29/07/2025 - 13:52
Monitor global da desnutrição alerta para pior momento da catástrofe humanitária na Faixa de Gaza e pede que Israel libere a entrada de ajuda de forma imediata e irrestrita. Próximos dias serão “decisivos”, diz ONU.O “pior cenário possível de fome” está acontecendo agora em Gaza, com adultos e crianças morrendo por não ter o que comer, sob ataques e um bloqueio imposto por Israel à entrada de ajuda humanitária, anunciou nesta terça-feira (29/07) a Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC, da sigla em inglês), iniciativa apoiada pela ONU.
“Evidências crescentes mostram que a insegurança alimentar generalizada, a desnutrição e as doenças estão provocando um aumento nas mortes relacionadas à falta de alimentos”, frisou a entidade, que alerta, ainda, que o único caminho para reverter o rápido aumento da “fome e da morte” é liberando o acesso de grupos humanitários ao território, de forma imediata e irrestrita.
“A falta de ação agora resultará em mortes generalizadas em grande parte da Faixa de Gaza”, afirmou o monitor global de desnutrição.
O aumento nas mortes de crianças pequenas relacionadas à fome tem sido particularmente preocupante para quem acompanha a situação de catástrofe no território palestino. “Mais de 20 mil crianças foram internadas para tratamento de desnutrição aguda entre abril e meados de julho, com mais de 3 mil gravemente desnutridas”, relata o IPC.
Ao menos 16 crianças com menos de 5 anos morreram de fome nas últimas duas semanas, situação que deve piorar se nada mudar, alerta a entidade.
O comunicado foi divulgado enquanto Gaza, controlada pelo Hamas, anunciava que mais de 60 mil pessoas foram mortas durante os 22 meses de guerra com Israel. Em maio, o IPC havia dado o alerta de “risco de fome” em Gaza.
“Gota no oceano”
Israel impôs um bloqueio total a Gaza em 2 de março, após o fracasso das negociações de cessar-fogo com o grupo extremista Hamas. No fim de maio, o governo israelense começou a permitir a retomada de um pequeno fluxo de ajuda, em meio a alertas e a indignação pela onda de fome gerada.
No entanto, a quantidade de suprimentos tem sido insuficiente, enquanto crescem os alertas sobre o agravamento da catástrofe em Gaza.
Diante da pressão de entidades e países – como ONU, França, Reino Unido e Alemanha –, Israel anunciou no último domingo que faria “pausas táticas” diárias nas operações militares em partes de Gaza, afirmando que mais de 120 caminhões de alimentos foram autorizados a entrar. Países como Jordânia e Emirados Árabes Unidos foram autorizados a lançar alimentos.
No mesmo dia, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse ser “uma mentira descarada” que seu governo tenha levado Gaza a uma situação de fome. “Não há política de fome em Gaza, e não há fome em Gaza”, afirmou.
Essas entregas de ajuda, no entanto, são apenas uma “gota no oceano” do que é necessário em Gaza, disse Tom Fletcher, diretor de ajuda humanitária da ONU, em entrevista à BBC.
Centenas de milhares de pessoas estão “desesperadamente famintas” em Gaza, e a maioria dos caminhões liberados neste domingo acabou sendo “atropelada por civis desesperados, famintos”, relatou.
Momento decisivo
Fletcher destacou que os próximos dias serão “realmente decisivos” e reforçou a necessidade de que equipes de ajuda humanitária tenham acesso às travessias de fronteira, recebam autorizações para operar e não sejam bloqueadas.
Ele afirmou ser necessário um período prolongado de semanas ou meses para acabar com a fome no território, palco de uma “atrocidade”. Fetcher disse ainda esperar que a Fundação Humanitária de Gaza (FHG) – único grupo autorizado a distribuir ajuda atualmente – atue de forma mais “humanitária”.
Antes do bloqueio de março, havia centenas de pontos de distribuição de ajuda humanitária em Gaza. Essa operação era supervisionada pelas Nações Unidas.
Desde maio, quando o bloqueio total foi suspenso, apenas a FHG, apoiada pelos Estados Unidos e por Israel, está autorizada a distribuir ajuda, em apenas quatro locais. Por isso, grande parte dos dois milhões de palestinos que vivem em Gaza são obrigados a andar grandes distâncias em busca de ajuda, sendo alvos de tiroteios quase diariamente.
Na semana passada, o Alto-Comissariado da ONU para os Direitos Humanos afirmou que o Exército de Israel matou nos postos de ajuda pelo menos 410 palestinos em busca de comida.
sf/md (AFP, Reuters, AP, ots)