SÃO PAULO (Reuters) – O presidente-executivo da Gerdau, uma das maiores siderúrgicas das Américas, fez nesta quinta-feira uma defesa enfática por mais medidas de defesa comercial no Brasil, sinalizando que a companhia poderá rever em breve investimentos no país diante do que considera como demora do governo federal em adotar medidas mais amplas contra importações de aço da China.

Gustavo Werneck tem sido um dos executivos do setor industrial do Brasil mais vocais pela ampliação dos mecanismos de proteção do país contra o elevado fluxo de importações de aço e de produtos que levam a liga, como veículos e máquinas.

Segundo o executivo, o primeiro trimestre é fundamental para que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforce as defesas comerciais do Brasil, sob pena da Gerdau iniciar um processo de revisão de seus projetos no país.

“Se não colocar medidas de defesa comercial, vamos repensar nosso nível de investimento no Brasil”, afirmou Werneck, em entrevista a jornalistas após a publicação dos resultados do quarto trimestre da Gerdau na noite da véspera.

“O primeiro trimestre deste ano é prazo importante para que possamos perceber movimentos adicionais do governo brasileiro…o primeiro trimestre é muito decisivo. Temos quatro ou cinco semanas pela frente para uma solução”, disse Werneck. Ele citou “frustração” com o fato do governo federal não ter implementado medidas adicionais contra importações de aço além das decididas em abril e que criaram um sistema de cota-tarifa sobre alguns produtos siderúrgicos.

Segundo dados divulgados nesta quinta-feira pelos distribuidores de aços planos reunidos na associação Inda, as importações de aço pelo Brasil em janeiro dispararam 83% sobre o mesmo mês de 2024, para 241,5 mil toneladas. Em 2024 como um todo, as importações de aços planos e longos do Brasil saltaram 18%, para quase 6 milhões de toneladas, segundo dados da associação de siderúrgicas Aço Brasil.

No ano passado, a Gerdau decidiu paralisar as usinas de Barão de Cocais (MG) e Cearense(CE) e Werneck afirmou nesta quinta-feira que não há condições de se falar em uma retomada da instalação mineira no curto prazo.

O executivo voltou a repetir que o sistema cota-tarifa adotado pelo Brasil não funcionou e que o Brasil deveria lançar mão de uma ação semelhante ao tarifaço irrestrito de Trump.

O prazo do primeiro trimestre citado por Werneck também ganha relevância diante da expectativa da Gerdau de iniciar as operações comerciais do novo laminador de bobinas a quente instalado na usina da empresa em Ouro Branco (MG), que ampliou a capacidade da instalação em 250 mil toneladas por ano após um investimento de R$1,5 bilhão.

“Vamos começar a operar o laminador com dificuldade para vender porque está entrando produto importado no Brasil”, disse Werneck.

As ações da Gerdau exibiam queda cerca de 5% nesta tarde.

O executivo citou que a possibilidade de revisão de planos de investimento no Brasil envolveria os anos após 2025, que tem uma previsão global de desembolsos da empresa de R$6 bilhões, praticamente estável sobre o montante aplicado em 2024.

E diante das incertezas causadas pela guerra comercial iniciada por Trump e dificuldades macroeconômicas do Brasil, o vice-presidente financeiro da Gerdau, Rafael Japur, citou que uma das melhores alternativas de alocação de capital para o grupo atualmente é a recompra de ações da própria companhia. A empresa recomprou 3,4% das ações em circulação no ano passado e renovou o programa para este ano, de olho em um volume equivalente a 3,2%, disse Japur.

MÉXICO

Além da incerteza sobre o Brasil, Werneck afirmou que a Gerdau decidiu reavaliar o projeto de construção de uma usina de aços especiais no México que seria dedicada em grande parte a abastecer a indústria automotiva dos EUA.

A empresa deveria ter tomado a decisão sobre se iria em frente com os planos mexicanos no final do ano passado, mas adiou o prazo para julho deste ano, disse o presidente da Gerdau.

“Estamos revendo todas as análises à luz do que está acontecendo agora”, disse Werneck. A Gerdau fez o anúncio sobre a pretensão de investir cerca de US$600 milhões para erguer a nova usina no México em maio passado.

Segundo Werneck, entre as possibilidades no radar estão a desistência do projeto no México e uma ampliação de instalações nos EUA ou ir adiante com a usina, mas em fases.

MERCADO AMERICANO

Nos EUA, a Gerdau atualmente utiliza 70% de sua capacidade de laminação, o que gera vendas de cerca de 4 milhões de toneladas anuais, disse Japur. Com isso, há espaço na empresa naquela país para vendas adicionais de 1,5 milhão de toneladas de laminados por ano sem necessidade de novos investimentos, afirmou.

Segundo Werneck, o tarifaço de Trump deve contribuir para a uma maior ocupação da capacidade da companhia nos EUA, o que deve elevar a rentabilidade da companhia na região por meio de uma combinação de volume maior de vendas formadas por produtos com mais valor agregado.

“Com muita entrada de material importado, tivemos um mix mais pobre (de produtos vendidos)”, disse Japur sobre a operação nos EUA. Segundo ele, enquanto o nível histórico da empresa no país é de um nível de vendas de vergalhões ocupando 10% do volume total vendido com o restante sendo de produtos de maior valor agregado, nos últimos trimestres a fatia de vergalhões foi de 20%.

Questionado sobre as exportações da operação da Gerdau no Canadá para os EUA e o risco para elas representado pelas tarifas de Trump, Werneck afirmou que “não são uma preocupação” no momento para a empresa uma vez que representam 7% das vendas da Gerdau na América do Norte.

(Por Alberto Alerigi Jr.)