O empresário Amilton Bardelotti, um dos controladores e responsável pela área administrativa do banco Geração Futuro, compareceu  na segunda-feira 28 à missa em memória de seu sócio e concunhado Edmundo Valadão, falecido no último dia de fevereiro de 2010, aos 68 anos de idade. 

Principal executivo do Geração, Valadão  não resistiu a um câncer na bexiga,  que combateu por vários anos. Além de sentir a falta do parente, no plano pessoal, Bardelotti tem boas razões para lamentar a perda do sócio. Há um ano, ele se dedica ao trabalho de administrar o Geração e também a garantir-lhe o futuro. 

 

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Lugar vazio: Amilton Bardelotti, administrador do banco: em busca de um caminho após a perda de Valadão

 

“O Edmundo dava o norte para o banco”, diz ele. As alternativas para suprir a perda são várias. Vão desde a transformação do investidor Lírio Parisotto, o maior cliente do Geração, em um consultor, passando pela procura de um sócio capitalista no médio prazo. “Temos de buscar um caminho”, diz Bardelotti. “O Geração está em um momento decisivo.”

 

As incertezas acerca do futuro do Geração coincidiram com a morte de seu sócio mais conhecido. Discreto, avesso a entrevistas e focado nos negócios, Valadão foi a força que transformou a empresa em um dos nomes mais respeitados no mercado acionário brasileiro. 

 

Entre 2002 e 2010, a base de clientes do Geração Futuro cresceu cerca de 4.400%. No fim de 2010, a empresa contabilizava R$ 6,5 bilhões em ativos sob administração, nas mãos de 53 mil investidores. Ela também é uma das líderes na corretagem de varejo, com cerca de 80 mil clientes cadastrados. 

 

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O cliente manda: O investidor Lírio Parisotto possui um terço dos recursos geridos pelo Geração 3

e está sendo convidado a colaborar na elaboração da estratégia de investimentos

 

A receita que garantiu esse sucesso perdeu eficácia nos últimos tempos, não por deficiências de estratégia, mas pelas mudanças no mercado, e os números do Geração não mostram um futuro promissor. 

 

Sua participação na gestão de recursos caiu de 0,53%, em 2007, para 0,38%, em 2010. Em 2008, o Geração amargou um prejuízo de R$ 6,7 milhões, e os resultados posteriores ficaram longe dos números de 2007 (veja quadro). 

 

Nesse cenário, começaram a circular, mais recentemente, fortes rumores de que o Geração venderia uma fatia de seu capital para a empresa de gestão de recursos Tarpon. 

 

Liderada por José Carlos Reis Magalhães, a Tarpon começou com uma estratégia semelhante à do Geração, chegando a abrir seu capital na bolsa em 2007. Nos últimos anos, a Tarpon reduziu sua atuação na gestão de fundos abertos e focou-se no private equity. “Uma associação com o Geração seria uma volta às origens em um campo que a Tarpon domina bem”, diz um executivo que acompanha as negociações. 

 

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Estratégia: José Carlos Reis Magalhães, da Tarpon: associação com o Geração seria uma volta às origens

 

No entanto, no começo de fevereiro, após ambas as partes já terem encomendado o champanhe que brindaria a associação, as conversas esfriaram. O ponto de discórdia foi o preço. Nesse caso foi mantida uma postura cultivada pelo falecido Valadão.

 

 

Segundo Bardelotti, o concunhado costumava dizer, ironicamente,  que só receberia um comprador que aparecesse com um cheque de R$ 1 bilhão – apenas para elevar o preço para R$ 2 bilhões. 

 

“Ele não queria nem ouvir falar em vender”, diz Bardelotti, que não comenta as tratativas. Procurada, a Tarpon informou apenas que não está mais negociando a compra do Geração.

 

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Pioneirismo: Edmundo Valadão transformou o Geração em um dos nomes mais respeitados do mercado financeiro

 

Enquanto não aparece um interessado com dinheiro e vontade de gastá-lo, o Geração está buscando os conselhos de Parisotto. Cerca de um terço dos R$ 6,5 bilhões pertence ao investidor, amigo pessoal de Valadão. 

 

“Nossa ideia é que ele atue como um consultor estratégico de investimentos”, diz Bardelotti. Parisotto confirma as conversas, mas é econômico nos comentários. “Nada está definido ainda”, diz o investidor, que também descarta a hipótese de adquirir uma fatia do Geração Futuro. “Edmundo fez uma proposta informal de vender parte do banco para o Parisotto  antes de ir para o hospital pela última vez, mas as conversas não andaram”, diz Bardelotti.

 

Qualquer que seja a decisão,  o Geração precisa encontrar uma solução rapidamente. Boa parte de seu sucesso deveu-se a Valadão. Ele foi um dos primeiros gestores de recursos cuja estratégia incluía conhecer a fundo as empresas em que investia – seu portfólio incluía nomes como Randon, Weg e Forjas Taurus – e comprar fatias suculentas de seu capital, a ponto de ter assento nos conselhos de administração. 

 

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Outra de suas iniciativas bem-sucedidas foi a aposta nos clubes de investimento em ações, que foram um instrumento de popularização do mercado muito antes que a bolsa colocasse o crescimento do número de investidores no topo de sua agenda. 

 

O Geração não trabalha com empréstimos e não corre risco de quebrar, mas sua participação no mercado e suas margens de lucro vêm sendo submetidas a uma intensa pressão da concorrência. 

 

Mais e mais gestores, incluindo grandes bancos de varejo, passaram a montar fundos de ações cuja estratégia concorre diretamente com a do Geração. Os clubes passaram a ter sua atuação controlada mais de perto pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o que fez o Geração transformá-los em um fundo de ações,  no fim de 2009. 

 

A concorrência na corretagem também ficou mais intensa, e casas nacionais e estrangeiras vêm buscando clientes, sacrificando as margens de lucro. Nesse cenário difícil e disputado, a empresa liderada por Bardelotti tem de promover uma transição rápida, caso queira continuar a fazer jus ao futuro estampado em seu nome.