18/10/2019 - 12:01
As empresas dos municípios com poucos bancos onde houve redução nas opções depois de fusões e aquisições sofreram com o aumento do custo do crédito e redução do volume de financiamento.
Estudo do Banco Central sobre o impacto da concentração bancária no crédito às empresas aponta que as nove últimas fusões e aquisições, que ocorrem no Brasil entre 2005 e 2015, afetaram principalmente os financiamentos nas cidades que tinham pelo menos uma agência de cada banco que foi fundido com outro.
Esse movimento é mais forte quando a cidade possuía poucas instituições financeiras antes da concentração bancária, ficando com dois ou apenas um banco.
Nesses municípios, o volume de crédito ficou menor entre 2% e 14% nos bancos, enquanto os spreads (diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa de juros cobrada dos clientes) subiram entre 1,2 ponto porcentual, num período de um ano, e 5,1 pontos porcentuais em dois anos.
Separando apenas os bancos privados, a piora das condições de crédito foi ainda mais grave. As taxas dos spreads chegaram a subir até 7 pontos porcentuais e o volume de crédito caiu até 21%. A comparação foi feita com municípios que não sofreram com o impacto da concentração porque tinha mais opções aos clientes.
Nas cidades em que havia apenas um dos bancos envolvidos na fusão e aquisição e, portanto, sem concorrência, o custo do crédito caiu com ganhos de escala e eficiência na oferta do crédito. Ou seja, os bancos que acabaram ficando com o monopólio do município ofereceram financiamentos mais baratos. O spread foi reduzido em até 1,72 ponto porcentual, porém o volume de crédito não reagiu.
Por outro lado, o estudo do BC mostrou que os efeitos da saída de um banco do mercado desapareceram nas cidades que possuíam cinco ou mais opções de banco antes da concentração bancária.
O BC mostrou no estudo que num quadro de competição com cinco bancos, detendo 100% do crédito do País e presença em todos os municípios, o volume de crédito aumentaria e o custo cairia substancialmente na maioria das cidades.
O estudo reforçou a política do BC para estimular a concorrência nas localidades, mesmo que geograficamente a instituição que oferta o crédito não esteja fisicamente presente no município. Hoje, 85% do crédito é concedido por apenas cinco bancos: Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Santander e Caixa Econômica Federal.
De acordo com o BC, a ideia é reduzir a barreira geográfica e permitir que as instituições de crédito disputem o mesmo mercado, mesmo sem terem presença física em todos os municípios. O BC espera que esse movimento aumente a competição e faça o spread cair.
‘Open banking’
Uma das principais apostas da agenda do BC é o chamado open banking (o compartilhamento de dados, produtos e serviços pelas instituições financeiras e demais instituições autorizadas, mediante consentimento do cliente). A expectativa é que todo modelo esteja funcionando no fim de 2020. Para aumentar a concorrência, o BC também aposta nas fintechs (startups do sistema bancário), empresas simples de crédito, sociedades diretas de crédito, sociedade de empréstimo entre pessoas e instituições de pagamentos. A estratégia é criar competição em mercados específicos que não dependam de ter um banco nacional e estrutura física no município.
O jornal O Estado de S. Paulo apurou que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, vai apresentar em breve um programa mais ambicioso de educação financeira justamente para que essas novas tecnologias possam ser entendidas pelos consumidores de serviço bancário.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.