07/05/2008 - 7:00
DINHEIRO ? Quais são os potenciais ganhos de sinergia e eficiência com a incorporação da Brasil Telecom pela Oi?
LUIZ FALCO ? Nosso negócio é intensivo em capital, e escala é fundamental. De maneira geral, toda empresa de telecomunicações que foi vencedora saiu de seu território e conquistou outras bases. Isso aconteceu com a Telefônica e com a Telmex, que saíram da Espanha e do México para buscar a América Latina. Isso vai acontecer conosco, os brasileiros. No caso da Oi, vamos entrar tanto no ?Brasil São Paulo?, por meio da telefonia celular, como na área da Brasil Telecom, com todos os serviços. Teremos uma expansão geográfica e, por acaso, essas áreas estão no País.
DINHEIRO ? Mas a idéia não é internacionalizar a Oi?
FALCO ? Sim, mas não vamos parar o movimento de expansão interna. Depois, sairemos para outros países.
DINHEIRO ? Considerando que praticamente todos os países já privatizaram, ainda existe espaço aí fora?
FALCO ? É possível entrar num mercado por meio de privatizações, mas também em outros momentos. Na nossa região entramos na telefonia fixa quando houve a privatização. Na telefonia móvel, construímos a infraestrutura, fomos o último entrante. Hoje, somos líderes de mercado.
DINHEIRO ? Mas quais seriam as oportunidades externas?
FALCO ? Vejo duas linhas. A primeira é a da vizinhança, na América Latina, onde o Brasil está presente em várias atividades e pode estar também na telefonia. A segunda é a dos mercados de língua portuguesa, em especial na África. Se haverá uma empresa de telecomunicações de língua portuguesa no mundo, idioma falado por 250 milhões de pessoas, é natural que a liderança seja dos brasileiros, que são 180 milhões. Isso é um plano de curto para médio prazo.
DINHEIRO ? É possível esperar reduções de custo na empresa?
FALCO ? Sem dúvida. No Dia das Mães, vou fazer uma oferta de telefonia fixa e telefonia celular. A Brasil Telecom fará a mesma coisa. Se já estivéssemos juntos, haveria um só material de ponto-de-venda, uma só campanha publicitária e assim por diante. E sem falar na alavanca de melhores práticas. A Brasil Telecom tem 20 e coisas que faz melhor do que a Oi. Nós temos 20 coisas em que somos melhores do que ela. Agora, serão 40 coisas boas na nova empresa.
DINHEIRO ? A Oi teve a experiência de integrar 16 subsidiárias da antiga Telemar. De que maneira isso pode ajudar na incorporação da Brasil Telecom?
FALCO ? São variações sobre o mesmo tema. Num exercício acadêmico, considerando que não haverá impedimentos societários para uma integração, parece óbvio que teremos um só sistema SAP. Da mesma forma, apenas um centro de gerenciamento de rede.
DINHEIRO ? Já está definido que a marca Oi permanecerá por estar mais consolidada nacionalmente?
FALCO ? A gente costuma fazer tudo aqui dentro com muita ciência. Há dois anos, contratamos a Interbrand para saber se a nossa marca seria Oi ou Telemar. Para surpresa geral, inclusive minha, a marca Oi prevaleceu. Obviamente, faremos um estudo do nome Oi em relação ao da Brasil Telecom, mas eu diria, de antemão, que a chance de que a Oi prevaleça novamente é quase total. Mas isso será feito de forma técnica, sem paixão.
DINHEIRO ? Na questão dos empregos, de que maneira serão afetados pela união das empresas? Haverá cortes?
FALCO ? Por incrível que pareça, esse não é um problema. E o motivo é simples. As duas operadoras são complementares e 95% da mão-de-obra está na operação. Apenas 5% dos empregos estão na parte gerencial. Portanto, não há sobreposição. O sujeito que sobe num poste no Rio de Janeiro não é o mesmo que subirá em Goiânia.
DINHEIRO ? Mas e na parte gerencial?
FALCO ? Quando você exclui dessa questão 95% da mão-de-obra, o que era um problema vira um probleminha. E nós temos uma feliz coincidência. A operação ocorre num momento de franca expansão. A Oi está contratando 800 pessoas. Imagino que a Brasil Telecom também esteja contratando.
DINHEIRO ? Qual será a soma de empregos das duas companhias?
FALCO ? Nós temos 8,9 mil colaboradores, enquanto eles têm 16 mil pessoas, dos quais 10 mil são do call center. Então, são seis mil deles, que se somam aos nossos nove mil, o que dá uma empresa de 15 mil funcionários. Além disso, no acordo de acionistas dessa nova empresa, que logo será tornado público, há um compromisso de não reduzir os cargos de trabalho nos primeiros três anos. Portanto, a questão trabalhista não é um problema. Mas, se fosse, estaria resolvida pelo acordo de acionistas logo na largada.
DINHEIRO ? O sr. já rejeitou a idéia de que a nova Oi dê contrapartidas, que seriam um ?piano para carregar?. Mas isso não é uma contrapartida?
