Falência da Transbrasil, crise da Varig, agonia da Vasp. O setor de aviação no Brasil está em frangalhos. Mas uma empresa que é parte vital dessa indústria tornou-se uma exceção: a GE Celma, que faz manutenção de turbinas de avião. Trata-se de um dos negócios mais importantes da gigante General Electric por aqui, e ela deve responder por quase 25% (ou US$ 380 milhões, o dobro de dois anos atrás) do faturamento de US$ 1,2 bilhão previsto para 2004. Sem muitas alternativas internas, a Celma conseguiu driblar a crise voltando-se ao mercado internacional, seguindo à risca uma estratégia traçada pelo presidente da subsidiária, o brasileiro Alexandre Silva. ?Não foi fácil reequilibrar as contas em um mercado tão recessivo?, diz ele, visivelmente aliviado. O executivo se refere ao fato de a Celma também ter passado por maus bocados. Em 2002, por causa da turbulência na aviação mundial, suas receitas despencaram 60,5%. Silva agiu rápido e vem provando que seu plano é um sucesso.

A Celma era daquele tipo de empresa que, a exemplo da nave-mãe, fazia tudo. Realizava reparos em 360 tipos diferentes de motores, sendo que algumas dezenas deles nem eram produzidos pela GE. Essa polivalência obrigava a divisão a manter peças de reposição da concorrência em estoque, além de exigir mão-de-obra qualificada (e cara) para esses consertos. Silva livrou-se disso tudo, incluindo a manutenção feita às turbinas de outras marcas. Também foi obrigado a cortar 1,2 mil dos 1,8 mil funcionários, mas a grande tacada foi abrir as portas da Celma aos clientes internacionais. Durante o turbilhão pós 11 de setembro, companhias aéreas brasileiras como Vasp e Varig começaram a regatear nos pagamentos. O antídoto da Celma foi focar em contratos maiores e de longo prazo, enfatizando clientes de fora do País. Deu certo. Hoje, 60% dos negócios da divisão vêm de companhias estrangeiras, como Southwest, FedEx e USAirways. ?Eles mandam suas turbinas dos Estados Unidos para serem revisadas no Brasil. Não é o máximo??, empolga-se Silva, sem revelar a que preços conseguiu atrair parceiros tão distantes.

Não é por acaso que o manche da GE do Brasil foi parar na mão de Silva. Antes de assumir o posto mais alto da subsidiária, o executivo construiu uma carreira de 12 anos justamente na Celma. Os colegas mais chegados dizem que ele conhece cada parafuso de uma turbina de avião. Mas, pelo visto, não só isso, porque a GE vem crescendo em diversas áreas. ?Devemos fechar o ano com US$ 1,2 bilhão, cerca de 20% a mais que em 2003?, anuncia Silva. ?Além da reordenação do setor aéreo, contamos com os investimentos de infra-estrutura, na ampliação e na melhoria da malha ferroviária nacional. Aí podemos aproveitar a onda por meio da Gevisa, nossa empresa que faz manutenção de locomotivas.? Outras áreas como plásticos para o setor automotivo, equipamentos médicos e eletrodomésticos também estão relacionadas como molas de crescimento para 2005. É o motor da GE voltando a girar em alta rotação novamente.