21/12/2005 - 8:00
Da sala no prédio da Polícia Federal em São Paulo, onde esteve sob custódia por dez dias, o primeiranista de Direito e ex-estagiário da Previdência Social mandou o recado: ?Dou entrevista desde que me paguem R$ 150 mil?. Diante de tamanha petulância, seu advogado, Rubens Simões, ficou perturbado. ?Ele é muito deslumbrado. Esperto por um lado, bobo por outro.? Filho de uma advogada e um militar da reserva, George Waldemiro Moreira Filho, 18 anos, foi preso no último dia 29, após a força tarefa da Delegacia de Repressão a Crimes Previdenciários comprovar denúncia anônima feita contra ele. De março de 2003 até o final de novembro, George desviou R$ 3 milhões do INSS para sua carteira. Duas coisas nesse caso deixam o contribuinte de cabelo em pé: a fúria perdulária do garoto e a facilidade com que se pode sangrar a Previdência.
O menino, que não é especialista em informática, tinha salário de R$ 300 mensais no posto da Previdência na rua Coronel Xavier de Toledo, centro de São Paulo. No emprego desde 2003, começou desviando valores baixos, em torno de R$ 1 mil. Nas últimas operações, já trabalhava com quantias gordas de até R$ 1 milhão. Com os bolsos recheados, comprou sete carros: três Audi, dois Golf, um BMW e um Porsche. Só um dos Golf não era blindado. Alugou um apartamento de 317 m² em um mega condomínio de luxo no bairro paulistano de Higienópolis. Detalhe: pagou aluguel de um ano adiantado ? R$ 100 mil. Contratou segurança e governanta. Estava decorando o tal apartamento e fez compras na rua Gabriel Monteiro da Silva, onde ficam as lojas de móveis mais caras da cidade. Somente por um sofá, importado e de veludo alemão, pagou R$ 42 mil. Não teve dó na hora de gastar com eletrônicos e também investia no visual. Vestia-se na Daslu e na Ricardo Almeida. Fez plástica no nariz e lipoescultura para modelar a barriguinha.
Segundo o próprio George, não é preciso ser ?hacker? para fraudar a Previdência. Ele simplesmente usava o número do benefício das duas avós para entrar no sistema. Creditava valores na conta das avós, justificando os créditos como se fossem determinações de pagamentos judiciais. Para validar a operação, contava com a senha da chefe do posto, Mônica Oliveira, que segundo o próprio George, confiou os números secretos a ele. Com uma procuração forjada, o jovem sacava o dinheiro nos caixas de agências do Banco do Brasil e Santander Banespa. Foram 89 saques em dinheiro vivo.
?Um gerente de posto não deveria ter confiado senhas a ninguém, muito menos a um estagiário?, disse à DINHEIRO Valdir Simão, presidente do INSS. Para ele, a falha foi gerencial. ?Mas não descarto que haja problema com o sistema?, afirmou. George, que na faculdade contava ser filho de desembargador e o sortudo beneficiário de uma herança familiar, foi solto e teve todos os ?seus? bens arrestados. Está sendo processado. Se condenado, pode pegar só dois anos de cadeia, pois é réu primário.