FALCO ? Não. É uma demonstração de que estamos aqui para comprar e para crescer. Meu ponto em relação às contrapartidas é outro. Essa operação é muito boa em si. É boa para o consumidor, porque aumenta a competição. É boa para o investidor, que poderá colocar o dinheiro numa empresa sem conflitos e sem amarras. Ora, se a operação é boa, por que contrapartidas?
DINHEIRO ? Sim, mas houve o apoio do governo e do BNDES e há quem fale em golden share. Não seria essa uma eventual contrapartida?
FALCO ? Não. O acordo de acionistas será tornado público e as pessoas verão que não tem golden share. O que tem é direito de preferência. Se uma parte quer vender, a outra tem prioridade na compra. O Brasil está ganhando uma superoperadora. Poderíamos ser um Equador ou um Peru, com apenas duas plataformas operando aqui: uma mexicana e uma espanhola. Nós decidimos que não seremos assim.
DINHEIRO ? É possível demonstrar que haverá aumento de competição quando se elimina um concorrente?
FALCO ? É, e é muito fácil. O que algumas pessoas estão dizendo reflete apenas o desconhecimento de quem não parou para estudar. Vamos dividir os mercados. Na telefonia móvel, temos duas empresas de regiões diferentes que serão juntadas e que são dois competidores regionais. Elas lutam contra três competidores nacionais, que são Vivo, TIM e Claro. Agora, haverá quatro competidores nacionais.
DINHEIRO ? Mas a Oi e a Brasil Telecom não poderiam ser, isoladamente, competidores nacionais?
FALCO ? Isso não era possível por uma questão de escala. Neste momento, conseguimos apenas a licença para não morrer. Se continuássemos separados, morreríamos. Mas o fato é que o mercado sai ganhando. Imagine uma empresa como a GM, que tem concessionárias nacionais. Antes, ela só tinha uma alternativa, que era a Embratel. Agora, tem também a Oi. Em nenhum segmento de mercado há prejuízos à concorrência.
DINHEIRO ? E como será a chegada da Oi a São Paulo?
FALCO ? Vamos chegar no segundo semestre, com as mesmas inovações. Na nossa área, operamos contra três gigantes internacionais, que na verdade são dois, porque a TIM já foi comprada pela Telefônica, e somos líderes de mercado, com quase 30% de participação de mercado. A expectativa para São Paulo é muito positiva.
DINHEIRO ? E o que se pode esperar da competição da telefonia com empresas de TV a cabo, como a NET?
FALCO ? A NET, na verdade, é o mexicano [Carlos Slim, dono da Telmex] vestido de cordeiro. O que a NET tem é uma assimetria a favor. Hoje, a TV a cabo pode fazer telefonia, mas a telefonia não faz TV.
DINHEIRO ? Nessa operação de compra da Brasil Telecom, a Oi assume dois compromissos: o de pagar aos sócios da BrT pelo fim dos litígios e também o de indenizar a empresa em caso de fracasso do negócio. O risco não é exagerado?
FALCO ? São duas coisas distintas. Para a Brasil Telecom, há um breakup fee de R$ 500 milhões, que é uma indenização a ser paga, caso o negócio não saia. Isso é justo, porque a operação só sai se a Anatel mudar a lei.
DINHEIRO ? E qual é o risco?
FALCO ? Se depender de mim, vou trabalhar para que não aconteça.
DINHEIRO ? Mas a mudança não depende de um decreto do presidente Lula?
FALCO ? Esse decreto é necessário. Imaginamos que isso vá ocorrer dentro de 90 dias.
DINHEIRO ? O caso Gamecorp, empresa do filho do presidente que foi apoiada pela Oi, não pode ser explorado?
FALCO ? Penso que não. A operação é boa em si. Se ela sair, o Brasil ganha. Se não sair, o Brasil perde.
DINHEIRO ? Mas e a Gamecorp?
FALCO ? Isso é tão pequeno diante do que a operação traz de bom! Até acho que os nossos concorrentes vão trabalhar para que a operação não aconteça. Mas a historinha deles está ruim de contar.
DINHEIRO ? E a questão dos litígios? Tanto a Brasil Telecom quanto o Opportunity estão sendo indenizados para renunciar a futuras ações. Isso é correto?
FALCO ? Nós queremos que a nova empresa nasça sem problema societário. Esse tipo de questão gera muita página de jornal e tira valor dessas empresas. Hoje, as companhias brasileiras de telefonia têm um desconto. Elas são negociadas a três vezes o ebitda, que mede a geração de caixa, quando a companhia do Carlos Slim é negociada a cinco vezes o ebitda. E é o mesmo negócio. Sem as brigas societárias, as duas empresas podem valer mais.
DINHEIRO ? Então as indenizações que estão sendo pagas são legítimas? FALCO ? Isso foi uma condição do comprador. Exigimos que todos os litígios passados, presentes e futuros fossem cessados. E o preço disso foi R$ 315 milhões, valor que já está sendo pago.