12/03/2025 - 16:02
O CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, sinaliza que a gigante do aço pode repensar os investimentos no Brasil caso não tenha uma mudança de postura por parte do governo acerca do que chama de “inundação de aço” chinês.
Segundo o CEO da Gerdau, há uma competição desleal dentro do setor, sem isonomia nas práticas de importação de aço da China. O executivo avalia que as medidas tomadas até então pelo governo não foram suficientes.
“O Brasil não tem tido problemas de demanda de aço nesses últimos dois anos. A grande questão do Brasil é essa inundação de aço, especialmente o chinês, que chega aos nossos portos de uma maneira não isonômica, de uma forma que não segue as práticas da Organização Mundial do Comércio”, afirma Gustavo Werneck à IstoÉ Dinheiro.
“Nosso diálogo com o Governo Federal é que novos mecanismos de defesa comercial sejam implementados, porque se continuar com essa entrada nunca vista de tanto aço importado de forma desleal, vamos ter que debater se de fato o Brasil é o melhor lugar para continuarmos alocando capital, novos investimentos, ou se não tem outros países como os EUA”, completa o executivo.
A visão da companhia é de que a competição – que considera injusta – tem lesado diretamente a indústria do aço, causando, inclusive, fechamento de plantas.
“No Brasil temos lidado com inundação de aço importado com uma adequação da nossa capacidade produtiva. A gente vem fechando algumas plantas. Um grande exemplo é nossa usina no município de Barão de Cocais (MG). Nós hibernamos essa usina. 400 pessoas que trabalhavam lá perderam seus empregos. É um momento complexo no sentido de estarmos ceifando empregos no Brasil para promover empregos em países como a China, que produz aço com excesso de capacidade e não respeitando uma competição isonômica.”
Não é apenas a Gerdau que aponta para o problema da ‘inundação chinesa’. O setor como um todo tem reivindicado o assunto para com o Planalto, representado pelo Instituto Aço Brasil.
Jefferson De Paula, então CEO da ArcelorMittal Brasil, relatou ao Dinheiro Entrevista que a companhia também enxergava com preocupação o contexto atual. À época, na entrevista feita em dezembro de 2024, De Paula citou que a imposição de tarifas por parte dos Estados Unidos, inclusive, agravaria a situação, “criando um problema seríssimo” para várias nações ao redor do globo.
“O governo [brasileiro] vai ter que estar atento a isso, porque se houver inundação de produtos industriais e o aço estiver nesse ‘bolo’, com uma importação muito grande ocorrendo tanto no Brasil quanto em outros países, nós vamos receber muitos produtos, e isso vai afetar as empresas brasileiras. Nesse cenário, as empresas vão cortar investimentos [no Brasil]”, disse De Paula.
O executivo citou que o Instituto Aço Brasil tem dialogado com o Planalto e colocado a questão como uma das prioridades para a economia doméstica e para as empresas brasileiras produtoras de aço.
Lula e Haddad participam de inauguração da Gerdau
Nesta terça-feira, 11, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, participou da inauguração da ampliação da capacidade de produção de aço da Gerdau em Ouro Branco (MG).
A ampliação incluiu a instalação de um novo laminador de bobinas a quente, aumentando a capacidade de produção de aço da planta.
Werneck declarou que o investimento feito, no patamar de R$ 1,5 bilhão, foi planejado há cerca de cinco anos – sem levar em consideração o cenário de ‘inundação chinesa’ citado pelo executivo.
Segundo o executivo, a planta não deve operar a “plenos pulmões” justamente por conta desse contexto de mercado, a despeito de uma demanda que ainda considera aquecida.
Tarifaço de Trump não é ‘pedra no sapato’ para a Gerdau
Acerca do tarifaço de Donald Trump, o CEO da Gerdau diz que a empresa está em uma posição relativamente confortável.
Dado que a companhia tem unidades nos EUA e não exporta aço para lá, mas sim produz e vende em solo americano, os impactos devem ser mínimos.
“Nós temos operação nos EUA que não depende da nossa operação do Brasil. Operamos localmente, como empresa americana, então todo programa de incentivo ao consumo de aço nos EUA, todo mecanismo de defesa comercial que promover a indústria local ou um crescimento da indústria de aço nos EUA, favorece nossa operação na América do Norte”, diz o executivo da Gerdau.