23/11/2001 - 8:00
O leão está fazendo cem anos mas as garras continuam mais afiadas do que nunca. Desde a chegada das grandes marcas internacionais no mercado de chá pronto para beber, em meados dos anos 90, a Leão Junior, fabricante do Matte Leão, vem mostrando que é boa de briga: mandou de volta para casa marcas como Snapples e Arizona. Só teve de recuar diante da líder mundial Lipton, que hoje detém 44,8% de participação no Brasil. Apesar de ter perdido a liderança, a empresa paranaense não parou de crescer. O faturamento aumentou 90% nos últimos cinco anos. A explicação é simples: o mercado se ampliou e os 40,8% que a Leão Junior dispõe hoje valem mais do que os cerca de 80% de dez anos atrás. Em 2001, a receita da empresa deve fechar em R$ 118 milhões. ?O setor está crescendo muito e há espaço para todos?, diz Antônio Carlos Leão, diretor de marketing e vendas. A diplomacia do executivo não significa que o rei da selva deixará seu espaço ser invadido impunemente. Vem aí uma estratégia agressiva de investimentos que inclui ampliação de fábricas, expansão de canais de distribuição e novos produtos.
Uma das raras empresas do País a permanecer no seio familiar por mais de um século, a Leão Junior era, até o início dos anos 90, basicamente um produtor de chá seco, nos mais variados sabores. Dispunha de alguns produtos instantâneos e concentrados, mas tinha como canal de distribuição basicamente os supermercados. Com a onda do chá pronto tomando conta do mundo, a Leão se viu, de repente, com uma pata em um gigantesco mercado. Dentro do universo de bebidas não alcoólicas, trata-se do segundo setor que mais cresce no mundo, atrás de águas, movimentando US$ 10,5 bilhões em 2000. No Brasil, são R$ 180 milhões. Entretanto, a briga por espaço é feroz. A diversidade de pontos de venda para bebida pronta demanda grandes investimentos e uma estratégia de marketing mais agressiva. É preciso ainda um canal de distribuição eficiente para fazer frente a Ambev, responsável pela Lipton no País.
Reforço na distribuição. Atualmente, as bebidas prontas representam um terço do faturamento da empresa. O restante é chá seco. ?Em breve a proporção deve se inverter?, diz Antônio Carlos. Os investimentos para viabilizar esse crescimento já estão em curso. Este ano, além da ampliação de uma fábrica no Paraná, a empresa investiu R$ 4 milhões em infra-estrutura e treinamento. Ampliou sua central de distribuição em São Paulo e está abrindo filiais terceirizadas em Belo Horizonte e Porto Alegre. Para 2002, investimentos de R$ 6 milhões irão viabilizar uma nova central no Nordeste, além de duas novas fábricas. Serão lançados ainda dois novos produtos, no segmento de bebidas prontas, ampliando para 73 itens o portfólio. ?Somos uma empresa conservadora, crescemos com recursos próprios?, diz Antônio Carlos, que é bisneto do fundador Agostinho Leão Jr. Essa cautela, aliada a uma estrutura societária clara ? desde 1991 a relação entre os 25 sócios é regida por um acordo societário com regras bem definidas ? tem garantido a longa sobrevivência da Leão e feito da companhia um alvo constante da cobiça estrangeira. E justamente por isso, a família nem pensa em abrir mão do negócio.