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18/08/2025 - 15:51
Que governo, PT e a Faria Lima não se misturam, todos sabem. Mas, mesmo distantes, há um interesse que une petistas e gestores: a redução dos juros ainda em dezembro de 2025. E nessa toada o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, vem se tornando alvo de pressão de todos esses grupos.
Apesar da pauta comum, os interesses na queda da Selic são distintos. Os petistas apostam que esse movimento ajudará na recuperação do nível da atividade econômica no próximo ano para pavimentar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula tem evitado criticar o BC, mas sempre que possível clama publicamente pela diminuição da taxa.
Por outro lado, esse movimento importa para o mercado porque o início do ciclo de queda juros coincide com a retomada do fluxo de investimentos para renda variável e para projetos na economia real, como as obras de infraestrutura. Com os juros altos, investidores tendem a buscar segurança na renda fixa. Quanto maior a clareza nesse processo de redução da Selic, maior o volume de recursos antecipados para a B3.
Apesar da torcida dos petistas e da pressão do mercado pela redução de juros ainda em 2025, Galípolo e os demais diretores da autoridade monetária não têm sinalizado que isso deve ocorrer até dezembro. Tanto na comunicação oficial e nos eventos públicos quanto nas conversas privadas com representantes do setor financeiro, o presidente do BC, o diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, e o diretor de de Política Monetária, Nilton David, têm apontado que um corte da Selic ainda 2025 não é possível, diante da resiliência da atividade econômica e do nível de ocupação no mercado de trabalho, além dos riscos externos e do drama fiscal.
A última ata do Copom foi dura ao sinalizar que os juros ficarão inalterados “por período bastante prolongado”, o que indica, neste momento, queda de juros somente em 2026.
Na prática, as pressões do mercado e do governo, neste momento, são insuficientes para convencer Galípolo e os demais diretores do BC de que a queda de juros seria um movimento acertado. Além disso, o chefe da autoridade monetária não pode se curvar ao mercado ou ao governo enquanto ainda constrói sua reputação como banqueiro central – qualquer deslize, afinal, tem potencial para abalar a credibilidade conquistada até aqui.
Mercado antecipa movimento de corte nos juros
Mas, assim como na política, os gestos e sinais importam e as decisões do mercado devem ser acompanhadas com lupa. E dois movimentos antecipados chamaram a atenção dos analistas na última semana.
No primeiro deles, o banco BTG Pactual recomendou aos clientes, em relatório divulgado na última sexta-feira, 15, que “comprem Brasil”. O call positivo considera que os dados macroeconômicos recentes sugerem que o país está próximo de um ponto de inflexão na política monetária “ultra restritiva”. Significa dizer que os juros devem cair antes do esperado.
Além disso, o respeitado investidor norte-americano Stanley Druckenmiller reportou à SEC – equivalente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) nos Estados Unidos – um investimento de US$ 21,3 milhões no ETF EWZ no segundo trimestre, totalizando 0,5% do portfólio do seu family office, o Duquesne.
O EWZ é um fundo de índice negociado na bolsa de valores dos Estados Unidos que replica o desempenho do Brasil.
Druckenmiller é conhecido por ter trabalhado no Quantum Fund de George Soros, o mega investidor que quebrou a libra esterlina na década de 1990. Ele foi chefe do atual secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent.
O ritmo de queda da atividade econômica e da inflação serão determinantes na decisão do BC de cortar os juros. Por enquanto, a autoridade monetária não sinaliza disposição de reduzir a taxa. As apostas, porém, estão lançadas.