A criação do maior grupo educacional do mundo passará por um momento decisivo nesta quarta-feira 14, quando o colegiado do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) vai analisar a proposta de fusão da Kroton com a Anhanguera. Mesmo com as restrições propostas por partes consultadas, como o Ministério Público e a própria superintendência geral do Cade, sua aprovação criaria um grupo quase duas vezes maior que o segundo colocado, a chinesa New Oriental Education & Technology Group.

Juntas, a Kroton e a Anhanguera teriam um valor de mercado estimado superior a R$ 12 bilhões, segundo divulgado na época do fechamento do acordo, em abril de 2013. A cifra, porém, já pode ser bem maior, pois somente a Kroton já é avaliada em mais de R$ 12 bilhões na Bolsa de Valores de São Paulo. Somado ao valor da Anhanguera, o grupo alcançaria cerca de R$ 18 bilhões, ou cerca de US$ 8 bilhões. Como comparação, a New Oriental, listada na bolsa de Nova York, é avaliada em US$ 3,8 bilhões.

Uma comparação com a rival chinesa, aliás, dá uma ideia do porte da união negociada entre a Kroton e a Anhanguera. A única métrica do grupo brasileiro que fica atrás dos chineses é o número de matrículas: 1 milhão contra 2,5 milhões. O faturamento combinado do grupo em gestação é estimado em R$ 4,3 bilhões. No exercício fiscal de 2013, encerrado em abril do ano passado para a New Oriental, a companhia apresentou receita líquida de US$ 960 milhões, cerca de R$ 2,1 bilhões. Para se ter uma ideia, é menos do que os R$ 2,5 bilhões que a Anhanguera faturou em 2012.

O lucro líquido da New Oriental, de US$ 136 milhões (cerca de R$ 301 milhões), corresponde a 72% dos R$ 420 milhões que a fusão das brasileiras deve gerar, pelas estimativas divulgadas no ano passado, com base nos números de 2012 de ambas.

Concentração

O principal ponto que será analisado pelo Cade é a concentração de mercado em algumas cidades, tanto no ensino presencial, quanto à distância. Em seu parecer técnico, a superintendência do Cade identificou a necessidade de adotar restrições na atuação do grupo que corresponderiam a 2,7% dos alunos de graduação presencial. Já no ensino à distância, seria necessário intervir em 171 mercados ou cursos, localizados em 55 municípios. Essas intervenções alcançariam 51.150 alunos das duas instituições, sendo 26.964 da Anhanguera e 23.996 da Kroton – o que corresponderia a 6,9% e 6,2% do total de alunos de ensino à distância das empresas, respectivamente.

A Kroton e a Anhanguera se dedicaram, nos últimos meses, a negociar uma solução para que o Cade aprove o negócio. O resultado será conhecido na manhã desta quarta-feira. O aval do órgão antitruste será um passo importante para a conclusão do acordo, mas não o último.

A próxima etapa será a aprovação, pelos acionistas das duas companhias, dos termos de troca de ações que pautaram a efetiva incorporação da Anhanguera pela Kroton, criando a nova gigante mundial de ensino. Esse ponto também não está isento de discussões. O motivo é que a proporção de ações precisou ser revista, com a alteração do valor de mercado das companhias, desde o anúncio da fusão.

Novos termos

Inicialmente, a composição acionária final daria 42,52% de participação aos acionistas da Anhanguera e 57,48% aos da Kroton. O problema é que, desde que o negócio se tornou público, as ações da Kroton apresentaram forte alta, enquanto a Anhanguera andava de lado na Bovespa. Nos últimos 12 meses encerrados nesta segunda-feira 12, as ações ordinárias da Kroton acumulavam alta de 112,5%. Já as da Anhanguera valorizaram apenas 37%.

Isso levou os acionistas da Kroton a pressionarem a direção da empresa a rever os termos do acordo. A nova proposta de troca de ações, se aprovada, dará 66,50% do novo grupo aos investidores da Kroton; e 33,50% para os da Anhanguera. Como ainda não se sabe o impacto das eventuais restrições que o Cade imporá à aprovação do acordo, é possível que novos debates ocorram entre as partes. Até agora, criar o maior grupo educacional do mundo tem sido, na prática, uma aula de paciência para os envolvidos.