26/04/2013 - 21:00
Depois da revoada de empresas brasileiras na Argentina a presidenta Dilma, em cruzada diplomática, seguiu para uma audiência na semana passada com a colega Cristina Kirchner, levando debaixo do braço uma proposta de agenda positiva. Na prática, a presidenta do Brasil foi aparar arestas. A saída abrupta da Vale, que meses atrás anunciou a suspensão de um megainvestimento na província de Mendoza – provocando uma onda de protestos da comunidade portenha –, havia aberto uma ferida política entre os dois países. Depois da Vale, também a Petrobras quis bater em retirada. Colocou à venda ativos nas áreas de energia e refino. Diversas outras empresas privadas nacionais seguiram o exemplo, preocupadas com a situação instável daquele mercado.
As mudanças constantes de regras, a pouca transparência nas contas públicas e o agravamento do quadro econômico local contribuíram para a debandada. O que preocupou os investidores foi principalmente o excesso de burocracia no corredor do comércio bilateral, a partir do esquema de Declaração Juramentada de Importações (Djai), que provocou um engarrafamento nos processos de liberação de cargas. Alguns produtos brasileiros hoje estão aguardando mais de 400 dias na fronteira antes de receberem autorização para entrar no mercado argentino. Um despropósito com altíssimos custos para quem se aventura na Bacia do Prata. Dilma foi pedir o fim da Djai e a garantia de que não ocorrerão retaliações contra a Vale.
Em troca tentará dirimir resistências dos empreendedores brasileiros em apostar naquela praça. A equipe de Dilma está estudando também a liberação de um financiamento de mais de US$ 1,5 bilhão para um projeto de linha férrea em Sarmiento e outro, via empréstimo do BNDES, no valor de mais de US$ 5 bilhões, para a construção de duas usinas de energia do parceiro. É bem verdade que as amabilidades com o vizinho não dependem apenas da disposição de Dilma. Não se restaura a confiança do capital por decreto nem se obriga um grupo de companhias a retornar para um mercado que considera arriscado. O desafio é grande e, em boa parte, vai depender de uma posição mais flexível e tranquilizadora da senhora Kirchner.