O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, fez um esforço nesta quinta-feira, 6, para afastar a sensação de que haveria um racha na diretoria da autoridade monetária após a última reunião do Copom. Galípolo afirmou que, embora entenda a simbologia e a semiótica transparecida no último encontro, seria importante “deixar claro” que não houve uma discussão antagônica entre os diretores.

“E quem trabalha com modelos similares ao do BC sabe que 25 pontos-base estão dentro do intervalo de confiança, é uma discussão quase esotérica para inflação, o que não quer dizer que não tenha valor”, disse o diretor da autoridade monetária.

Ele voltou a falar do peso do “forward guidance” na decisão de quem votou pela redução de 0,5 ponto porcentual, pontuando que os diretores mais antigos estão na “volta da vitória”, desfrutando de uma credibilidade conquistada nos últimos anos que eventualmente não os vincularia a “entregar o guidance”, o que não necessariamente aconteceria com os novos integrantes do BC.

“Se eu acreditar que é verdade o que vemos e lemos, a partir da autonomia, cada diretor vai ser analisado de forma individual”, disse Galípolo, pontuando que isso pode provocar diferenças marginais como “aconteceu agora”.

Argumentou, contudo, que seria equivocado entender que houve um trade off entre o compromisso com a guidance e o compromisso com a meta de inflação – que está “colocado”, garantiu.

Galípolo também reconheceu ser curioso que, segundo ele, passe mais tempo defendendo o voto dos diretores que foram favoráveis a uma redução menor da taxa de juros, argumentando que há muito valor no consenso. “Vejo muito valor no consenso não só por questão conjuntural, é menos fácil errar em nove do que errar sozinho. Todas as vezes temos diálogos francos, honestos. É um volume imenso de informações”, disse o diretor, pontuando que ninguém teria se surpreendido com o seu voto ou com o do presidente do BC, Roberto Campos Neto.

“Não gostaria que em algum momento o consenso fosse utilizado como escudo para se proteger de críticas. Quando eu achar que tenho de entrar numa reunião adaptando meu voto para me proteger de críticas, eu vou empilhar decisões ruins e ter dificuldade na minha gestão”, continuou Galípolo, voltando ainda a elogiar Campos Neto, que, segundo é “super preocupado” em respeitar a autonomia decisória dos diretores. “Ele nunca me ligou para me perguntar o que vou decidir, o que eu quis dizer. O que aconteceu foi que, quando eu procurei ele, ele foi sempre cuidadoso. E sempre é o primeiro para ligar e prestar apoio”, disse. “Tenho inclinação de ver muito valor no consenso por minimizar chance de equívoco”, concluiu.