma oferta inusitada. Quem tirar dinheiro do fundo Hedge FIF, o maior da Claritas, e transferir para o Hedge 30 terá prioridade. Cada R$ 1.000 sacados darão direito a uma aplicação de R$ 1.500, prometem os executivos. ?Fundo de investimentos com tamanho mal dimensionado aumenta o risco?, diz o sócio Marcelo Karvelis.
O fenômeno da Claritas não é único. Sem anúncio na televisão nem agências bancárias, algumas empresas ganharam fama na propaganda boca a boca e cresceram tanto que hoje se dão ao luxo de recusar dinheiro. Além da Claritas, Hedging Griffo, GAP e JGP também fecharam alguns de seus fundos a novas aplicações. O alvo de tanto interesse são os hedge funds ? em que o administrador tem carta branca para fazer apostas. Pode migrar de juros para dólar ou de ações para dívida externa. É uma modalidade de investimento mais arriscada do que a média, mas também acena com rendimentos bem maiores.
A história da Hedging Griffo é exemplar. Há 11 anos, Luis
Stuhlberger abriu sua administradora de fundos, inspirado
em hedge funds americanos, como os do investidor George
Soros. No início, Stuhlberger cuidava de tudo: pensava na
estratégia, fazia as operações ao telefone e marcava cada negócio nos boletos de sua corretora. O negócio deu certo e, em 1997, ele criou seu principal produto, os fundos da chamada família Verde. Desde então, a aplicação acumula rentabilidade de 943,80%, resultado muito superior ao do CDI (253,68%), do dólar (173,57%) e da Bolsa de Valores (84,16%).
Salto no patrimônio. Esse ganho veio de apostas certeiras, como as três ondas de desvalorização do real desde 1999. Nos últimos cinco anos, o patrimônio administrado pela Griffo saltou de R$ 600 milhões para R$ 4 bilhões. O fundo Verde está fechado a aplicações. Mas os investidores continuam procurando a Griffo em busca de outros fundos, como o Top, que aplica parte de seus recursos no Verde. ?Ninguém gosta de fechar fundos aos clientes?, diz Stuhlberger. ?Mas é difícil manter o padrão do investimento quando o mercado não cresce e você fica sem condições de movimentar uma massa grande de recursos.?
O sucesso da Griffo inspirou a concorrência. Dorio Ferman, administrador dos premiados fundos de ações do banco Opportunity, vai lançar um hedge fund parecido com o Verde, mas com uma diferença. ?Seremos muito mais agressivos?, diz Ferman. Enquanto a Griffo evita apostas pesadas, o Opportunity vai buscar lucros estonteantes para quem tem coração de ferro. Os resultados poderão oscilar de uma perda de 10% num mês a um ganho de 20% no outro.
Será uma exceção no mercado. Em geral, os gestores buscam menos adrenalina do que no passado. Perdas enormes da Linear ou do Marka baixaram a bola dos administradores. Em geral, são ex-executivos de bancos que abriram butiques de investimento. Querem aproveitar a boa onda, com vendas crescentes aos clientes de alta renda dos bancos, mas sem assustar a freguesia.
Um exemplo desse perfil de gestores é o da Claritas. Das 20 pessoas que trabalham na administradora, quatro calculam o risco matemático das apostas. Mesmo com todos os cuidados, hedge funds são mais arriscados e podem dar prejuízo, especialmente a curto prazo. ?São fundos para quem está preparado para as oscilações?, diz o sócio Carlos Ambrosio. É preciso paciência. Durante oito meses, o Claritas Hedge apostou na desvalorização do peso. Nesse período, falou-se até em dolarizar a Argentina. Ao final, o câmbio mudou e o fundo rendeu 37,26% num ano.