O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta quinta-feira, 30, que a autoridade monetária tem feito um esforço para ancorar completamente as expectativas de inflação do mercado. As medianas do Focus para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2025 em diante estão em 3,5%, 0,5 ponto porcentual acima do centro da meta, de 3%.

“Esse é um ponto de bastante esforço e endereçamento de esforços do Banco Central, para que exista essa convergência, para que a gente tenha uma reancoragem total, e não parcial, das expectativas”, afirmou Galípolo, durante um evento organizado pelo banco JPMorgan, em São Paulo.

Ele relatou ter ouvido de agentes do mercado que há limites para o quanto o BC consegue contribuir na reancoragem das expectativas, já que questões como a incerteza fiscal contribuem para o prêmio nas projeções. O maior problema, segundo ele, não é o déficit que o governo entregará, mas sim o quanto o mercado considera que o Executivo está comprometido com a consolidação fiscal.

Galípolo também relatou que há dúvidas sobre a viabilidade de uma meta de 3% para a inflação brasileira, mas reiterou que o BC está comprometido com a meta. E, em termos de composição do BC, disse que com o tempo o mercado vai se acostumar à dinâmica de ter novos diretores indicados todos os anos, como foi estabelecido na lei de autonomia da autarquia.

“A estabilidade da política monetária do Brasil está apoiada na capacidade dos técnicos do BC, que subsidiam a gente com uma série de dados fantásticos, do ponto de vista de quantidade e qualidade, e depois de 28 reuniões, até chegar no Copom, com todo mundo sentado na mesma mesa e vendo os mesmos dados, o nível de divergência vai estreitando muito”, afirmou Galípolo.

Para o diretor, a inflação corrente é um dos principais canais com transmissão para as expectativas e, se continuar melhorando, deverá ter impacto nas projeções do mercado. Galípolo disse também ter ouvido de outros BCs que o brasileiro é o mais preocupado com a questão das expectativas.

Equipe econômica tem convicção de que fiscal e monetário trabalhavam em sentido oposto

O diretor de Política Monetária do Banco Central disse ainda que a equipe econômica do governo tem a convicção de que as políticas monetária e fiscal trabalharam em sentido oposto por décadas, com impactos negativos para o Brasil. Por isso, essa equipe tem o diagnóstico de que é necessário avançar em reformas, afirmou.

“Tem um diagnóstico de que a melhor coisa a ser feita era avançar nas reformas e nas propostas que foram feitas para que o mercado fosse reprecificando a curva de juros, que a inflação fosse arrefecendo e você fosse criando um cenário que permitisse ao Banco Central iniciar um ciclo de cortes de juros”, disse o diretor.

Galípolo, que foi secretário-executivo do Ministério da Fazenda no primeiro semestre deste ano, acrescentou que a precificação de cortes na Selic embutida na curva de juros foi importante – inclusive, com efeito mais relevante do que o corte inicial de 0,5 ponto porcentual na Selic em agosto.

Ele acrescentou que a política monetária tem sido capaz de combater a inflação, lembrando que o BC não tem metas de diferencial de juros com os Estados Unidos, câmbio ou desemprego. “O Banco Central tem uma meta de inflação, a gente está sempre observando aquelas variáveis porque elas têm uma correlação”, disse.