26/03/2022 - 12:32
Os transtornos causados pelo aumento exponencial da demanda global de produtos devem se prolongar no transporte marítimo global ao menos até 2023, diz o presidente da Maersk para a Costa Leste da América Latina, Julian Thomas. Diante desse cenário, as principais transportadoras – a Maersk e outras quatro dominam dois terços dos negócios – encomendaram navios e contêineres, além de contratar armazéns, para tentar mitigar os impactos e garantir que as mercadorias cheguem aos seus destinos, se possível, sem atraso. Uma luta diária na qual a vitória parece ainda bem distante. Até a semana passada, a espera para esvaziar um navio em Los Angeles, no Oeste dos Estados Unidos, levava em média 23 dias.
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Pode-se dizer que no Brasil a situação é mais tranquila, mas ainda sim sujeita a turbulências. Por estar superinterligado a essa cadeia global, o País sofre atrasos pontuais à medida que os navios provenientes do exterior enfrentam engarrafamentos. Os contratempos geram transtornos operacionais nos portos pelo País e, principalmente, prejuízo às operadoras e aos clientes.
O transporte de ponta a ponta não envolve apenas navios. Trens, caminhões, barcaças e aviões se tornaram importantes aliados em momento de saturação da cadeia, afetada também pela guerra entre Rússia e Ucrânia que restringiu a circulação de navios em algumas regiões na Europa. Responsável por 20% do transporte marítimo global, a Maersk tem apostado – entre outras coisas – na construção de barcaças que vão interligar portos menores por meio da cabotagem. “Uma maneira de baratear os custos, facilitar o transporte e agilizar os processos”, disse Thomas.
O governo federal tem apostado nas privatizações para desenvolver a infraestrutura de transportes. Em 2021, afirmou ter destinado R$ 37,6 bilhões em investimentos para ferrovias, aeroportos, portos e hidrovias. A concessão envolveu 39 ativos, segundo o balanço do Ministério da Infraestrutura, que aponta também a realização de 79 leilões desde 2019 com a contratação de mais de R$ 100 bilhões em investimentos. Os recursos públicos empenhados no período, de acordo com o ministério, chegam a R$ 5,5 bilhões, para a modernização de todos os modais de transporte. O montante importante, mas insuficiente para reduzir a disparidade entre os meios.
É histórico e preocupante que, apesar do aparente empenho do governo em solucionar a questão, quase 75% do transporte pelo País ainda seja realizado por caminhões, o que leva mais tempo, além de encarecer o frete diante dos aumentos constantes dos preços dos combustíveis – o diesel subiu 35% apenas em 2022, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Isso sem contar que a frota brasileira tem em média 15 anos de uso, segundo a Confederação Nacional do Transporte, período que pode superar os 20 anos dependendo da categoria do veículo.
Além dos prejuízos causados por esses caminhões com quebras e acidentes pelas estradas do País, é fato que poluem muito mais do que modelos com motorização mais moderna, o que se revela um contrassenso diante das políticas mundiais para a redução da emissão de carbono. O discurso é antigo, é repetitivo, é cansativo. E a carga, ao que tudo indica até agora, muito mais pesada da que o governo tem condição de carregar.