Se existe um adjetivo para qualificar o empresário German Efromovich é polêmico. Despojado, irreverente e sem papas na língua, esse boliviano naturalizado brasileiro já comprou brigas homéricas com outros homens de negócios, como Nelson Tanure, e até com poderosos gigantes corporativos, como a Petrobras, com a qual trava disputas judiciais bilionárias. Com esse estilo, Efromovich ergueu um grupo empresarial de US$ 3,7 bilhões.

Agora, ele acaba de entrar em outro terreno pantanoso. Na segunda-feira 12, anunciou que sua companhia aérea nacional, a OceanAir, montaria uma operação para transportar os 70 mil passageiros que ficaram no chão após a suspensão das atividades da BRA.

De uma só tacada, assumiu os aviões, as rotas e o compromisso de atender os clientes com passagens já compradas. Só não aceitou adquirir a BRA. ?O brigadeiro Allemander (Allemander Jesus Pereira Filho, conselheiro da Anac) me ligou e disse: ?O que a OceanAir pode fazer para cooperar com o governo e os cidadãos?? Fui sincero: ?Podemos ajudar, desde que a OceanAir não tenha que abraçar o afogado nem se contamine com um problema que não é dela??, conta o empresário em entrevista à DINHEIRO (leia os principais trechos ao lado).

Com essa decisão, Efromovich assume um papel crucial na aviação comercial brasileira: ele pode ser uma primeira contrapartida ao duopólio de TAM e Gol, que se instalou no mercado desde que Transbrasil, Vasp e Varig deixaram de voar. Isso é bem visto pelo governo e pela Anac, que têm se desgastado com a falta de alternativas no setor. A questão é: por que ele teria mais sorte nessa empreitada do que outros que tentaram e se deram mal, como Humberto Folegatti, da BRA? O empresário possui mais fôlego financeiro, seria uma resposta. Outra: ele já conhece o setor e possui escala suficiente para enfrentar esse jogo.

Mais: seu grupo empresarial, o Synergy, é capitalizado, diversificado e atua em setores estratégicos e aquecidos. Sob seu comando, por exemplo, encontra- se a Avianca, a empresa aérea da Colômbia e a mais antiga em atividade contínua no mundo. No Equador, é dono da VIP, que opera linhas regionais. Isso lhe dá um razoável poder de barganha para negociar com fornecedo res e empresas de leasing de aviões. Os negócios também se expandem pelo setor petrolífero, onde controla os estaleiros Mauá-Jurong e Eisa, e a Marítima, especializada em inspeção submarina, engenharia e empreendimentos offshore, com atuação no Brasil, na Colômbia e no Equador. Mas seu carro-chefe é mesmo a Petrosynergy, que prospecta e explora petróleo em 22 bacias no País. ?Ele atua numa esfera que privilegia a produção em terra. É uma operação mais barata e de menor escala, com um diferencial: há muito mercado a explorar?, avalia Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura.

Quem conhece Efromovich o descreve como um homem de oportunidades que não tem necessariamente uma postura pró-ativa. ?O German busca brechas sempre que elas aparecem?, afirma uma dessas pessoas. O caso da BRA é um indicativo. No momento em que faltam aviões no mercado, o empresário conseguiu que as empresas de leasing transferissem à OceanAir os contratos de sete Boeing 737 e um Boeing 767 da frota da congênere paralisada. ?Elas me disseram que a OceanAir pode ficar com as aeronaves, desde que a BRA não crie empecilho?, confirma Efromovich. O empresário aposta na experiência acumulada com a Avianca. ?Pegamos a Avianca quebrada em 2004 e nós a recuperamos.? O governo colombiano aplaudiu. Na segunda-feira 12, Efromovich recebeu o prêmio ?Colombia es passion?, conferido a empresários que colaboram para o desenvolvimento do país. No ano passado, o premiado foi Bill Clinton. A partir de 2008, a OceanAir mudará seu nome para Avianca e investirá no transporte aéreo de cargas. Numa outra empreitada, estreará na agroindústria. ?Acabamos de comprar uma área na Colômbia. Estamos estudando a terra para saber se é possível entrar em biodiesel. Compramos também uma fazenda de café?, anuncia. O mercado estima um investimento inicial de US$ 200 milhões em biocombustíveis e crédito de carbono. No médio prazo, Efromovich quer criar uma espécie de império pan-sulamericano. Adepto do termo ?tupiniquim?, dá o aviso aos norte-americanos e europeus: ?Se as multinacionais podem fazer bem aqui dentro, nós temos a mesma capacidade de fazer bem na casa deles. Podemos ir lá e fazer o que qualquer gringo faz?, diz, em tom desafiador. Esse é o estilo de Efromovich, o curinga do universo corporativo.

?NÃO VAMOS ABRAÇAR O AFOGADO?

