18/01/2024 - 20:40
Após a implementação da nova regra para as geladeiras do governo federal no final do ano passado, há uma possibilidade dos modelos ficarem mais caros no mercado. No entanto, especialistas ouvidos pela IstoÉ Dinheiro divergem sobre o futuro do eletrodoméstico e se vale a pena trocar agora.
O que é a nova regra e qual o seu objetivo?
Primeiro, é importante saber no que consiste a mudança. Ela faz parte do programa de metas do Ministério de Minas e Energia para refrigeradores e congeladores de uso doméstico, no qual foi definido na Resolução nº2/2023.
A normativa adota novos índices de eficiência energética, dividida em duas etapas. Na primeira, entre 2024 e 2025, o máximo de consumo permitido será de 85,5%, ante a norma que considera como consumo padrão.
Na segunda etapa, de 2026 até 2027, esse consumo máximo permitido será de 90% em cada equipamento.
Segundo o Ministério de Minas e Energia, a previsão é que, a partir de 2028, os produtos comercializados nas lojas sejam, em média, 17% mais eficientes que os disponíveis atualmente no mercado nacional – para refrigeradores de uma porta de 200 litros de volume interno, por exemplo.
Outro detalhe é que a pasta estima que aproximadamente de 5,7 milhões de toneladas de gás carbônico deixarão de ser emitidas até 2030. A economia de energia elétrica a ser gerada será de 11,2 Terawatthora (TWh) até 2030, o que equivale a aproximadamente os consumos residenciais anuais de toda região Norte do país (11,5 TWh em 2022), ou do estado de Minas Gerais (13,1 TWh em 2022).
Fabricantes são contra a norma
Os fabricantes, representados pela Eletros, são a favor da otimização da eficiência energética, no entanto discordam da norma, já que isso pode elevar os preços para o consumidor. Para a associação, o ideal seria uma transformação mais gradual, até para que a cadeia de suprimentos se adeque aos novos insumos, além de aguardar um melhor cenário econômico, com juros menor.
“Essa mudança do governo vai fazer com que 2026 mais de 80% dos refrigeradores que estão no mercado hoje saiam e vão ficar somente os modelos com o preço mais caro. A gente oferece hoje produtos que atendem o índice de eficiência que o governo estabeleceu no final do ano passado. Mas a gente fica preocupado com o consumidor, de ele continuar dentro de casa com o produto antigo e elitizar o mercado”, diz Jorge Nascimento, presidente da Eletros, com exclusividade para a IstoÉ Dinheiro.
Jorge explica que, diferente do que começou a ser veiculado pela imprensa, a geladeira não vai ficar mais cara, com a decisão do governo estarão proibidos a partir de 2023 a fabricação, a importação e a comercialização de produtos que não alcancem o índice de eficiência. E os produtos hoje que alcançam a eficiência são acima de R$ 4 mil, ou seja, só vão ficar no mercado produtos nesse patamar. Atualmente, um de entrada parte, em média, de R$ 2 mil.
“O que a gente tem de preocupação é que essa redução (no consumo de energia) que o governo está anunciando, essa redução só ocorre se eu, você e a população inteira como um todo trocar o seu refrigerador não tão eficiente por um mais eficiente.”
O presidente da Eletros afirma que chegou a propor para o governo uma graduação dessa evolução de eficiência energética para que o produto pudesse aos poucos ficando mais barato e que a população brasileira tivesse condições econômicas para trocar de produto por um mais eficiente.
“Hoje os juros estão em torno de 11%. Então, quando você vai comprar uma geladeira parcelada, o valor fica alto. Eu sugeri para que acompanhasse a realidade econômica e social do país. A economia vai melhorando, a gente vai subindo a régua. Infelizmente isso não foi entendido pelo governo.”
Ele sugere que o Ministério de Minas e Energia revise a medida, considerando que o país se sentiu preocupado com essa decisão.
Quando é melhor comprar ou trocar uma geladeira nova?
Para o especialista é bom ficar de olho no mercado até 2026, quando ele terá uma vasta gama de opções de eficiência energética e preços. A partir disso, porém, ficaram geladeiras mais caras porque apenas elas, hoje, alcançam esse índice de eficiência estabelecido pelo governo.
Como é possível ter mais eficiência energética de um refrigerador?
“A indústria já oferta esses produtos com eficiência energética otimizada. Só que esses produtos hoje requerem insumos mais refinados. A eficiência está associada ao desempenho do refrigerador, ou seja, eu, com menos energia, refrigerar mais. E como é que com menos energia eu refrigero mais? A estrutura de refrigerador tem que ser adequada. Talvez uma camada de isolamento térmico mais robusta. Um motor elétrico com um consumo menor. O compressor que me dê eficiência com menos energia. O gás refrigerante que me dê mais performance. Quando eu falo em eficiência energética, eu falo em estrutura de produto e insumos mais eficientes e mais requintados e eles têm um preço mais alto.”
Na opinião do Idec, porém, a medida do governo foi positiva
Para o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) a medida foi positiva.
“O Brasil, ao longo dos últimos 15 anos, passou muito tempo sem a revisão de níveis de eficiência energética. Por conta disso, essas atualizações vão reduzir a defasagem do Brasil em relação aos outros países, que estão mais avançados”, explica Priscila Arruda, pesquisadora do programa de energia do Idec.
Arruda rebate a posição da Eletros e diz que o cronograma existe para que os fabricantes e importadores possam se organizar.
A mudança “será sentida na prática pelo consumidor só em 2026. Nesse primeiro momento, os refrigeradores terão que obedecer a eficiência de 85,5% (até 2025), mas todos os refrigeradores de uma ou duas portas, que existem hoje no mercado brasileiro, já obedecem esse percentual.”
A especialista fala que a segunda etapa, com 90% de eficiência será mais rigorosa. Mas, em resposta à Eletros, o Idec considera o valor de R$ 4 mil muito elevado, sobre o preço das geladeiras que serão comercializadas a partir de 2026.
“Seria importante que as associações divulgassem dados que fundamentam esse valor. De fato isso criou um alarde muito grande de que a geladeira viraria um item muito inacessível e elitista.”
Ela diz que pode haver um aumento de início, que seria de R$ 86 a R$ 200, se houver elevação. Valor inferior ao que a Eletros publicou.
“Com o ganho de escala, o produto vai sendo barateado, ou seja, o custo será reduzido quanto mais a indústria produzir daquele equipamento mais eficiente.”
Na opinião de Arruda, se o consumidor precisa trocar de geladeira, ela pode trocar.
“Existe no mercado geladeiras que atendem à segunda etapa e mais baratas que R$ 4 mil. São argumentos que mostram para o consumidor que não vai acontecer esse aumento tão elevado.”