Sabatinados e votados no Senado nesta terça-feira, 4, Gabriel Galípolo e Ailton Aquino foram aprovados para assumir por quatro anos diretorias do Banco Central. O ex-secretário do Ministério da Fazenda ficará na Política Monetária, enquanto o servidor de carreira fica com a Fiscalização. Economistas acreditam que os nomes do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – principalmente Galípolo, indicado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad – podem dar o empurrão que faltava para uma possível queda de juros na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que acontece na primeira semana de agosto.

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Resumo

  • Gabriel Galípolo e Ailton Aquino foram aprovados para assumir por quatro anos as diretorias do Banco Central;
  • Analistas avaliam possíveis impactos dos novos diretores do BC na próxima reunião para definir juros;
  • Mercado vê aprovação com maior interferência do governo na autarquia e risco de inflação.

Na Comissão, o tema dos juros altos no país foi argumento favorável aos indicados. “Espera-se que tanto o Gabriel como o Ailton, à frente da diretoria do Banco Central, possam, de alguma forma, na próxima reunião, em sendo eleitos, diminuir esse conservadorismo que tem apresentado o presidente do Banco Central, permanecendo com a taxa de juros em 13,75% já há algum tempo, quando o mercado e indicadores mostram a necessidade da sua diminuição”, declarou o senador Otto Alencar (PSD-BA).

Efeitos no Comitê de Política Monetária

Para André Roncaglia, economista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), “a combinação desses dois diretores levam uma visão de bem-estar social mais forte para a diretoria do Copom”, reforçando que os colegas devem votar na mesma linha no Comitê de Política Monetária, mas sem arranjo político nos bastidores.

Galípolo já é cotado como próximo presidente da instituição monetária, após o fim do mandato de Roberto Campos Neto, desafeto de Lula com previsão de deixar o cargo em 2024. Especialistas enxergam horizonte de uma Selic – hoje a 13,75% – mais baixa com a entrada do ex-secretário.

“[Ele] deve levar para o Banco Central um esforço de harmonização com a política fiscal do governo Lula e vai tentar oferecer um balanço de riscos diferentes da economia brasileira dentro do Copom, e tentar, na medida do possível, evidenciar não apenas a possibilidade de reduzir a taxa de juros, mas também a necessidade de se fazer isso para que sejam respeitados os mandatos do Banco Central, que não se resume a estabilidade de preço mas devem também observar ainda de maneira subsidiária, a estabilidade financeira que é algo que vem sendo gradualmente corroído pela Selic em patamares muito elevados”, avalia o professor.

Para Ricardo Hammoud, professor de Macroeconomia do IBMEC SP, a política do BC pode ter ainda mais o ‘dedo’ de Lula. “Eles têm um alinhamento muito grande, estão lá para uma função, que é fazer com que o Copom seja mais subserviente ao governo federal, e a ideia é tentar reduzir a taxa de juros numa velocidade maior”, defende. 

“As medidas até aqui implementadas produziram, no primeiro semestre, apreciação da nossa moeda, previsões de um déficit primário menor, a aprovação de um conceito de uma nova regra fiscal, projeções de crescimento mais elevado, menor inflação e o mercado já projeta taxas de juros mais baixas”, afirmou Galípolo durante a sabatina.

Críticas

Na visão do mercado, o nome de Galípolo já é certo com defesa de intervenção estatal na autarquia, o que pode ir contra o fluxo de queda da inflação.

“Já se declarou o diretor que veio para representar a vontade do presidente. É alguém que defende mais Estado na economia, e com um governo desse, por natureza mais interventor e gasta mais, representa uma trajetória maior da dívida pública, e isso faz com que as expectativas inflacionárias possam voltar a crescer num médio prazo e tenhamos que voltar a subir taxa de juros”, defende Bruno Musa, economista e sócio da Acqua Vero.

Musa recorda que o BC é independente e não há cenário de mudanças sobre a prerrogativa no Legislativo – vale lembrar que um pedido de exoneração, por exemplo, dependeria do aval do Senado. “O PT pode continuar indicando diretores até a saída de Campos Neto, e quem indica o novo nome é o presidente”, afirma, reforçando que a lei da chamada autonomia do Banco Central pode ficar apenas no papel.

Perfis

Quem é Ailton Aquino?

Chefe do Departamento de Contabilidade, Orçamento e Execução Financeira do BC, o baiano é formado Ciências Contábeis na Universidade do Estado da Bahia (UFBA) e entrou na Fiscalização da instituição financeira em 1998. Aquino é o primeiro homem negro a ocupar cargo de diretor no banco. Possui pós graduações nas áreas de Engenharia Econômica de Negócios, Direito e Contabilidade Internacional. Ailton é natural de Jequié, município do sudoeste da Bahia.

Quem é Gabriel Galípolo?

Formando em Ciências Econômicas e mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica, Galípolo saiu do cargo de secretário executivo do Ministério da Fazenda após ser indicado pelo governo para assumir direção no BC. Pesquisador Sênior do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), também esteve à frente do banco durante os estudos para o processo de privatização da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro.