As gestoras brasileiras desengavetaram nessas últimas semanas seus projetos de investimento de recursos no Exterior. Após o sinal verde da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) autorizando que parte do patrimônio dos fundos de investimento seja alocado fora do Brasil, as salas de reuniões das assets viraram centros de estudo para analisar a melhor maneira de aproveitar essa oportunidade de diversificação de ativos. ?Esse processo é a continuidade da mudança da indústria de fundos no Brasil?, diz Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset Management. ?É o caminho natural com a queda dos juros e a necessidade de investimentos mais agressivos.? Resta definir, agora, quais serão os fundos que já estão no mercado que ganharão o visto internacional ? para que isso ocorra será preciso que o regulamento do fundo seja modificado e aprovado pelos investidores através de uma assembléia. Porém, a alternativa mais viável é que novos fundos sejam criados adaptados a essa nova regulamentação que permite que os multimercados invistam 20% do seu patrimônio e os demais fundos de investimento aloquem 10% em outros países nos quais as CVMs, brasileira e estrangeira, troquem informações. E novos produtos estão em gestação. Para complementar esse passaporte, dentro de poucos dias o Banco Central divulgará a circular que regulamenta as transações cambiais.

Para uma indústria que ultrapassa R$ 1 trilhão de patrimônio, cerca de R$ 80 bilhões ? ou US$ 40 bilhões ? estariam atualmente disponíveis para alocação no mercado internacional. Ainda assim, não se espera que haja uma corrida para o Exterior logo nesses primeiros meses ? o que ajudaria, até, na recuperação do real diante do dólar. O total de investimento calculado pelo mercado é de US$ 4 bilhões até o final deste ano, sendo grande parte alocado por investidores institucionais. O pequeno e médio investidor só começaria a ?exportar? seus recursos no ano que vem. ?É preciso dar tempo para o investidor adquirir a cultura de colocar parte do seu portfólio lá fora?, acredita Marcelo Mello, vice-presidente da SulAmérica Investimentos. ?O nível de especificidade e informação é grande para quem possui R$ 10 mil, R$ 15 mil, entender que seu dinheiro pode ir para um fundo na Ásia, por exemplo.? Até essa alteração na legislação dos fundos, apenas investidores individuais atuavam no mercado internacional.

Enquanto o mercado brasileiro de fundos mede a temperatura externa ideal, Póvoa, da Modal, acredita que os gestores concentrarão a atenção nas moedas mais conhecidas, como euro e ien, e nas commodities, que já são pesquisadas pela maioria dos gestores como forma de comparação para os investimentos internos. Em um segundo momento, diz ele, serão feitas as opções em ações, buscando posições mais agressivas. Os países emergentes, que podem ser atrativos pelos bons retornos gerados, apesar do alto risco embutido, devem ficar para uma terceira fase. Para chegar a esse nível de informação, as gestoras passarão a ter estruturas de análise para os vários países. Necessariamente terão que englobar os melhores ativos e fundos seguindo o perfil de investimento: agressivo, moderado ou conservador. ?A possibilidade de negociar no mercado externo ajuda na diversificação e estratégia dos gestores?, diz André Ng, economista-chefe da Infinity Asset. ?O leque de produtos para a renda variável valorizará a busca pelo bom retorno para o investidor.?

US$ 4 bilhões é a estimativa de recursos de fundos brasileiros que poderiam ir para outros países até o fim do ano