21/06/2018 - 16:00
A Operação Pedra no Caminho, deflagrada nesta quinta-feira, 21, pela Polícia Federal e pela força-tarefa da Lava Jato em São Paulo, foi impulsionada pelas revelações de duas testemunhas importantes: João Bosco Gomides, funcionário de empresa ligada à construção do Trecho Norte do Rodoanel, e o engenheiro Emílio Urbano Squarcina, ex-gerente de Obras da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A). Os dois procuraram a Polícia Federal e o Ministério Público Federal para relatar suspeitas de fraudes milionárias nas obras.
Emílio Squarcina foi gerente de Obras da empresa até 2015, quando foi afastado por não concordar com alterações em contratos e ajustes em valores. Sua função era coordenar os fiscais de cada lote das obras do Rodoanel.
“Ele teria que assinar os novos aditivos. Ele teria participação na assinatura desses novos aditivos. Constatando que eram aditivos fraudulentos, desnecessários, ele se negou a assinar”, relatou a procuradora da República Thaméa Danelon, da força-tarefa da Lava Jato.
Segundo o Ministério Público Federal, Squarcina foi remetido a outro setor após ter prestado depoimento à PF e ao MPF.
“Ele se recusou a assinar. Ele ainda estava no setor, vai ao MPF e até a PF e na sequência ele é afastado do cargo, é designado para outro setor, não mais o setor de engenharia”, revelou a procuradora da República Anamara Osório da Silva. “Por isso a importância da denúncia dele, porque é uma pessoa que tem conhecimento dos fatos”.
Se tivesse assinado os aditivos supostamente fraudulentos, Emilio Squarcina poderia ser um dos alvos da Pedra no Caminho. De acordo com a representação da Polícia Federal pela autorização das prisões e buscas e apreensões, o engenheiro “vinculou os aditivos contratuais ao alto porcentual de desconto oferecido pelas empreiteiras, quando da celebração dos contratos, em relação ao valor do edital, cerca de 30 a 35”.
“Assim, segundo Emílio, as empresas tiveram dificuldades para executar a obra pelo preço proposto, razão pela qual surgiram os aditivos”.
Na avaliação da procuradora Thaméa Danelon, a denúncia de Emílio e de João “agilizou o início das investigações”.
“Se, por um lado, a gente sabe que tem uma impunidade desenfreada, que tem pessoas que não se intimidam com os processos que estão em andamento, é bom salientar que tem pessoas que não concordam com essas práticas e a importância que essas pessoas cheguem aos órgãos de investigação, a PF e o MPF, faz com que nós possamos trabalhar em conjunto e ter um resultado mais efetivo e interromper uma prática que está em andamento”, afirmou.
Para Anamara Osório, Emílio e João “são pessoas que acreditam na Justiça brasileira”.
“Isso demonstra um comportamento que está mudando, uma cultura de honestidade. Ninguém mais quer ver desvio de dinheiro público. De uns anos para cá isso tem aumentado. Isso engrandece todos nós, porque percebemos que ninguém mais deseja essa corrupção”, declarou.