A empresária Carla Alcantara, 30 anos, passou por um susto no dia 21 dezembro. Uma tempestade repentina alagou sua residência, na zona sul de São Paulo. A região sofre com inundações frequentes, tanto que por lá os portões das casas possuem travas que impedem a entrada da água. 

Naquele dia, porém, um vizinho não se lembrou de acionar o equipamento antes de a chuva cair. O resultado foi que a enchente invadiu a casa dele e derrubou o muro, levando parte da residência de Carla a desabar sobre o carro dela. 

 

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Não houve vítimas, mas a perda do veículo foi total, coberta pelo seguro. Foi só um susto para Carla, mas a história poderia ter acabado com um prejuízo relevante. Em épocas chuvosas, as companhias de seguros registram 30% mais ocorrências do que a média do ano. Para evitar que a enchente arrase seu patrimônio, o segurado tem de tomar alguns cuidados para não ficar a descoberto se ocorrer o pior. 

 

?É possível adotar alguns procedimentos para reduzir os riscos e ainda facilitar o pagamento pela seguradora?, diz Richard H. Furck, diretor da H&H Corretora. Ele explica que a maioria das apólices de seguro de automóvel garante a proteção contra as enchentes e também contra os desabamentos provocados por elas. 

 

No entanto, é preciso verificar se essa cobertura consta da apólice. Se a palavra inundação não estiver nas letras miúdas, a seguradora não é obrigada a pagar. Além disso, mesmo que a tromba d?água esteja prevista, é preciso ficar atento para as exceções, que são chamadas de situações de risco. 

 

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“Ligar logo para o corretor evitou um prejuízo maior”

Paula Souto > a chuva inundou o carro da cantora 

 

Se ficar provado que o segurado agiu de maneira irresponsável e piorou as consequências, a seguradora não paga. ?Se houver imprudência, por exemplo o motorista tentar atravessar uma área alagada com seu carro, a seguradora pode entender que ele colaborou com aquele sinistro e recusar-se a reembolsar?, diz Furck.

 

Se o pior ocorreu, é possível tornar a indenização mais rápida e fácil depois que o susto passar. ?O segurado deve comunicar o sinistro o quanto antes à corretora ou à seguradora?, diz Marcelo Sebastião, diretor de automóveis da Porto Seguro. 

 

Usar o serviço de reboque da própria empresa, em vez de contratar um terceiro, mesmo que a seguradora cobre uma tarifa, torna mais ágil o processo de avaliação dos danos e de pagamento. 

 

Foi a agilidade em informar o problema que garantiu o sossego da cantora Paula Souto. Ela deixou o carro estacionado na rua e o encontrou inundado após uma noite chuvosa. ?Eu nem sabia que possuía essa cobertura, mas liguei para o meu corretor logo que vi o carro molhado?, diz ela. 

 

O telefonema a fez evitar um gasto pesado com a limpeza do veículo. Se tivesse descoberto o carro flutuando na garagem subterrânea do prédio, ela também teria direito à indenização. ?Como o cliente não teve culpa na inundação, o seguro protege?, diz Sebastião, da Porto Seguro. 

 

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O mesmo vale para casos em que um galho ou uma árvore desabam e destroem os carros estacionados sob elas. Se isso acontecer, a recomendação é a mesma para o caso das enchentes:  avise a seguradora o mais rápido possível. Ela vai avaliar os prejuízos e pagar a indenização conforme o contrato.

 

No caso dos imóveis, a situação do segurado é bem pior. Carla Alcantara possui uma pequena gráfica perto da casa onde mora. A mesma chuva que derrubou seu muro e destruiu seu carro danificou as impressoras. 

 

O seguro cobre apenas incêndio e roubo, ou seja, o prejuízo acabou no bolso da empresária. ?Estou tentando fazer um seguro que proteja os dois imóveis, a casa e a empresa, das inundações, mas não estou conseguindo.? 

 

Vai ser difícil. Pouquíssimas seguradoras vendem apólices contra enchentes domésticas, e as que o fazem cobram caro e não facilitam o processo. Felipe César Monte Gomes, responsável pela área de seguros residenciais da seguradora Itaú, explica o porquê. 

 

?Não é possível prever esses riscos com segurança?, diz ele. Como a seguradora não consegue dividir os custos por outros segurados, não sai negócio. A Liberty, uma das poucas seguradoras que vendem essas apólices, cobra caro e faz um estudo da área antes de assinar o contrato. ?Essa proteção pode custar até 10% mais que outras, dependendo do endereço do imóvel?, diz o diretor de produtos, Paulo Umeki. 

 

Nesse caso, o morador está literalmente a descoberto. No entanto, é possível reduzir um pouco os prejuízos, apesar dessa deficiência. Uma das alternativas é a contratação de um seguro para serviços extras, que paga profissionais para ajudar na remoção do entulho e da lama dos imóveis alagados. 

 

Empresários como Carla e profissionais que trabalham em casa ou usam o veículo também podem diminuir o prejuízo com um seguro contra lucros cessantes. Por não estar ligado a uma causa específica, ele garante o rendimento da empresa durante os dias parados, mesmo em caso de alagamento. 

 

Se o estrago for pesado a ponto de forçar uma mudança de endereço, uma das maneiras de evitar que o problema  se repita é conhecer os riscos antecipadamente. A ferramenta para isso é pedir a um arquiteto ou engenheiro que meça a probabilidade de enchentes e desmoronamentos. 

 

Conhecida como estudo de viabilidade, essa investigação analisa a geologia do terreno e a existência de lençóis freáticos. ?Esses estudos custam a partir de R$ 1,5 mil?, diz o arquiteto José Vicente Lopes, da Dória Lopes Fiuza Arquitetos Associados. Isso evita que a próxima chuva provoque os mesmos estragos na casa ou no carro.

 

Colaborou Jaqueline Mendes

 

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