25/01/2006 - 8:00
Nos bolsões de financeiras encontrados nas principais ruas comerciais brasileiras, um nome estrangeiro está deixando de ser um estranho no ninho. Ao lado das bandeiras tradicionais, como Losango ou Finasa, é cada vez mais comum encontrar uma lojinha da GE Money ? braço de financiamento ao consumo da General Electric. Havia só oito delas há dois anos. Hoje, 126 unidades aparecem no radar de Ivan Svitek, o executivo checo que comanda essa operação a partir de um escritório com privilegiada vista do quartel-general do Itaú, na Zona Sul de São Paulo. Svitek não veio ao Brasil para contemplar paisagens. Uma vez, um interlocutor recebido em sua sala comentou algo sobre a visão intimidante do vizinho poderoso. Ouviu uma resposta brincalhona, que faz pensar. ?Fico aqui olhando, esperando o dia em que vou comprá-lo.? Comprar, por sinal, é um verbo que este expatriado de português fluente parece ansioso para aprender a conjugar. A GE participou do leilão de privatização do Banco do Ceará, ganho pelo Bradesco em dezembro. Perdeu a corrida, mas tomou gosto pela brincadeira.
Responsável por operações com cartões de crédito, empréstimos pessoais, crédito direto ao consumidor e seguros, a GE Consumer Finance é uma das 11 unidades de negócio da General Electric na América Latina. Tem o mesmo status no organograma do grupo que as unidades produtoras de lâmpadas ou turbinas. Mundialmente, tem US$ 150 bilhões em ativos e é a terceira divisão da corporação em lucros. No Brasil, porém, a financeira GE Money não é nenhuma gigante. Sua meta é atingir o primeiro bilhão em ativos até o fim do ano. Saindo do patamar atual de R$ 600 milhões. Svitek insinua que há planos ambiciosos no horizonte, mas se contém a um passo de revelá-los. Novos produtos? Ele diz que sim, mas não adianta quais. Mais lojas? ?Talvez, mas não posso dizer quantas.?
Insista um pouco em questões como essas e o presidente da GE Money relembrará seus três anos de Brasil para explicar a dinâmica de crescimento da financeira. ?Foi um processo complicado. Reestruturamos a empresa e só recentemente começamos a ganhar escala?, observa. A primeira tentativa da então chamada GE Capital de entrar no Brasil foi um fiasco. Em 1998, a maior financeira do mundo comprou o banco Mappin-Mesbla, pouco antes do colapso do grupo varejista de Ricardo Mansur. Depois, arrematou a carteira de empréstimos pessoais do Banco VR, de Abram Szajman. Por fim, decidiu montar sua rede de lojas próprias. ?Nosso crescimento tem se dado organicamente?, nota Svitek. Mas isso pode mudar.
Jeffrey Immelt, o sucessor de Jack Welch na presidência mundial da GE, esteve no Brasil há 10 dias. Disse enxergar grandes oportunidades no mercado de crédito a pessoas físicas ? mina de ouro que cresceu 76% nos últimos dois anos e acumula R$ 155 bilhões. E deixou claro que não está satisfeito com a posição da GE Money. Logo… ?Estamos sempre procurando oportunidades de aquisição?, sugere Svitek. ?Ainda há empresas interessantes para comprar.?
Pode ser, mas este é um setor concentrado no topo e pulverizado para baixo. A Fininvest, controlada pelo Unibanco, e a Losango, do HSBC, dominam o mercado e disputam a liderança. As demais financeiras estão distantes e têm participações de mercado modestas. Comprar uma ou duas nanicas não resolveria o problema da GE Money. ?Mas lembre-se de que por trás dela há uma corporação chamada General Electric?, pondera Álvaro Musa, presidente da Partner Consultoria. ?Eles têm cacife para chegar ao topo, se e quando realmente quiserem.?