13/01/2022 - 14:10
Um general da polícia sudanesa morreu nesta quinta-feira (13) em novas manifestações contra o golpe de Estado, reprimidas com gás lacrimogêneo em outro episódio de violência alguns dias após a abertura de um diálogo sob a égide da ONU.
O Sudão está imerso em uma crise política desde 25 de outubro após o golpe de Estado liderado por Abdel Fatah al Burhan, comandante-chefe do exército.
A repressão lançada pelas forças de segurança já deixaram 63 mortos entre os manifestantes, segundo fontes médicas pró-democracia.
Nesta quinta-feira, pela primeira vez, a polícia – que geralmente afirma ter dezenas de feridos – anunciou a morte de um de seus generais em um protesto em Cartum.
Esta morte poderia mudar a situação, porque de um lado os manifestantes afirmam serem pacifistas, e do outro as autoridades acusam alguns deles de buscarem o confronto, em um país onde há milhões de armas em circulação.
Segundo testemunhas, as forças de segurança disparaam gás lacrimogêneo contra os manifestantes, que se reuniram no centro de Cartum gritando slogans como “com todo o nosso poder chegaremos ao palácio”.
Os manifestantes veem o golpe de Estado como uma forma de retorno ao regime de Omar al Bashir, uma ditadura de corte islâmico que esteve no poder durante 30 anos, em um país que desde sua independência há 66 anos só conheceu governos militares.
Além disso, o rosto civil da difícil transição já abandonou o cenário: no início de janeiro o primeiro-ministro Abdalá Hamdok renunciou.
Desde o golpe de Estado, os generais não conseguiram voltar a nomear um governo de civis, como prometeram desde 25 de outubro.
Nas ruas, os manifestantes afirmam que não se conformarão até que Burhan deixe o poder, depois que os protestos de 2019 derrubaram o governo de Bashir.
Em meio às manifestações, a ONU tenta reunir os principais atores políticos em uma mesa de negociações.
Na segunda-feira, o emissário da ONU para o Sudão, Volker Perthes, lançou o processo se concentrando em um início de diálogo individual, para depois avançar a uma fase de negociações indiretas.
O diplomata da ONU afirma que “não há nenhuma objeção” por parte dos militares, mas entre os civis muitos rejeitam a negociação ou pedem garantias de que o diálogo não busque “legitimar” o regime no poder.
Nas ruas, há consenso e os manifestantes não querem nem uma “negociação” nem uma “associação” com os militares.