11/04/2016 - 15:49
A crise resvalou de forma mais aguda no mercado de capitais, a julgar pelo anúncio desta segunda-feira, 11, da fusão da BM&FBovespa com a Cetip. A BM&FBovespa é hoje a referência de bolsa de valores da América Latina, uma das maiores do mundo. Já a Cetip, a maior depositária de títulos privados de renda fixa da América Latina e a maior câmara de ativos privados do País.
Para se ter uma idéia do contexto dessa fusão é preciso analisar o tamanho de ambas empresas hoje. As duas companhias foram abatidas pela recessão econômica no País e pela herança da crise imobiliária de 2008, nos Estados Unidos, que ressecou a entrada de capitais estrangeiros no Brasil desde então.
Em valores de mercado, hoje as duas companhias somam R$ 39,28 bilhões (R$ 28,34 bilhões da BM&F e R$ 10,94 bilhões da Cetip), de acordo com a empresa de informações financeiras Economática.
Em 2008, ano da crise americana, ocorre a fusão da BM&F com a Bovespa. Em valores corrigidos, a BM&FBovespa valia, naquela época, algo em torno de R$ 28 bilhões, exatamente o que vale hoje. Isto quer dizer que, em oito anos, a crise econômica tanto interna quanto externa ceifou o crescimento do valor de mercado da BM&FBovespa, que permaneceu do mesmo tamanho.
Já a Cetip abriu seu capital em 2009, um ano depois da grande recessão americana. Naquela época, seu valor de mercado era pequeno em razão do contexto: R$ 4,88 bilhões corrigidos a valores atuais.
Transação
O negócio da fusão é de cerca de R$ 12 bilhões, sendo que 75% (R$ 9 bilhões) será pago em dinheiro e o restante em ações da Bolsa. E o preço mínimo a ser pago por ação da Cetip será de R$ 42,00, por meio de um sistema de travas de preço acertado entre as partes.
De acordo com os dados apresentados, a fusão das duas empresas deve gerar sinergia de R$ 90 milhões a R$ 100 milhões para a nova companhia ao final do terceiro ano de integração, de acordo com o presidente da bolsa, Edemir Pinto. “Esperamos sinergia de pelo menos 10% para as despesas combinadas, que devem corresponder de R$ 90 milhões a R$ 100 milhões ao final do terceiro ano de integração”, afirmou.
A economia de despesas também foi levada em conta, embora tanto os dirigentes da BM&FBovespa quanto Cetip apostem em novos negócios. Do lado das despesas, no final do ano passado ambas companhias gastaram R$ 600 milhões (BM&FBovespa) e R$ 330 milhões (Cetip). A ideia é que o ralo da despesa diminua com o tempo, mas a princípio, sacramentada a fusão pelos órgãos reguladores, deve se gastar algo em torno de R$ 1 bilhão para manter a nova companhia operando.
O presidente do Conselho de Administração da Cetip, Edgar da Silva Ramos, afirmou que a fusão com a bolsa dá sinal de confiança em relação ao futuro do País independente do cenário político. “O momento é oportuno para a fusão. Precisamos juntar forças para atravessar o momento atual”, disse ele.
Novos Negócios
Gilson Finkelsztain, diretor-presidente da Cetip, afirma que “teremos oportunidades em projetos, serviços e produtos, o que devem garantir o crescimento futuro esperado”.
Uma das idéias em gestação é desenvolver o mercado de gravames, que faz o registro de garantias de veículos financiados, de acordo com Edemir Pinto. “A representatividade do segmento de gravames dentro do negócio da Cetip é algo extraordinário. Não há dúvida de sua importância. A nova companhia vai de braços abertos olhar esse mercado e buscar desenvolvimento e eficiência”, afirmou.