Gabriel Galípolo, o atual secretário executivo do Ministério da Fazenda, foi indicado pelo governo para a diretoria de Política Monetária do BC (Banco Central) nesta segunda-feira (8). O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou que a sugestão de indicá-lo ao cargo teria vindo do atual presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto.

Elemento importante na campanha presidencial do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com histórico acadêmico e em instituições bancárias, Galípolo assumiu papel essencial no diálogo entre Lula e o mercado financeiro. Embora seja visto como um técnico com boa circulação no governo, setores do mercado avaliam que a sua indicação para o BC é um sinal de tentativa de interferência política na autoridade monetária.

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“Ele vai para o BC para levar a agenda do governo para dentro da instituição. A indicação do Galípolo para diretoria do Banco Central sinaliza que o governo deverá apostar na indicação de um economista não ortodoxo no momento de troca de Roberto Campos Neto. É provável que os operadores de mercado precifiquem essa medida conforme se aproximar a troca de comando da instituição”, afirma Fábio Pereira de Andrade, economista, especialista em gestão pública e professor do curso de Administração da ESPM-SP.

Para o professor da ESPM-SP, entretanto, apesar de certo receio apresentado por agentes financeiros em relação à Galípolo, não há indícios mais significativos de que o mercado enxergue essa indicação como algo muito negativo. “Nesta terça (9), período da manhã, não há nenhum sinal factual de desaprovação dos operadores de mercado. Dólar, Ibovespa e Euro permanecem estáveis, com leve viés de alta”, diz.

A percepção é compartilhada por Sillas Cezar, professor de Economia do Centro Universitário FAAP. “O fato de o mercado estar operando ‘no azul’, um dia depois do anúncio, também releva certa aceitação. Suponho que isso venha do fato do mercado ter, em certa medida, se preparado para nomes mais intervencionistas.”

“O mercado tem uma boa imagem do Galípolo, tanto é que a bolsa de valores está indo bem a semana toda mesmo depois que o Haddad anunciou a indicação. A passagem dele pelo ministério da Fazenda foi muito boa e fortalece o nome dele dentro do próprio governo. Há uma discussão em torno de colocá-lo como um dos nomes para presidir o Banco Central em 2025”, afirma o economista, especialista em gestão de negócios e CEO do Grupo BCBF, Rica Mello.

Para Cezar, com o atual secretário-executivo no BC deverá haver algum enriquecimento do debate sobre as causas da inflação e sobre o alcance das variações da Selic nas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária), embora ele não acredite que isso gerará mudanças substanciais. “Diferente dos ministérios de um governo, a missão do Banco Central está dada na preservação do poder de compra da população e isso está diretamente ligado ao controle da inflação. A julgar pelo que conhecemos de Galípolo até aqui, acredito que sua ação será ponderada por isso”.

O professor da FAAP acredita que Haddad tem tentado construir um discurso que combina independência em relação aos clichês dogmáticos tanto do mercado quanto do petismo mais tradicional. “Galípolo me parece o técnico mais alinhado a essa determinação. Na prática, o que temos até aqui é um economista que assume um discurso responsável, mas sem a necessidade de se provar um liberal puro sangue, como era o caso dos técnicos do governo Bolsonaro. Qualquer economista sério de hoje em dia sabe que nem a ortodoxia, nem a heterodoxia são perfeitas ou suficientes em si mesmas como soluções de problemas sociais complexos.”

Lula terá mais duas vagas para preencher neste ano no BC: as diretorias de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos e a de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta. Em 2024, além da escolha do novo presidente do Banco que sucederá Campos Neto, o governo terá outras duas trocas a serem feitas nas diretorias da instituição, o que garantirá o controle do BC pela gestão petista.

O que pensa Galípolo?

Galípolo possui formação econômica heterodoxa, ou seja, baseada em conceitos econômicos desenvolvimentistas que defendem a participação do Estado em setores estratégicos para o desenvolvimento do país. Uma das razões que levam setores do mercado a desconfiarem do secretário-executivo é sua associação à MMT (sigla em inglês para “Nova Teoria Monetária”), teoria econômica vista com maus olhos por economistas ortodoxos ligados ao mercado. A teoria defende, entre vários pontos, que países que emitem sua própria moeda sempre poderão imprimir mais dinheiro para pagar sua dívida.

No entanto, sua passagem pelo mercado financeiro é visto como um importante fator de ponderação na interlocução do atual governo com o empresariado. Galípolo rejeita a oposição de políticas públicas ao setor privado, é defensor das PPPs (parcerias público-privadas) e até mesmo de privatizações, em determinados casos.

“Eu diria que ele tem uma imagem bastante associada aos jovens professores da PUC-SP, que, embora assumam-se heterodoxos, ou seja, críticos do ‘fiscalismo’, tendem a ser mais pragmáticos que as gerações anteriores, para quem Keynes era uma espécie de guru sagrado e responsabilidade fiscal era coisa do demônio. A favor dessa impressão, pesa a competente passagem dele pela prefeitura de SP e a coautoria do novo arcabouço fiscal, cujo desenho, ao menos em termos teóricos, tem muitos méritos intelectuais”, afirma Cezar.

Currículo

Formado em Ciências Econômicas e mestre em Economia Política pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), é pesquisador sênior do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais) e professor do MBA de PPPs e Concessões da FESP SP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo) em parceria com a London School of Economics and Political Science. Escreveu três livros em parceria com Luiz Gonzaga Belluzzo, economista desenvolvimentista que foi um dos principais conselheiros econômicos nas duas primeiras gestões Lula.

Fundou em 2009 a Galípolo Consultoria, da qual foi sócio-diretor até 2022, e presidiu o Banco Fator de 2017 a 2021. É conselheiro do Conselho Superior de Economia e do Conselho de Infraestrutura da FIESP. Consultor na área de PPPs, ocupou cargos no governo estadual de São Paulo na gestão José Serra. Apesar de não ser filiado ao PT, tem relações com o partido há mais de dez anos, quando ajudou, em 2010, na construção do plano de governo de Aloizio Mercadante (PT), atual presidente do BNDES.