As geleiras da Suíça perderam 6% de seu volume total este ano devido a um inverno seco e sucessivas ondas de calor no verão, batendo todos os recordes de degelo, de acordo com um relatório divulgado nesta quarta-feira.

O estudo da Comissão Criosférica (CC) da Academia Suíça de Ciências mostra a magnitude da perda de geleiras, que só vai piorar no futuro.

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“2022 foi um ano desastroso para as geleiras suíças: todos os recordes de derretimento foram quebrados”, disse a CC, segundo a qual uma perda de 2% em 12 meses era anteriormente considerada “extrema”.

Três quilômetros cúbicos de gelo derreteram, de acordo com o relatório.

“Não é possível parar o derretimento no curto prazo”, disse o professor de glaciologia Matthias Huss, chefe do Monitor de Geleiras na Suíça, que documenta mudanças de longo prazo nas geleiras nos Alpes e é coordenado pela CC.

Se as emissões de dióxido de carbono forem reduzidas e o clima for protegido, “um terço do volume total na Suíça poderá ser poupado na melhor das hipóteses”, disse ele à AFP.

Por outro lado, se a situação continuar, o país “terá perdido tudo até o final do século”.

Poeira do Saara

No início do ano, a cobertura de neve nos Alpes foi excepcionalmente leve e, em seguida, um grande volume de poeira de areia chegou do deserto do Saara entre março e maio e se instalou na superfície.

A neve contaminada absorve mais calor e derrete mais rápido, privando as geleiras de sua camada protetora para o início do verão europeu.

O calor constante entre maio e início de setembro arrasou com o gelo glacial.

Em meados de setembro, a camada de gelo que cobria a passagem entre as geleiras Scex Rouge e Tsanfleuron havia derretido completamente, expondo rochas que estavam cobertas de gelo desde pelo menos a era romana.

No início de julho, o colapso de uma pedaço da geleira Marmolada, a maior dos Alpes italianos, deixou 11 mortos e destacou a gravidade da situação.

De acordo com um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) publicado em fevereiro, o derretimento do gelo e da neve é uma das 10 ameaças das mudanças climáticas.

Pequenas geleiras afetadas

“A perda foi especialmente dramática para pequenas geleiras”, de acordo com a CC.

As geleiras Pizol, Vadret dal Corvatsch e Schwarzbachfirn “praticamente desapareceram, as medições foram interrompidas”, disse a comissão.

Nas regiões de Engadine e Valais, ambas no sul, “uma camada de gelo de quatro a seis metros de espessura a 3.000 metros acima do nível do mar desapareceu”, segundo o relatório.

Perdas significativas também foram registradas nos pontos de medição mais altos, como a montanha Jungfraujoch, a quase 3.500 metros.

“As observações revelam que muitas geleiras estão se desintegrando e que pedaços de rocha estão surgindo no gelo fino entre as geleiras. Esses processos estão acelerando o declínio”, diz o relatório.

“A tendência revela a importância das geleiras para o abastecimento de água e energia em anos quentes e secos”, acrescenta o documento, uma questão relevante já que 60% da eletricidade na Suíça vem de fontes hídricas.

A água do derretimento das geleiras em julho e agosto deste ano teria fornecido água suficiente para encher completamente todos os reservatórios dos Alpes suíços.

Mas Huss aponta que se o país repetir as condições climáticas de 2022 em 50 anos, “o impacto seria muito mais forte, porque em 50 anos esperamos que quase todas as geleiras desapareçam e, portanto, não forneçam água para um verão quente”.

Surpresas pelo caminho

O derretimento glacial também teve consequências inesperadas.

Os caminhantes geralmente enfrentam achados macabros como corpos que ficaram presos no gelo por décadas ou mesmo séculos.

Para os arqueólogos, pode ser um incentivo, porque de repente têm acesso a objetos com milhares de anos.

Enquanto isso, o derretimento de uma geleira entre a Itália e a Suíça mudou a fronteira, forçando longas negociações diplomáticas.