O presidente do Banco Central Gabriel Galípolo apostou na psicanálise e na poesia para resumir os desafios do BC em seu primeiro ano de mandato. “O BC não pode se emocionar na hora de cumprir o seu papel. Quando ele cumpre bem o seu papel, ele geralmente vai desagradar alguns lados”, explicou. 

A declaração foi dada durante o Encontro Anual dos Dirigentes dos Bancos, promovido pela Febraban nesta segunda-feira, 24. Galípolo lembrou de Sigmund Freud ao explicar a dificuldade de se governar, principalmente na equipe econômica. “Freud diz que governar é uma ação impossível e isso é ainda mais sério na equipe econômica, que é responsável por sintetizar um conflito distributivo extremamente complexo”, afirmou. 

+Mercado reduz expectativa de inflação para 2025 e 2026, mostra Focus

No cargo de presidente desde o início de 2025, Galípolo virou alvo prioritário de nomes dentro do PT e da equipe econômica do governo Lula por conta das altas taxas de juros. Para se defender além dos documentos oficiais do BC, Galípolo lembrou de uma poesia de Carlos Drummond de Andrade para ilustrar a complexidade dessa tomada de decisão. 

“O Drummond tem um poema maravilhoso que fala sobre a porta da verdade estar meio aberta e só permitia a passagem de meia pessoa por vez. Quando arrebentaram a porta a verdade seguia dividida em dois, mas cada um continuava com sua meia verdade, de acordo com sua miopia e sua própria crença. Em toda a realidade vão existir várias camadas e na economia sempre vai ter um mas”, divagou.

Juros foram criticados pela ministra Simone Tebet

Minutos antes de sua fala, a ministra do Planejamento e Orçamento Simone Tebet criticou o atual patamar dos juros brasileiros e afirmou que “a inflação não pode ser impeditiva do crescimento” e que o remédio contra a inflação “não pode matar o paciente”. 

Sem responder diretamente, Galípolo afirmou que os estudos que mostram os juros brasileiros em um patamar elevado em comparação com países emergentes contam uma “meia verdade”. “Apesar de o Brasil ter uma taxa de juros real próxima a 10%, a economia tem demonstrado resiliência, com o menor nível de desemprego da série histórica”, afirmou. 

Galípolo reforça instituições no caso do Banco Master

Ao tratar do tema de estabilidade financeira, Galípolo destacou que os bancos são instituições “falíveis”, e que é importante que o BC aprenda e evite a repetição de erros de passado.

Sem citar o banco Master, que teve sua liquidação extrajudicial decretada pelo BC este mês, Galípolo disse ainda que o BC “seguiu o gabarito” ao tratar da questão da estabilidade financeira este ano.

“Foi fundamental que as instituições de Estado funcionassem da maneira que devem, respeitando o sigilo e seguindo os ritos legais previstos. O objetivo dessa cooperação foi garantir que nenhuma atitude individual atrapalhasse o trabalho do outro. O Banco Central notificou e identificou a situação, como previsto em lei, o que permitiu que o Ministério Público, a Polícia Federal e o Judiciário cumprissem o rito legal”, encerrou.