As autoridades britânicas e alemãs examinavam nesta quinta-feira a  lista com 22.000 formulários de membros da organização Estado Islâmico  (EI) vazada por um ex-combatente decepcionado com o grupo e sobre a qual  alguns especialistas lançaram dúvidas.

A polícia federal alemã estimou que a informação sobre os jihadistas  alemães “é provavelmente” verdadeira, enquanto Londres se limitou a  manifestar que estava examinando os documentos.

A lista é composta por formulários que contêm endereços, telefones, contatos familiares e até tipo sanguíneo dos jihadistas.

Trata-se dos formulários que preenchem ao se integrar ao grupo, e  revelam que a maioria deles são de países árabes, seguidos por  franceses, alemães e britânicos.

O canal de televisão britânico Sky News publicou nesta quinta-feira  detalhes desta lista, que já havia sido citada na segunda-feira por  alguns meios de comunicação alemães.

As informações estão contidas em um dispositivo USB, roubado do chefe da polícia interna da organização.

Se forem autênticas, podem ter efeitos devastadores para o grupo, que  controla amplas faixas da Síria e do Iraque e que cometeu diversos  atentados letais na África e nos países ocidentais.

“Assumimos que é altamente provável que se trate de documentos  verdadeiros”, disse o porta-voz da polícia federal alemã, Markus Koths.

Uma porta-voz do primeiro-ministro britânico, David Cameron, disse à  imprensa: “o importante agora é que as autoridades vejam de que maneira  podem usar esta informação na luta contra o Daesh (acrônimo árabe para o  grupo EI)”.

A lista foi roubada por um membro do Exército Livre da Síria,  opositor ao regime de Bashar al-Assad, que se integrou ao Estado  Islâmico, mas acabou abandonando o grupo, decepcionado porque se  converteu em reduto de antigos soldados iraquianos do Partido Baath do  ditador Saddam Hussein, executado em 2006 após sua deposição por uma  coalizão liderada pelos Estados Unidos.

A documentação é composta por formulários de adesão ao EI, com dados de milicianos de 51 países.

Richard Barrett, ex-diretor de operações antiterroristas mundiais do  MI6, os serviços de inteligência britânicos, disse que o vazamento  destes dados é “um golpe fantástico”.

“Será uma autêntica mina de ouro de informação de enorme significado e  interesses para muita gente, em particular para os serviços de  inteligência e segurança”, disse Barrett.

O material conteria informações sobre numerosos jihadistas ainda não  identificados na Europa do Norte, Estados Unidos, Canadá, África do  Norte e Oriente Médio.

A Sky News reproduziu estes formulários de 23 perguntas, que permitem  identificar os recrutas por tipo sanguíneo ou pelo nome de solteira de  suas mães e que levam anotações sobre o “nível de compreensão da sharia”  (a lei islâmica) dos membros do EI.

“Isso pode representar um avanço colossal” na luta contra o EI,  afirmou Chris Phillips, diretor-geral do International Protect and  Prepare Security Office, uma assessoria em matéria de luta  antiterrorista.

A entrega do material “demonstra a que ponto o EI é vulnerável aos  seus membros que se voltam contra ele”, disse o especialista à AFP.

Os documentos foram roubados por um indivíduo identificado sob o  pseudônimo de Abu Hamed, um ex-combatente do Exército Sírio Livre (ESL)  que aderiu ao EI.

Abu Hamed entregou o dispositivo USB a um jornalista na Turquia,  explicando que havia abandonado o EI por considerar que “os valores  islâmicos colapsaram” no seio do grupo.

“Esta organização é uma fraude, não tem nada a ver com o Islã”, disse  o miliciano decepcionado, que afirma que o EI abandonou seu  quartel-general na cidade síria de Raqa e se dirigiu ao deserto.

No entanto, alguns especialistas têm dúvidas sobre os documentos.

Charlie Winter, um pesquisador sobre jihadismo na universidade  americana Georgia State, disse: “quando vi inconsistências como estas no  passado eram em falsificações realmente grosseiras”.

Assim, o nome árabe de “O Estado Islâmico no Iraque e na Síria”, o  nome anterior do EI, aparece escrito de duas formas, incluindo uma que  não era própria da organização.

Além disso, os formulários contêm um campo com a data “da morte” dos  militantes, em vez de “martírio”, mais em conformidade com a linguagem  do EI.

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