Como foi o acordo com Humberto Folegatti (presidente da BRA)?
Qual acordo? O acordo é o seguinte: um belo dia, ele acorda e decide: ?Eu não vou voar mais.? Perfeito, para ele. E os 70 mil passageiros?

É verdade que as autoridades o procuraram?
O brigadeiro Allemander (Allemander Jesus Pereira Filho) me ligou e disse: ?O que a OceanAir pode fazer para cooperar com o governo e os cidadãos?? Eu fui sincero: ?Podemos ajudar, desde que a OceanAir não entre na situação de abraçar o afogado nem se contamine com um problema que não é dela.? A partir daí, montamos toda a estrutura.

Como a operação está sendo conduzida?
No final de semana, fizemos 121 vôos extras, para atender os seis mil passageiros da BRA. O governo trabalhou ao nosso lado o tempo todo. Com cooperação total, telefones à disposição. Eu te confesso que fiquei impressionado vendo as pessoas trabalhando dia e noite. Por isso, tudo transcorreu bem, não houve tumulto. A Anac me surpreendeu.

E quanto à BRA?
Ontem, ouvi um diretor da BRA dizendo que a OceanAir tem obrigação de atender os passageiros. Eu reafirmo: não temos obrigação nenhuma. A partir do momento que a BRA assinar o acordo liberando as aeronaves, garantindo que não vai criar nenhum artifício jurídico para a transição, em um acordo amigável, eu passo a ter obrigação.

A OceanAir vai reforçar a frota com aviões da BRA?
Conversei com as empresas de leasing e me disseram que a OceanAir pode ficar com as aeronaves. Que, por elas, não tem problema nenhum, desde que a BRA não crie nenhum empecilho?.

As rotas das duas empresas se complementam?
Para efeitos de malha, as nossas linhas eram similares às da BRA, mas vamos entrar onde não estávamos.

Que lições aprendeu com o caso da Avianca?
Pegamos a Avianca quebrada. No dia que compramos, ela não aguentaria dez dias e nós a recuperamos. Ao contrário do que fizeram no Brasil, que foi uma farsa. Estou envergonhado com o que fizeram com a Varig.

Qual foi a fórmula para a recuperação?
Parcelamos a dívida de US$ 400 milhões em duas partes com os credores na corte de Nova York. Uma para pagarmos em sete anos e a outra em 12. Com os bons resultados da Avianca, terminaremos de pagar a primeira no ano que vem e a segunda em quatro anos.

US$ 3,7 BILHÕES é o fautramento do Grupo Synergy, de German Efromovich

Quais os planos futuros do grupo Synergy?
Somos um grupo brasileiro que se espalhou pelo mundo. Estamos no petróleo, na construção naval e vamos entrar na agroindústria. Acabamos de comprar uma área na Colômbia. Estamos estudando a terra para saber o que dá para plantar. Se dá para entrarmos em biodiesel. Compramos também uma fazenda de café.

Os diversos negócios de german

AVIAÇÃO
Avianca
Companhia aérea nacional da Colômbia

OceanAir
Terceira maior empresa aérea do Brasil

VIP
Companhia regional do Equador

ENGENHARIA
Mauá-Jurong

O único estaleiro de grande porte instalado na Baía de Guanabara

Marítima
Subsidiária de inspeção submarina, engenharia e empreendimentos offshore

SETOR PETROLÍFERO
Petrosynergy
Empresa de prospecção e exploração de petróleo

OUTROS
Biocombustíveis e crédito de carbono

Grupo pretende investir US$ 200 milhões

Café
Compra de uma fazenda na Colômbia

NASCE UMA NOVA PROMESSA
Até a semana passada, pouca gente fora do interior conhecia a TRIP LINHAS AÉREAS e seu dono, o empresário José Mário Caprioli, cuja família prosperou por meio da empresa de ônibus Caprioli Turismo. Pois na terça-feira 13, a empresa de aviação regional anunciou a incorporação da malha aérea da concorrente TOTAL, criando a maior companhia da categoria na América Latina. ?Atendemos juntos 63 municípios. É a maior malha brasileira?, afirma Caprioli em entrevista à DINHEIRO. ?Nosso objetivo e foco são exclusivamente a operação de aviação regional de passageiros. Não queremos ser mais uma bandeira na ponte aérea, mesmo que haja essa possibilidade.?

O grupo conta com 17 aviões ATR 42, econômicos e de fácil operação em pistas curtas. Com investimentos de US$ 200 milhões, incorporarão mais 23 unidades nos próximos três anos. O potencial do segmento de média e baixa demanda é enorme num país de dimensões continentais como o Brasil. Basta ter em conta que o segmento representa 20% de market share nos Estados Unidos. Aqui, ainda não passa de 2%. ?O País carece de rodovias e não tem sistema ferroviário.

É essa janela de negócios que queremos explorar?, continua o empresário.