Os separatistas da Nova Aliança Flamenga (NVA) arrasaram em Flandres, região do norte, nas eleições legislativas realizadas neste domingo na Bélgica, uma vitória inédita que ampliará o abismo com os francófonos e pode acabar por dividir o país.

Dirigida por um jovem historiador, Bart de Wever, a NVA obteve 29,5% dos votos na região de Flandres, onde vivem 60% dos belgas, segundo os resultados divulgados após a apuração de mais de 50% das urnas.

A NVA ficou claramente na frente do partido democrata cristão flamengo, o CD&V, do atual primeiro-ministro Yves Leterme, que reuniu 18,3% dos votos, de acordo com os dados parciais.

Trata-se de uma vitória sem precedentes para um partido que defende a independência a médio prazo da próspera Flandres, em detrimento de outra grande região do país, Valônia (sul), empobrecida e de maioria francófona.

“Os resultados são extraordinários”, declarou De Wever, de 39 anos, preconizando uma grande reforma do Estado federal que permita que os flamengos obtenham uma maior autonomia econômica e social.

De Wever quis, entretanto, enviar uma mensagem tranquilizadora aos francófonos, ao ser interrogado sobre se trabalhará pela independência de Flandres, e os convidou a “não ter medo”.

“Sou favorável a uma evolução: se a Bélgica deve um dia desaparecer, tem que fazer etapa por etapa”, afirmou, negando que se disponha a fazer “explodir” o país.

As diferenças cada vez maiores das principais regiões afundaram o país, de cerca de 10 milhões de habitantes, em uma crise política de consequências imprevisíveis, e muitos, sobretudo os flamengos, questionam o sentido de continuar vivendo juntos.

O endurecimento ideológico do eleitorado flamengo, que rejeita continuar “subvencionando” a região do sul, aumenta os temores sobre uma divisão do país, fundado em 1831.

O último episódio desta crise foi a queda, em abril, do governo de Leterme, que precisou convocar eleições antecipadas quando a grande coalizão dos partidos flamengos e francófonos desmoronou por um velho contencioso linguístico entre as duas comunidades.

Do lado francófono, o Partido Socialista, dirigido por Elio di Rupo, situou-se nas eleições deste domingo no topo, com 36% dos votos em Valônia e Bruxelas, encravada em Flandres mas de maioria francófona, segundo as projeções da rede de televisão pública flamenga VRT.

Mais de sete milhões de eleitores foram convocados neste domingo a eleger os 150 deputados federais em eleições antecipadas, cujos resultados definitivos deverão ser conhecidos ainda esta noite.

Paradoxalmente, a vitória da NVA poderá conduzir pela primeira vez desde os anos 1970 um francófono a assumir o posto de primeiro-ministro, provavelmente o dirigente socialista Di Rupo.

De Wever reafirmou neste domingo que não está interessado no cargo e garantiu estar “disposto a sacrificar-se” e deixar para um francófono a tarefa de dirigir um governo federal de coalizão.

Di Rupo esquivou-se de falar sobre esta possibilidade e limitou-se a reconhecer que os eleitores flamengos enviaram um “sinal forte” a favor de uma maior autonomia: “Esta mensagem deve ser ouvida”.

A falta de partidos nacionais na Bélgica obriga a formação de um gabinete de coalizão entre partidos flamengos e francófonos, o que permite prever vários meses de batalhas políticas antes que o novo gabinete seja criado.

Em 2007, levaram mais de seis meses para montar um governo, um recorde na história do país.

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