31/10/2025 - 16:16
O presidente-executivo da Gerdau, Gustavo Werneck, afirmou nesta sexta-feira, 31, que “boa parte” das operações de produção de aço da empresa no Brasil estão mostrando prejuízo, pressionadas por importações elevadas.
Mas, diferente de comentários feitos meses atrás, o executivo se mostrou mais otimista durante entrevista a jornalistas nesta manhã, com as perspectivas de ações mais concretas do governo federal para conter o fluxo de material que tem chegado ao país, principalmente da China.
“Demora demais a aplicar medidas antidumping, mas temos visto progresso e é uma das possibilidades que enxergamos como mais concretas”, disse o executivo.
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Segundo o vice-presidente financeiro da Gerdau, Rafael Japur, a empresa tem visto “de forma concreta” trabalho de técnicos do governo buscando as empresas siderúrgicas do país para avaliar os dados do setor.
“Efetivamente está havendo um avanço do corpo técnico”, disse Japur, acrescentando que as duas principais investigações para a Gerdau – envolvendo fio máquina e bobinas a quente – devem ter decisões de aplicação de antidumping “em meados do final” do segundo trimestre de 2026.
Segundo Werneck, a empresa ainda não conseguiu operar a plena capacidade o novo laminador de bobinas a quente instalado na usina de Ouro Branco (MG) por causa de importações elevadas do produto no Brasil.
A Gerdau inaugurou o equipamento com capacidade de 250 mil toneladas por ano em março deste ano, após investimento de R$1,5 bilhão.
Werneck afirmou que a previsão de importações de aço no Brasil este ano atinge um volume de 6 milhões de toneladas, suficiente para quase 30% da demanda brasileira pela liga.
E se não vier?
O executivo comentou a analistas que caso as expectativas de medidas mais duras de defesa comercial pelo governo brasileiro não sejam cumpridas, a Gerdau precisará “acelerar as medidas de transformação e rever nossas rotas de produção” no país.
Atualmente, a Gerdau produz aço no Brasil a partir de sucata, que utiliza fornos elétricos; a partir de minério de ferro e carvão em usina integrada, e utilizando carvão vegetal. A eventual revisão dos negócios do grupo no Brasil também envolverá a área de mineração, para determinar “se faz sentido continuar crescendo”, afirmou.
“Vamos ter que acelerar as mudanças”, disse o executivo se referindo à possibilidade de importações de aço pelo Brasil continuarem elevadas, tirando mercado nacional de produtores instalados no país.
A área de negócios Brasil da Gerdau teve margem de lucro operacional medida pelo Ebitda de 9,9% no terceiro trimestre, ante 19,8% das operações na América do Norte, que estão se beneficiando da guerra tarifária de Donald Trump. A margem brasileira ficou abaixo até das operações da empresa no restante da América do Sul, que foi 17% de julho a setembro.
Na América do Norte, as medidas de proteção comercial de Trump nos Estados Unidos devem seguir incentivando a indústria local a consumir aço produzido no país com boa rentabilidade. Werneck citou como exemplo o setor de centrais de processamento de dados, que apenas este ano está construindo instalações que ocupam uma área do tamanho de 800 campos de futebol, nas contas do executivo.
No México, onde a empresa resolveu em fevereiro congelar planos para a construção de uma usina de aços especiais de US$600 milhões voltada ao setor automotivo, Werneck afirmou que a empresa não vai “tirar da gaveta” o projeto logo após a revisão do acordo comercial entre EUA, México e Canadá, o USMCA, em 2026.
Segundo ele, “temos que ser cautelosos numa decisão dessas de colocar um valor relevante que depois pode nos criar lentidão em outras alocações de capital que acharmos mais relevantes”.
Voltando ao Brasil, Japur afirmou que os resultados da empresa não “atingiram um piso” após a fraqueza do terceiro trimestre, diante da sazonalidade dos três últimos meses do ano. A empresa também deve realizar algumas paradas de manutenção de instalações no período no país, disse o executivo.
Para o ano que vem, Werneck afirmou que as operações brasileiras devem apresentar desempenho melhor que este ano, por meio de “alguns ganhos adicionais de performance” e pela entrada em operação do projeto de mineração da empresa em Minas Gerais, cujo minério de alta concentração de ferro (65%) ajudará em redução de custos de carvão e produzirá excedente para venda a terceiros. O projeto está em fase pré-operacional com início de operação previsto para o atual trimestre. “Vai trazer benefício importante para nosso Ebitda”, afirmou. Atualmente, a produção de minério da Gerdau é para consumo próprio na usina de Ouro Branco (MG).
