O ano era 1983. Naquela época, George Foreman ? a lenda viva do Boxe ? tinha há tempos deixado os ringues e se dedicava apenas à carreira de pastor, em uma pequena igreja protestante de Houston, no Texas. Nem sequer sabia que, naquele ano, uma empresa chamada Salton estava lançando um grill para assar carnes em casa. Nos 11 primeiros anos de mercado, o produto permaneceu no anonimato, ora dando lucro, ora prejuízo. Até que Leon Dreimann, presidente da Salton, teve a idéia de procurar o pugilista, que nesse meio tempo retornara às lutas, sagrando-se novamente campeão aos 45 anos de idade. A idéia era vincular a imagem do vencedor ao produto. Foreman, que em 1995, na esteira de seu espetacular retorno ao boxe, ganhava a vida como garoto-propaganda de marcas como McDonald’s, Pepsi Cola e Doritos, jamais tinha ouvido falar no tal grill. Mas topou o desafio. Por um simples motivo: seria sócio da empresa. Essa é a história de um encontro mágico do mundo dos negócios, o de George Foreman com o grill. Graças ao carisma e à visão empreendedora do boxeador, o até então esquecido produto virou coqueluche. Chegou à marca de 90 milhões de unidades vendidas, com preço que varia entre US$ 60 e US$ 130 (ou de R$ 90 a R$ 360, no Brasil) ? transformando o ídolo do esporte no homem capaz de gerar vendas que somam US$ 9 bilhões. Agora, com fortuna pessoal estimada em US$ 140 milhões, Foreman ensaia outros golpes: montou sua própria empresa e até o final do ano inaugurará uma rede de restaurante.

 

“Nos negócios, sou como no boxe: direto e agressivo”, disse o pugilista, em entrevista à DINHEIRO. Conhecido por seus socos fortes, seu estilo decidido, Foreman só não é considerado número 1 da história dos ringues por não ter resistido à agilidade de Mohammad Ali na célebre luta no Zaire (atual Congo), em 1974. “O estilo de Ali, aquela coisa de ficar para lá e para cá, não daria certo nos negócios. Para fazer um produto vender, uma marca emplacar, não adianta andar para os lados. É preciso ser agressivo, ter coragem de entrar em novas empreitadas”, afirma Foreman. Essa coragem, segundo ele, o fez topar a arriscada parceria com a Salton. O acordo ? substituído por um contrato de US$ 9 milhões em 2003 ? previa que ele faria os anúncios e programas de vendas na TV. ?Odiava esse tipo de programa. Mas quando vi o grill funcionando, gostei e aceitei o desafio?, lembra Foreman. Em troca, ele teria 50% das vendas. Se houvesse prejuízo, arcaria com metade das dívidas. Mas a segunda hipótese nunca se concretizou. “O grill deu certo comigo porque era uma proposta sincera: sempre disse que um hambúrguer podia ser um alimento saudável. E o aparelho conseguia isso, ao grelhar a carne, diminuindo a gordura?, explica.

Dessa maneira, o boxeador construiu uma marca poderosa, que para os consumidores remete não só à sinceridade, mas também à saúde e à qualidade de vida. Valendo-se desses atributos, o peso-pesado abriu sua própria empresa, a George Foreman Enterprises, com ações na Bolsa de Nova York, que se dedica a emprestar seu nome a produtos que tenham a ver com a proposta de estilo saudável. ?São artigos que, como o grill, pouca gente conhece, mas quando ganham a marca ?GF? se tornam populares?, explica Foreman, que já perdeu a conta de quantos itens levam sua assinatura. “Só a Salton tem 300 produtos diferentes com a marca dele”, diz Alfredo Finotti, presidente da empresa no Brasil. Aqui, os oito modelos de grill George Foreman no mercado levaram a companhia, no País desde 2003, a um faturamento de R$ 55 milhões nos últimos 12 meses ? resultado espetacular, diante dos R$ 22 milhões alcançados no ano anterior.

O toque de Midas de Foreman, que no Brasil se restringe aos aparelhos de grelhar, nos Estados Unidos está nos mais diversos tipos de mercadorias, desde equipamentos para ginástica, a uma grife de roupas masculinas e uma linha de produtos de limpeza.
A próxima investida com a marca GF ? a cadeia de restaurantes ? é idéia de dois de seus dez filhos: George Edward Foreman Junior e George Edward Foreman III. “Será uma rede de restaurantes que se espalhará por todo os Estados Unidos, com comida saborosa, sem gordura”, conta o pai orgulhoso, que mantém detalhes em segredo, a pedido dos Georges. Revela apenas que a primeira unidade deve ser inaugurada até o final do ano, em Houston. É na cidade texana que a família toda mora. E onde, ainda hoje, todo domingo, o boxeador campeão olímpico, que passou fome na infância e transformou-se em empresário, sobe ao púlpito para pregar ao fiéis da Igreja do Senhor Jesus.

Da lona ao cinturão

Criado pela mãe, junto com dez irmãos, George Foreman saiu da pobreza para ser campeão de boxe. Largou tudo e foi pastor evangélico por dez anos. Aos 45 anos de idade, voltou ao ringues e, mais tarde, virou empresário. Ele conta como conseguiu tudo isso:

DINHEIRO ? O sr. voltou ao boxe em 1997, depois de dez anos longe dos ringues, com 45 anos. Foi por prazer ou necessidade?
GEORGE FOREMAN
? Estava quebrado financeiramente. Não sabia lidar com dinheiro. Só gastava. O negócio do grill me ensinou a ter dinheiro e a aplicá-lo bem, nos negócios.

Seu estilo nos negócios tem a ver com o dos ringues?
Claro. Se nunca tivesse sido pugilista, não teria entrado no mundo dos negócios. É questão de coragem. Você não enfrenta o Mike Tyson se acha que vai perder. Também não entra numa empresa se acha que não vai vender. Não ter medo de se machucar faz parte das duas coisas.

Como será sua participação na rede de restaurantes que seus filhos estão lançando?

Estou emprestando meu nome ao negócio, que chamará George Foreman Helthy Life Style. Será um lugar para comer boa comida, sem comprometer o regime, a saúde. Mais detalhes, meus filhos, George III e George Junior, não me deixam dar. Aliás, todos os meus cinco filhos homens chamam-se George Edward Foreman. Foi a maneira que encontrei de deixar um legado a eles, mesmo que perdesse minha fortuna. Ter nome de campeão, sempre ajuda. E, como todo bom boxeador, tenho grandes chances de perder a memória. Se todos chamam George, fica fácil lembrar.