24/12/2002 - 8:00
Você trocaria o comando de um império de R$ 4,5 bilhões por um cargo difícil na Esplanada dos Ministérios? Pois o engenheiro e empresário Luiz Fernando Furlan trocou. Ele aceitou o convite de Lula para comandar o Ministério do Desenvolvimento e decidiu que depois do governo não voltará ao comando da Sadia ? uma empresa cuja fisionomia ajudou a moldar. Em 26 anos, nove à frente do Conselho de Administração, o neto do fundador da Sadia fez de tudo: superou disputas familiares, desbravou mercados e cimentou exportações de US$ 1 bilhão por ano. É um dos executivos mais respeitados do País, além de sócio da Sadia com cerca de 5% das ações (o que lhe garantiria a valores de mercado uma fortuna de, pelo menos, R$ 12 milhões). É depois dessa impecável trajetória no mundo corporativo que o catarinense Furlan, nascido em Concórdia em 1946, embarca para a vida pública.
Na segunda-feira 16 ele esteve com o atual ministro, Sérgio Amaral, em busca de informações sobre a pasta que irá assumir. Dias antes, esteve com um ex-ocupante do cargo, Alcides Tápias. Dele, ouviu detalhes dos confrontos com o ministro da Fazenda, Pedro Malan. Posteriormente, ao encontrar-se com o futuro ocupante da Fazenda, Antônio Palocci, provocou: ?A história dos nossos ministérios é de briga. Vamos ver como será conosco?. O ex-prefeito de Ribeirão Preto, que será seu contato mais íntimo no governo, sorriu, como sempre faz. Furlan também passou horas do fim-de-semana navegando na internet para recolher os detalhes sobre o ministério.
Tido como homem perfeccionista e centralizador, ele vem trabalhando duro para tomar controle da situação. Mas sua vida em Brasília será dura. A começar pelo orçamento anual de R$ 120 milhões, 30 vezes menor que o faturamento anual da Sadia. O poder financeiro do ministério está no BNDES e na Suframa, que são subordinados ao Desenvolvimento.
A Furlan caberá a coordenação de toda a política industrial, assim como a administração do comércio exterior. ?Ele é do ramo, conhece todas as dificuldades de exportar, é um craque?, avalia Renan Proença, representante dos industriais gaúchos. ?Ele reposiciona a produção no centro da agenda do governo?, aplaude Horácio Lafer Piva, da Fiesp. Mas o fato de ser um grande empresário também pode gerar restrições. A primeira delas envolve o próprio BNDES: a Sadia, como diversas grandes empresas nacionais, contraiu empréstimos com o banco, e Furlan não deixará de ser acionista. Além disso, existem dúvidas sobre o tratamento que será dado no BNDES às dívidas da Chapecó, concorrente da Sadia. Para evitar controvérsias, há quem pense que o controle do banco deva passar para a Fazenda, com Palocci. Apesar disso, Furlan está otimista. ?Só aceitei o ministério porque penso que terei liberdade para trabalhar?, confidenciou a um amigo na semana passada.